Tuesday, March 30, 2010

O chavão da “sã doutrina”


“Cristo não foi essencialmente professor, legislador, mas ser humano, ser humano real como nós. Por isso, ele não quer que em nosso tempo sejamos alunos, representantes ou defensores de determinada doutrina, mas seres humanos, seres humanos reais perante Deus.” (Dietrich Bonhoeffer)

Jesus Cristo não veio a este mundo para ensinar uma doutrina em particular mas sim para reconciliar os homens com o Pai.Não vemos o Mestre de Israel alimentar discussões teológicas com os teólogos da época. A única vez que terá discutido doutrina e teologia com os doutores da Lei terá sido aos doze anos, aquando da visita a Jerusalém e mesmo aí as Escrituras não registam o teor da argumentação, pelo que a mesma será irrelevante para nós (Lc 2:41-47).Sejamos claros, a doutrina não é uma vaca sagrada. Desmistifiquemos esse mito.


A doutrina é sobretudo uma questão de identidade

Todo o ser humano dispõe de uma identidade. Ela implica características distintivas, que não só o distinguem de outros cidadãos como lhe conferem um sentido próprio e muito pessoal. A arquitectura estética e conceptual do indivíduo, as suas origens, a sua história de vida, o seu self, fazem dele uma pessoa única e irrepetível.É claro que alguns gostos, vocações e características pessoais não são exclusivas daquele dado indivíduo, o que lhe permite a identificação de grupo ou comunitária com outros seus semelhantes. Mas até estes aspectos, digamos, mais sociais, ajudam a definir a sua singularidade. Por exemplo, um jogador de futebol não é igual, apesar de tudo aos seus colegas, embora possa ter a mesma nacionalidade, idade, naturalidade, clube ou posição de jogo. Será sempre um jogador diferente de todos os outros, e nesse sentido, único.

(...)

A doutrina não salva ninguém

Apesar de parecer redundante, talvez não seja má ideia relembrar que o nosso Salvador é Cristo e não a Cristologia (doutrina de Cristo). Logo, a doutrina não salva ninguém.Ela é, antes de mais, um sistema organizado de fé e crenças que confere um sentido à dimensão espiritual do indivíduo e da comunidade de fé em que se insere. A doutrina organiza as minhas convicções, oferece-me uma dada cosmovisão espiritual, mas não mais do que isso.


Artigo essencial do dr.Brissos Lino. Ler na íntegra Aqui

Saturday, March 27, 2010

Eu espalhei meu coração sob os Teus pés


Eu tenho espalhado os meus sonhos sob os teus pés
Por isso, pise suavemente;
Afinal, está pisando os meus sonhos.
W.B.Yeats


É sob os teus pés que os meus sonhos
mais resplendem, como o sol
que me chega na vastidão do azul
são teus pés sobre meus sonhos
iluminam as zonas de sombra
dão-lhes texturas de ouro
cada sonho uma esmeralda
que é a lágrima verde
do fogo
Dão discernimento aos meus sonhos
os teus pés, tornam-se bússolas
metendo-os na direcção do norte
apaziguam ímpetos, durezas
de pedra nos meus sonhos tornam-se
algodão, os meus sonhos sob os teus pés
não estão no chão, tão-pouco
no ar, espalhados sob os teus pés
são apenas o meu coração.


27/3/2010

Thursday, March 18, 2010

As costas de Deus

«Rogo-te que me mostres a tua glória», solicitou Moisés a Y'hôvâh, numa temperatura espiritual em crescendo que o encorajou, depois de estar com o Senhor, de Lhe falar face a face e ter ouvido que a «presença» divina subiria com ele e com o povo. Lemos no livro do Exôdo, 33.

E o diálogo, na verdade mais monólogo divino que diálogo, que se estabeleceu seguidamente, integra-se numa das cenas mais misteriosas descritas no Velho Testamento. Um escol de comentadores e hermeneutas teológicos, da linha fundamentalista, num trabalho de síntese com o Comentario Exegetico y Explicativo de la Biblia, lograram expressar o estado espiritual e psicologicamente motivado de Moisés ao escreverem que «ele teve, para seu consolo e alento, uma manifestação explêndida e completa da majestade divina, não no seu brilho sem véu, mas até onde admitiria a debilidade humana.»

