A última crónica que o Florentino Lavrador escreveu no seu Allahu Akbar!, em Abidjan, Costa do Marfim.
"Gostaria de viver à "tripa-forra" como qualquer pessoa no mundo, mas não vivo, e nem isso me dá pena. Li num livro muito interessante que "uns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós faremos menção do Senhor dos Exércitos". Foi por esta regra que quis pautar a minha vida sem sempre o conseguir...realizado? de modo nenhum. Enquanto existirem crentes chiques sentados nas igrejas e homens miseráveis sem haver ninguém que lhes fale do evangelho não estarei, repito, de modo nenhum, realizado!»
Morreu ontem, com um tumor cerebral fulminante. Até já, Poeta.
Outra crónica, de 13 de Maio:
«Depois de alguns dias de chuva intensa acalmou-se o céu e o calor imenso tornou ao seu lugar. As ruas parecem-me agora mais lavadas e simpáticas e até as pessoas aparentam um ar mais feliz. Saímos para evangelizar como habitualmente e foi-me mister apanhar um transporte público. Depois de muito esperar alguém tomou o meu lugar no « woroworo » amarelo. Não me apeteceu reclamar mas o meu companheiro não hesitou em fazê-lo. Pedi-lhe por favor para se acalmar pois decidi desde algum tempo não tecer juízos de valor. Ele olhou-me espantado tentando compreender a minha “loucura”. Não sei se estou a ficar mais maduro ou mais paciente mas sei que estou a ficar mais velho. Deve ser isso, a idade a fazer das suas!»
3 comments:
Triste fato, amigo, por um guerreiro que deixa o campo (onde milhares se recusam a lutar), mas ao mesmo tempo feliz, pelo descanço e recompensa de ele estar no gozo do Senhor.
Gostaria de ter tido mais contato com o irmão, mas não foi possível.
Um dia lá em cima...
Foi aqui que tomei conhecimento desta
triste notícia,nunca pensei que fosse
assim tão rápido. Acabaram-se as notícias de Abidjan,ficam-me as recordaçôes da nossa infância e o livro que escreveste (quando o encontrar).
Descansa em paz meu grande amigo.
As minhas sinceras condolências para toda a família
Nem imagina o quanto esta notícia triste mexeu comigo!
Conheci-o há muitos anos atrás e sempre o trouxe comigo nas lembranças que me devolviam a paz que em certas alturas da minha vida não tinha...
Porque só hoje o soube, foi hoje também que lhe fiz uma singela mas sentida homenagem, lá no meu cantinho.
Acredito que morreu tranquilo e a sua alma finalmente encontrou a paz e a serenidade que merecia.
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