Sunday, August 27, 2006

3 Irmãos-Antologia em ebooksbrasil.org


3 Irmãos - Antologia - Gióia Júnior - Joanyr de Oliveira - J. T. Parreira - Sammis Reachers (org)© 2006 - Sammis Reachers (org) "Antologia, reunindo poemas de três dos maiores poetas evangélicos em língua portuguesa, os brasileiros Gióia Júnior e Joanyr de Oliveira, e o lusitano J. T. Parreira. No objetivo maior de glorificar a Deus, e de divulgar de uma forma mais efetiva e franca o melhor da poesia evangélica em nossa língua, vem a lume esta breve antologia, englobando 3 de nossos mais consagrados poetas." - Sammis Reachers, organizador - Poeta, autor de Uma Abertura na Noite (Poesia Evangélica). pdf

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http://www.ebooksbrasil.org/nacionais/index.html#antologiaevangelica

Friday, August 18, 2006

Dos touros de Lascaux ao cavalo de Guernica

Dos touros rupestres de Lascaux, com a sua semiologia, ao cavalo germinal e ao touro tutelar da Guernica, de Picasso, a distância é longa, de facto, e seria de anos-luz se estivéssemos a tratar meios comunicacionais entre galáxias diferentes. A verdade é que essa comunicação apresenta-se com sinais da mesma entidade, o ser humano, que comunica entre si num mesmo lugar que é a Terra.

Com efeito, estamos diante dos sinais do homem, desde as grutas de Lascaux, onde a riqueza dos signos convoca o estudo dos mesmos pela semiótica, até ao Centro de Arte Reina Sofia, onde a Guernica continua a fazer recuperar uma história trágica da Espanha e dos seus povos, história contemporânea e viva ainda em inúmeras memórias septagenárias.

Os contemporâneos de Lascaux, como quaisquer outros habitantes de cavernas do Paleolítico, conheciam o que hoje modernamente se pretende ignorar: a distinção dos géneros, do masculino e do feminino, eles não trocavam nem promíscuiam a beleza da humanidade composta de mulher e homem. O seu conceito de família era rigoroso, os meios usados para a procriação estavam bem definidos e bem representados, com a precisão simbólica que a capacidade artística para o desenho na pedra permitia. O símbolo fálico do homem e os símbolos ovais para representar a mulher não se misturavam nas paredes das cavernas. Seria uma arte da animalidade, como se lhe chamou, mas a sua leitura semiológica - a interpretação dos sinais - nesses desenhos eram o símbolo do homem e da mulher, do pai e da mãe, eram a representação do núcleo fundamental que é a família.

Os impedimentos para a depravação entre homens e mulheres estavam até graficamente delimitados, a viagem intergaláctica de Sodoma para Roma, através de muitos séculos de maus costumes, não está documentada graficamente como um historial de sentimentos reprováveis e sórdidos. O que a chamada arte parietal, as gravuras nas paredes das cavernas, distinguia, o macho e a fêmea nos seus devidos lugares, milénios depois viria a ser normativo na Bíblia Sagrada. Designadamente nas Cartas de Paulo - a Epístola aos Romanos - onde as paixões infames, a mudança do modo natural das relações íntimas, as inflamações da sensualidade orientadas para o mesmo sexo, são identificadas pelo apóstolo já numa cultura a meio-caminho entre o clássico e a modernidade, comparativamente à época pré-histórica.

Com efeito, Paulo impreca os não-crentes, os ímpios, que supondo serem sábios, com cultura, enveredaram por descaminhos de perversão, sobretudo sexual, contra a própria natureza da intimidade humana, na relação homem-mulher. Sob a luz que ilumina o modo como o homem se perverteu e desviou da correcta adoração a Deus, submetem-se também os desvios dos instintos correctos com os quais o ser humano foi dotado. Alguém escreveu, em comentário de Bíblia de Estudo, que «O efeito da perversão da adoração instintiva a Deus é a perversão de outros instintos, que se afastam de suas funções apropriadas. As Escrituras encaram todos os actos homossexuais sob essa luz. A consequência é a degradação do corpo.» A desintegração daquilo que é verdadeiramente «natural», parecendo ser um produto da cultura e das sociedades urbanas, altamente desinibidas na contemporaneidade, é, portanto, fruto do desvio do homem em relação a Deus.