Houve uma certa inocência no pedido de Moisés. Não sabia o que estava a pedir.
Moisés no plano restrito da história, da sua história e do povo de hebreu, estava a pedir a eternidade, a figura real da eternidade, o Absoluto. Queria ver a glória divina.
De facto, não estava a solicitar uma imagem. Depois de ver a sarça, e o fogo no Sinai,
a simbologia, queria ver a Pessoa.

O que Moisés pediu só poderia ser respondido em sentido figurado, por isso o rosto, as mãos, as costas de Deus devem ser entendidas figurativamente. Rosto, mão, costas, uma semiologia teológica para Deus

O autor bíblico Javeísta (como Harold Bloom gosta de lhe chamar em O Cânone Ocidental) só pode cingir-se ao diálogo entre Y'hôvâh e o próprio Moisés; hoje, para esse desiderato de uma alegado encontro com e de uma «visão» consentida do Divino, escrever-se-iam cerca de 245 páginas sobre uma qualquer «Cabana».

O Tópos Preciso
O lugar necessário para a satisfação do pedido de Moisés havia de corresponder não à poética do momento, ver Deus, mas à dureza pétrea da geografia física e à humanidade, isto é, as limitações para conter a totalidade da Glória do Divino, com a Sua presença em plenitude.

O lugar era abrupto, pétreo, montanhoso, uma penha numa das rochas do Monte Sinai, um refúgio, ainda assim, como narra o texto bíblico, um tópos junto da Divindade. O Senhor disse a Moisés: « Eis aqui um lugar junto a mim; ali te porás sobre a penha».

Há outras experiências no Velho Testamento quanto a lugares (tópos) abruptos, sem beleza, nada idílicos nem estrutura poética, nos quais o Senhor dialogou com alguns Servos, o caso de Moisés e o de Elias, numa caverna.

É preciso que seja marcada definitivamente a diferença entre a Presença e o lugar, a manifestação de Deus e o espaço onde se manifesta, a majestade e a limitação.
O Céu, como a habitação divina, e a Terra como pertença temporária do ser humano, não são da mesma substância, um lugar é da matéria, o outro é etéreo. Um lugar pode ser medido, o outro desde a mecânica celeste até ao inefável não o pode ser jamais.

As costas de Deus
As costas de Deus, é um modo de dizer, seriam como a esfera de Parménides, não têm ponto algum localizável aos olhos humanos, são como o próprio Deus, são a Sua eternidade, sem espaço e sem tempo. Deus está cheio do que É. Por falar naquele filósofo de Eléia, não sei se tinha um conhecimento teológio de Deus, mas disse-O como Deus é: Ser-Absoluto. E indagou: - «Como poderia ser gerado? E como poderia perecer depois disso? Assim a geração se extingue e a destruição é impensável. Também não é divisível, pois que é homogêneo, nem é mais aqui e menos além, o que lhe impediria a coesão, mas tudo está cheio do que é.»

À maneira da massa de uma esfera bem rotunda, em equilíbrio a partir do centro, em todas as direções, o Senhor Deus pois não pode ser algo mais aqui e algo menos ali.Mas o autor canónico e histórico do livro do Exôdo, autor em causa própria, foi muito mais simplíce e acessível ao narrar-nos o seu diálogo com Y'hôvâh, referindo que o Senhor se deixaria ver «pelas costas». O próprio termo hebraico dá-nos essa dimensão de um antropomorfismo compreensível ao ser humano, ao empregar a palavra 'áchor 'áchor, a qual quer significar em sentido lato a parte posterior de alguém ou alguma coisa. E não podemos dizer muito mais.

Ver Deus de costas é tudo o que podemos ver dEle, numa perspectiva do Velho Testamento. No Novo esta agonia que sempre acompanhou o homem, ver «o Deus invisível», é eliminada perante a expressa realidade do Filho, como assevera um possível hino cristão primitivo na Carta de Paulo aos Colossenses (I,15-20): «o Filho do seu amor, o qual é a imagem do Deus Invisível, o primogénito de toda a criação».

Monday, March 08, 2010

«Bíblia Dake»

Documento importante sobre a chamada «Bíblia Dake», que aqui consideramos «Fake»
Ler neste sítio