Friday, August 18, 2006

Dos touros de Lascaux ao cavalo de Guernica

Dos touros rupestres de Lascaux, com a sua semiologia, ao cavalo germinal e ao touro tutelar da Guernica, de Picasso, a distância é longa, de facto, e seria de anos-luz se estivéssemos a tratar meios comunicacionais entre galáxias diferentes. A verdade é que essa comunicação apresenta-se com sinais da mesma entidade, o ser humano, que comunica entre si num mesmo lugar que é a Terra.

Com efeito, estamos diante dos sinais do homem, desde as grutas de Lascaux, onde a riqueza dos signos convoca o estudo dos mesmos pela semiótica, até ao Centro de Arte Reina Sofia, onde a Guernica continua a fazer recuperar uma história trágica da Espanha e dos seus povos, história contemporânea e viva ainda em inúmeras memórias septagenárias.

Os contemporâneos de Lascaux, como quaisquer outros habitantes de cavernas do Paleolítico, conheciam o que hoje modernamente se pretende ignorar: a distinção dos géneros, do masculino e do feminino, eles não trocavam nem promíscuiam a beleza da humanidade composta de mulher e homem. O seu conceito de família era rigoroso, os meios usados para a procriação estavam bem definidos e bem representados, com a precisão simbólica que a capacidade artística para o desenho na pedra permitia. O símbolo fálico do homem e os símbolos ovais para representar a mulher não se misturavam nas paredes das cavernas. Seria uma arte da animalidade, como se lhe chamou, mas a sua leitura semiológica - a interpretação dos sinais - nesses desenhos eram o símbolo do homem e da mulher, do pai e da mãe, eram a representação do núcleo fundamental que é a família.

Os impedimentos para a depravação entre homens e mulheres estavam até graficamente delimitados, a viagem intergaláctica de Sodoma para Roma, através de muitos séculos de maus costumes, não está documentada graficamente como um historial de sentimentos reprováveis e sórdidos. O que a chamada arte parietal, as gravuras nas paredes das cavernas, distinguia, o macho e a fêmea nos seus devidos lugares, milénios depois viria a ser normativo na Bíblia Sagrada. Designadamente nas Cartas de Paulo - a Epístola aos Romanos - onde as paixões infames, a mudança do modo natural das relações íntimas, as inflamações da sensualidade orientadas para o mesmo sexo, são identificadas pelo apóstolo já numa cultura a meio-caminho entre o clássico e a modernidade, comparativamente à época pré-histórica.

Com efeito, Paulo impreca os não-crentes, os ímpios, que supondo serem sábios, com cultura, enveredaram por descaminhos de perversão, sobretudo sexual, contra a própria natureza da intimidade humana, na relação homem-mulher. Sob a luz que ilumina o modo como o homem se perverteu e desviou da correcta adoração a Deus, submetem-se também os desvios dos instintos correctos com os quais o ser humano foi dotado. Alguém escreveu, em comentário de Bíblia de Estudo, que «O efeito da perversão da adoração instintiva a Deus é a perversão de outros instintos, que se afastam de suas funções apropriadas. As Escrituras encaram todos os actos homossexuais sob essa luz. A consequência é a degradação do corpo.» A desintegração daquilo que é verdadeiramente «natural», parecendo ser um produto da cultura e das sociedades urbanas, altamente desinibidas na contemporaneidade, é, portanto, fruto do desvio do homem em relação a Deus.

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