Thursday, August 17, 2006

Um rio chamado tristeza



Na margem sentado, molho os pés
na tristeza

as águas turvam
o meu reflexo

-eu estampado
na seda das águas? recolho,
com o copo
das mãos,

a espuma
do meu rosto.

Tuesday, August 15, 2006

A Última Ceia sem Código da Vinci

"Sophie estava a olhar para o mais famoso fresco de todos os tempos, A Última Ceia, a lendária pintura que da Vinci executara na parede de Santa Marie delle Grazie".
Assim, com um facto conceptual e uma verdade histórica, a narração de Dan Brown, em O Código da Vinci, todavia conduz o leitor para uma deturpação a-histórica da pintura mais reproduzida e cuja temática obtém a maior consensualidade na História da Arte.
Sophie, "que examina ansiosamente a ilustração", pergunta: -"Este fresco diz-nos o que o Graal realmente é?"
-"Não o que é - sussurrou Teabing-, mas antes quem é. O Santo Graal não é uma coisa. É, na realidade... uma pessoa." (Págs. 284/5)
Deste modo, Dan Brown, já na segunda metade do livro, continua a conduzir através da recuperação de uma proposta gnóstica, esotérica e ocultista, o leitor do seu romance dito histórico.
O objectivo é a conclusão que define "historicamente" ser essa pessoa uma mulher, a Maria Madalena e não o apóstolo João, como séculos de hermenêutico olhar e de estudos sobre a Estética têm ensinado à arte e à cultura, corroborando assim a própria historiografia do Cristianismo.
Depois de tentar falsificar a história do Concílio de Niceia, fazendo a extrapolação de textos fidedignos como o Vetus Synodicon que narra todos os passos das discussões dos primeiros Concílios da Igreja até ao ano 887 a.D; de "banir" os Quatro Evangelhos, por alegados preconceitos machistas e deixar entrever que a sua objectividade está apenas na manutenção do poder masculino da Igreja e não na Boa Nova; e depois de desejar, como contrapartida, que oitenta evangelhos designadamente os gnósticos mais conhecidos fossem mesmo canonizados, Dan Brown decidiu, de um mesmo passo no seu romance, falsificar literariamente a pintura mural A Última Ceia.
A metodologia para falsificar a pintura parte do próprio núcleo da mesma e conduz ao sagrado feminino, ao engenhar uma hermenêutica espúria sobre as duas figuras do centro, como elementos da composição: Jesus Cristo e o apóstolo João ("Maria Madalena", para o prof.Teabing).
Ao pretender desmitologizar o que no grande retrato da Última Ceia é um conteúdo evangélico – o anúncio da traição feito por Jesus à mesa do Cenáculo -, Dan Brown exerce a contradição em O Código da Vinci, através de uma mitologização maior e blasfema da vida histórica de Jesus, ao pretender fazê-lO simples homem mortal que "pôde" casar e ter descendentes, criando assim um mito.
Do ponto de vista da crítica de arte mundial, que tem sido exercida com erudição sobre esse quadro do maior pintor da Renascença, a unanimidade em torno das figuras da Última Ceia assenta em exclusivo nas de Cristo e Judas, consideradas bíblica e conceptualmente as figuras centrais.
E foi assim que o Leonardo da Vinci as interpretou, tornando-as elementos-chave da grande composição.
Perante o quadro a nossa reacção sincera, com honestidade intelectual e algum conhecimento religioso, só pode pautar-se pela verdade histórica, que da Vinci representou como o drama sagrado do Cenáculo, a resposta dos Doze à profecia de Jesus: "Um de vós me trairá".
Com efeito, a Última Ceia é um documento onde se pode apreciar o estado moral de uma pequena comunidade, a qual tomada de um plano geral valorizado pelo sfumato ( sombreado) quase atmosférico, nos revela os desfalecimentos, as resignações, os espantos, acima de tudo o recuo evidente da figura de rosto sombrio de Judas Iscariotes, que se esconde na sombra.
Impressionante em múltiplos aspectos, este fresco pintado nas paredes de um refeitório de padres dominicanos, em Milão, entre 1495 e 1497, identifica Judas Iscariotes por três pormenores; dois estão ligados à sua personalidade: o não estar na luz, afastado que está do centro estabilizador de todo o tumulto emocional ( a figura de Cristo), e a forma adunca da sua mão esquerda, como se fora uma ave de rapina; o outro pormenor, é da ordem da estética e da referência cultural. A figura de Judas terá tomado por modelo o controverso padre reformador Savonarola.
Seja como for que se aprecie a pintura que está no Convento delle Grazie, segundo as perspectivas do Renascimento sobre a luz, a anatomia, a psicologia do gesto e da expressão, não podemos deixar de a analisar também pelo mistério, pela intensidade dramática, pelo momento bíblico e histórico que a motivou, nunca porém atribuindo-lhe "valores" ocultistas ou uma qualquer codificação secreta absurda.

