Quando Jean-Paul Sartre levou pela primeira vez à cena em 1944 a peça “Huis Clos” e em 1947 a publicou, não havia “Big Brother” nem “Casa dos Segredos”, nem a menor possibilidade de haver. Assim, sem qualquer ligação com os espaços fechados onde jovens vivem 24 horas sobre 24 horas sob o escrutínio das câmeras e dos microfones para entretenimento dos espectadores da televisão, não foi acusado de se inspirar em tais programas. Tão pouco creio que os autores dos mesmos se tenham inspirado na peça sartreana.
Em português seria “Sem
Saída” e remete logo um leitor não existencialista ateu, cristão,
para a parábola do Rico e de Lázaro: “ E, além de tudo, está
posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que
quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tão pouco os de
lá passar para cá” ( Lc 16, 26)
Esta peça de teatro, uma
das obras-chave de Sartre não é constituída por uma multidão, tem
apenas quatro personagens, um – o garçon, serve os outros. Os
“outros”, as três pessoas é que são o inferno. É nesta obra
que se encontra a célebre frase, climax quase final: “l'enfer,
c'est les Autres”. Por isso, “não há necessidade de
grelhas, o inferno são as outras pessoas”.
Toda a
narrativa, isto é, toda a dialogia em que está montada a peça, os
diálogos são conducentes aquela verificação e culminam com um
vocábulo radical e terrível, já naquela distante data dos anos 40:
alienação.
Neste
inferno sartreano, as personagens ( o ser humano) está completamente
alienado da Realidade, de Deus e do Mundo, não há vidros, não há
janelas. Na ausência dos espelhos, o rosto do outro ( de cada
outro) é o espelho.
O
quarto em que Inès, Estelle, Garcin e Le Garçon estão encerrados,
tem só uma porta e esta permanece fechada, como fechados estão uns
para os outros e para si próprios até, os protagonistas. Não podem
fugir de si mesmos, mas ao mesmo tempo não suportam a sua própria
companhia. Estão alienados uns dos outros, portanto. Alguém
escreveu, a propósito, “que poderiam transformar o inferno num
paraíso se conseguisssem estabelecer relações uns com os outros.”
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