De como José Saramago escreveu um prefácio como acto de justiça, ler Aqui
« Nasci em Lisboa, mas cheguei à pequena vila de Lavre, no Alto Alentejo, pelos meus seis anos de idade. Era a terra de origem duma parte da minha família materna. Não era o caso dos meus avós maternos, que eram ribatejanos, de Canha e Santana do Mato, mas foi ali, em Lavre, que sedearam cedo a sua vida. Lavre era por essa altura uma pequena vila sem nenhuma importância no mapa sociológico do Alentejo a não ser a que localmente lhe era emprestada pelo bulício próprio do regresso do trabalho, de homens e mulheres, ao sábado, no final da tarde, após uma semana dura a que a agricultura e os campos se tinham encarregue de sublinhar a rudeza com que tinham que ganhar um salário que não dava para ir além de um "avio" semanal, feito nas escassas lojas do comércio, onde as dores da labuta e da vida se inscreviam em colunas de contas a débito de suor e lágrimas de quem se desgastava, a ferozes golpes de desumanidade, numa terra que não era sua.» (...)
( Jacinto Lourenço)
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