Sunday, November 27, 2016

POESIA DE CARLA JÚLIA





Acordei
As portas do rosto
Me traziam o mar
A imensa ausência de ser
Então as portas se fecharam
E o mar se fez em mim
Regurgitando em minhas pálpebras
Como se tivesse perdido a âncora da vida.



NOÉ

Rótulos do tempo
Tomados aos bocados por seus cabelos
Em seus olhos cabia apenas o dilúvio
Que lhe envolvia
Como pescador de lembranças.
Nas entranhas da tenda
Se desfazia dos nós da vida
Entre os cachos de vinho
Que não guardaram a nudez de sua euforia.


NO TEU SILÊNCIO

Como se o vazio se pudesse explicar
Tento eu escrever este poema
Lançando pedras no rio
Da imaginação
Para por um instante crer que estás aqui
Ou ali, estendendo o olhar em um fio de amor
Para que te veja e retorne com um riso...
Mas no final a pedra afunda
E eu continuo aqui
Tentando reescrever o poema
Que no baú da graça deixei.




© Poemas de Carla Júlia, Maputo, Moçambique

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