A planta dos pés na terra, um passo
atrás do outro, os olhos
humilhados onde passam
conhecem só
o calor húmido do chão
e as formas de uma nuvem
que o ímpeto das águas
rompe de repente
Hoje como ontem
o sol sobre os ombros
um dia após o outro
ligados ao fundo
por estrelas
nos celestes caminhos
A noite vem deitar os corpos
nos sonhos aguardados
no coração dos andarilhos
com paciência, a treva
que vem voando cega.
2 comments:
Viva, João Tomás!
Eis um retrato compassivo mas não sentido dos vagabundos. Apesar do seu sofrimento sempre igual, esse retrato parece resgatar-lhes humanidade, pois eles sonham.
Já agora, pedia-te que visitasses a minha página. Está um modesto poema inspirado num versículo bíblico e num filme. Diz-me o que pensas.
Um abraço
Viva João Tomás.
Obrigado pelo comentário.
Se vi neste poema humanidade, foi principalmente porque esses andarilhos (entre os quais vejo sobretudo e literalmente os sem-abrigo) ainda sonham, apesar da treva, de estarem à mercê dos elementos (chuva, sol). E o sonho é a antítese do comodismo no sofrimento sempre igual. Comanda a vida, como escreveu Gedeão. É de noite, que os "liga ao fundo" (pois é de noite que a humilhação da sua condição mais se faz sentir), dormindo sob as estrelas, que sonham. Mas na noite, debaixo do céu, sinal maior da sua humilhação, vejo também o céu metafísico, teológico, não apenas o físico. "celestes caminhos", expressão com alguma ressonância bíblica, que faz lembrar "reino dos céus", "tesouros no céu", os caminhos de Deus, ser do céu, o assento celestial de Deus, de Jesus e dos redimidos. Então teríamos igualmente a presença da divindade: apesar de as estrelas os ligarem ao fundo, a outra extremidade da corda é no céu, pode ser Deus e a sua compaixão para com esses seres humanos.
Um abraço e até breve.
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