José Saramago, coerente como era entre escrita e pensamento anti-religioso, hoje diria «já não Sou», diante das reportagens em directo: «José Saramago vem», «a coroa de flores que acompanhava José Saramago», etc.etc..
«Já não sou», «Não ressuscitei, nem regresso». Diria, se fosse possível ao Homem falar depois do derradeiro Problema que terá de enfrentar.
Como escreveu um dia Camus, a propósito de alguém que colocou uma brevíssima nota de suicídio na porta do seu quarto: «Entrem, estou enforcado»- e já não «estava», nem «era» -, o Nobel da Literatura português já não É.
Do ponto de vista do Ser, está para lá do espaço-tempo kantiano.
É mais exacto dizer-se: o corpo de José Saramago, «os restos mortais» de José Saramago, é mais exacto para a polissemia das imagens mentais ou gráficas da Morte.
E isso vem colocar a Questão ( da Morte), independentemente de qualquer posição, crente ou ateia, religiosa ou anti-religiosa, pró-eclesial ou anti-clerical.
O escritor, agora desaparecido, afirmou, consubstanciando mais a Morte do que Deus, no seu típico modo de se expressar, que "A morte é a inventora de Deus".
É um pensamento, diria melhor uma frase de entrevista que, retirada do contexto, funciona como um axioma; mas não é, é tão-só a contextualização da desculpa da fragilidade humana, da mortalidade, uma constatação ateísta de um facto se fossemos imortais, alegadamente não precisaríamos de Deus, por essa razão universal, segundo Saramago, a Morte é a inventora do Divino. «Se fossemos imortais não teríamos nenhum motivo para inventar um Deus.»-foi deste modo que concluiu.
Sendo assim a Morte tão poderosa, segundo Saramago, ao inventar uma Entidade como Deus, coloca-se a questão com Q maiúsculo: E Agora?
A Questão de Deus, respondida por Deus ao Escritor, poderemos interpretá-la na Bíblia; a resposta de José Saramago, essa, jamais; poderemos construí-la ficcionalmente, em literatura, como ele fez, não mais do que isso.
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