Wednesday, February 27, 2013

"Farewell, a long farewell, to all my greatness! "

 
"Farewell! a long farewell, to all my greatness!"

A resignação de um Papa, que é eleito para a vida e para a morte, deve ser tarefa difícil, e que todos temos de perceber. Sobretudo quando também a Coragem e a Honestidade religiosa e intelectual determinam essa resignação.
Joseph Ratzinger é, além de grande pensador e teólogo, honesto. Ele sabe que a "Barca de S.Pedro" - como lhe chama - carece de homens quase nús para a faina da pesca, isto é despojados das riquezas materiais, de jogos de poder, de incongruências, de infecções morais, poderia acrescentar mais maldades.
Joseph Ratzinger, um papa que compreendeu tão bem o Jesus de Nazaré, não pode suportar o jugo da Cúria. Seria esta quem deveria resignar ou até a própria Igreja Católica, a das riquezas e a dos escândalos, bem entendido.
O Cardeal Wolsey, na peça Henry VIII, de Shakespeare, despediu-se assim: "Adeus, um longo adeus, para toda a minha grandeza!"

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Friday, February 22, 2013

VEIO O FILHO DO HOMEM




Abraçava os rotos e os sem
abrigo, que tinham apenas o corpo
os leprosos
e os sem luz, a quem limpava dos olhos
o lodo
Dos publicanos encarava a casa
como sua e aceitava
o perfume do bálsamo a voar nos seus cabelos
Escreveu no chão palavras que o silêncio
não consome, de quem ama o que criou
E deu a sua vida pelas ruínas do homem.

22/2/2013

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Friday, February 15, 2013

O raio e o meteoro



Um meteoro nos Urais (ex-União Soviética) e um raio na catedral de São Pedro ( no Vaticano), prova que o Céu não tem favoritos nem predestinados.


Monday, February 11, 2013

Resignação de Joseph Ratzinger, pelo próprio



« Queridísimos hermanos,
Os he convocado a este Consistorio, no sólo para las tres causas de canonización, sino también para comunicaros una decisión de gran importancia para la vida de la Iglesia. Después de haber examinado ante Dios reiteradamente mi conciencia, he llegado a la certeza de que, por la edad avanzada, ya no tengo fuerzas para ejercer adecuadamente el ministerio petrino. Soy muy consciente de que este ministerio, por su naturaleza espiritual, debe ser llevado a cabo no únicamente con obras y palabras, sino también y en no menor grado sufriendo y rezando. Sin embargo, en el mundo de hoy, sujeto a rápidas transformaciones y sacudido por cuestiones de gran relieve para la vida de la fe, para gobernar la barca de san Pedro y anunciar el Evangelio, es necesario también el vigor tanto del cuerpo como del espíritu, vigor que, en los últimos meses, ha disminuido en mí de tal forma que he de reconocer mi incapacidad para ejercer bien el ministerio que me fue encomendado. Por esto, siendo muy consciente de la seriedad de este acto, con plena libertad, declaro que renuncio al ministerio de Obispo de Roma, Sucesor de San Pedro, que me fue confiado por medio de los Cardenales el 19 de abril de 2005, de forma que, desde el 28 de febrero de 2013, a las 20.00 horas, la sede de Roma, la sede de San Pedro, quedará vacante y deberá ser convocado, por medio de quien tiene competencias, el cónclave para la elección del nuevo Sumo Pontífice.
Queridísimos hermanos, os doy las gracias de corazón por todo el amor y el trabajo con que habéis llevado junto a mí el peso de mi ministerio, y pido perdón por todos mis defectos. Ahora, confiamos la Iglesia al cuidado de su Sumo Pastor, Nuestro Señor Jesucristo, y suplicamos a María, su Santa Madre, que asista con su materna bondad a los Padres Cardenales al elegir el nuevo Sumo Pontífice. Por lo que a mi respecta, también en el futuro, quisiera servir de todo corazón a la Santa Iglesia de Dios con una vida dedicada a la plegaria.

Vaticano, 10 de febrero 2013

BENEDICTUS PP. XVI »

in imprensa espanhola ( el diario.es )

Friday, February 08, 2013

LUGAR SANTO



Doce o perfume tecido nas asas dos querubins,
Do candelabro a luz cai nos dedos daquele que adora
e a canção se solta como agua cristalina
derramada na bacia - Reflexo do rosto de Deus;
Entre os panos da tenda o sopro do deserto dança no incensário
Na mesa o cheiro do pão alinhado é promessa.
E eu como, e o sabor da farinha sem fermento
devolve-me palavras de um poema
escrito no principio do mundo .

