Thursday, September 22, 2011

O VERBO NÃO SE FEZ APENAS CARNE

A afirmação joanina “o Verbo se fez carne”, no Prólogo do seu Evangelho, é uma declaração teológica, primordial, cristológica obviamente, do mesmo modo que é, em seguida, antropológica.

Toda a asserção vai no sentido de nos fazer entender que o Verbo não apenas se fez carne, mas tomou também a forma inefável dos sentimentos do homem. Não se reconhecia esta verdade no próprio século de Jesus Cristo, quando os docéticos oriundos do gnosticismo afirmavam que Cristo era um espírito apenas, quando não um fantasma, sem carne, com um corpo aparente, negando-Lhe assim a humanidade.

O facto incontroverso, é que o Verbo habitou entre nós, em toda a extensão do Ser, não obstante sem pecado.

O “habitar” entre nós do Evangelho de João não foi por motivos exteriores, uma morada geográfica, numa cidade ou numa vila, numa casa, num quarto, um bilhete de identidade que a administração do território exige; o “habitar” é meta-histórico, era algo que, no grego, brotava do significado “tenda”, ou “tabernáculo”, vocábulo que o apóstolo Paulo elevara à categoria do simbólico, da metáfora de “corpo” na sua segunda epístola aos coríntios, que, como é sabido, é anterior ao evangelho joanino.

Veio para o que era seu
«Cristo não veio ao inferno, mas ao “que era seu”», esta formulação feliz dá-nos a dimensão do mundo (cosmos) que Deus amou.  O teólogo Dietrich Bonhoeffer, mártir cristão protestante moderno sob o regime nazi, afirmou-a no seu livro Ética. A índole teológica e moral desta obra reflexiva, também contra a “grande mascarada do mal”, personificada no nazismo, conduziu Bonhoeffer a uma cristologia perto do homem. Uma cristologia, como não poderia deixar de ser, a favor do mundo.

8/2011

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