Entre urzes e pedras as rotinas
pastoreio, minha vara e meu cajado
o chão levantam, ruminam
como se tivessem as ovelhas
na boca palavras intangíveis
Agora olharei a sarça que se abre
numa visão esculpida no arbusto
que se abre ao lume
que treme ao vento
a sarça onde só o fogo arde
Lanço de longe o olhar
para o crepitar do silêncio
Está Deus a tecer a sarça
no seu lume rendilhado
como nas mãos invisíveis?
Está a sarça a tecer o divino
sinal que o Senhor envia
ao vegetal indigno
Doem-me os olhos
nas cicatrizes da sarça
mas olho e a minha alma
se alumia, olho e tanto milagre
acende nos meus olhos
os cristais da alegria.
4-2004
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