Jan . 2013

Clélia Mendes

Sunday, February 03, 2013

O MURO

O Muro das Lamentações é uma oração
em comprimento e altura, deitada
nos buracos vazios do silêncio
ao contrário do Buda deitado o Muro
não brilha, o Muro
é devorado pelos olhos dos turistas
o Muro descarga sobre o mundo
toneladas de pedra, e vozes
ouvem-se junto de Deus em papéis.

3/2/2013
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Friday, February 01, 2013

CONTO: ÁRVORE NO FIM DO CAMINHO


 
As folhas verdes foram partindo pelas nervuras. Rangiam os ramos sob o meu peso como um aviso. Eu não tinha nenhum padrão de altura que achasse inacessível, só o facto de ser de pequena estatura. Por isso subi à árvore. Vistos lá de cima, os homens eram todos do mesmo tamanho.

-Que estás a fazer aí em cima? - foi uma voz de baixo, inqualificável, que ouvi, entre risos que mal disfarçavam o escárnio.

Mais tarde recordar-se-ia de tudo isso – disse-me passados muitos anos.

Zaqueu foi sempre um mau amigo e não andava nunca empenhado em auxiliar os outros.
Números apenas que concorriam para a sua riqueza, era o que pensava dos outros. E contribuintes.
Mas nesse dia aventurou-se a sair de casa e a meter-se no meio da multidão. Um publicano não era nobre na sua terra. Era rico. Os seus vestidos, bastante compridos e de bom linho, não estavam preparados para subir às árvores, emaranhavam-se nos ramos e ficavam sujos de pó. Ninguém estava a entender aquela atitude. Era por certo má vontade das pessoas de Jericó acerca de Zaqueu, porque afinal a multidão procurava a mesma coisa.

-É lamentável, subir a uma figueira! - e o murmúrio era quase inaudível. É certo que a multidão estava agitada, mas mesmo assim podia-se escutar as críticas irónicas dos que estavam sob a árvore. - Se ele caísse, era bem feito – isto ouviu-se distintamente.

Tiveram oportunidade para o insultar. Contudo, só lhe disseram que viria aí um profeta ou o messias e que ele era um pecador e um publicano e que se tivesse vergonha nem sequer estaria ali.

Mas Zaqueu não se importava com o que ia ouvindo, mostrava-se, isso sim, afoito. Nem uma vez se desequilibrou, nem sacudiu o pó das roupas. Via-se que era importante para ele estar ali.

-Zaqueu subiu àquela figueira brava e recusa-se terminantemente a descer- foram dizer aos serviços dos impostos e à sua própria casa, à esposa. Esta achou muito estranha a atitude do marido.

O rumor da novidade vinha dos lados da entrada da cidade. Há anos que aquela porta e aquelas pedras não eram cruzadas por alguém importante. Ouviam-se ao longe louvores, falava-se de que houvera um milagre. Um cego conhecido recuperara a visão. Lá para a entrada, ou no caminho, não se sabia ainda muito bem onde, houve um milagre.

Um milagre naqueles dias, de poeira e calor intenso nos caminhos, não importava o tempo que fizesse, fazia aglomerar muita gente. Estava ávida de qualquer coisa sobrenatural que viesse dos céus, essa gente não suportava já as asperezas da terra.

Tenha sido ou não um dos que O acompanhavam, uma dúzia de pessoas, vinte ou o vozeario inconfidente da multidão, a divulgar o nome, nunca se soube. Chamavam-lhe Jesus. Oriundo da Nazaré, era novo, tinha pouco mais de 30 anos, exibia um vigor de quem poderia viver até à velhice; alto e com uma tez escura, os seus olhos tinha a cor da bondade; as vestes estavam a meio caminho entre as de Salomão e a beleza dos lírios.

Os olhos de Zaqueu foram abrindo caminho entre a multidão, e do cimo da árvore não era difícil perceber quem seria Jesus, pois este distinguia-se pela maneira como a gente mais próxima o rodeava.

- Zaqueu – e o seu nome pronunciado por Jesus, desnudou-o, como se estivesse a descrever perante os mais próximos a necessidade de Zaqueu – desce depressa porque convém-me visitar-te hoje”.

-Eu?- pronunciou esse eu com o medo de estar a descobrir uma grande dúvida sobre si próprio. Desceu uns ramos e saltou contente e cheio de vigor para o chão.

Daí a muitos anos, muito tempo depois daquela Páscoa, Zaqueu, que já não poderia subir a nenhuma árvore, lembrava-se desse dia. ©