Monday, August 07, 2006

Poema: Mulher com Cântaro

Para onde vai essa mulher com o sol
dentro do cântaro
sobre os cabelos, o silêncio

vão devagar
as sandálias, devagar
os pensamentos

em cinza a cor rósea
dos pés, o poço
espera desde o fundo

das águas ancestrais
Para onde
vai essa mulher?

Com amor avança
abrindo no ar
os raios solares.

Saturday, August 05, 2006

Joanyr de Oliveira e um jovem poeta, em 1974

No Mensageiro da Paz, do Rio, Joanyr de Oliveira
dava nota crítica favorável ao primeiro livro, Este Rosto do Exílio,
de um jovem poeta evangélico português, foi há 32 anos.
No final do texto dizia: «trata-se do ponto culminante da poesia
evangélica em língua portuguesa.»

Wednesday, August 02, 2006

Poema: As redes tristes

Chamaram dos ramos do mar
os pássaros marítimos
chamaram do fundo
do volumoso silêncio
os peixes, como se fossem
os olhos da noite
Chamou uma sereia de vento e sal
E dos dedos dos pescadores
as redes tristes
saltaram com setas.

Thursday, July 27, 2006

Filmes numa sociedade cristã (e livre)

Há apenas cinco décadas atrás pensava-se que o cinema, dada a sua índole cultural, não se impunha a si próprio a obrigação de comunicar factos nem verdades. Como é exigido aos mass media em geral. O cinema era Arte, a designação comum em que se estruturava a ideia sobre esse meio de comunicação.
Com efeito, estudado como tal esse veículo da comunicação de massas é um instrumento para apoiar o imaginário, de um nível mais correcto ao mais torpe, seja através das stars (actrizes), dos astros ( os actores mediáticos), das temáticas diversas do entretenimento ao educacional, da ficção ao documentário, das obras literárias transpostas para os ecrans, até do endeusamento das políticas e das obras dos grandes ditadores do século 20, na Alemanha Nazi ou no regime de Estaline.
Nos primórdios do cinema, as pessoas sentiam-se fascinadas pela magia de verem imagens a moverem-se de um lado para o outro. O primeiro conjunto de imagens em movimento, universalmente conhecida, data de 1895 e tinha o título Sortie des ouvriers de l'usine Lumière.
Poderia ter marcado o cinema como meio de expor a realidade social, no século 19. Mas não, o que iria advir do cinema seria o sonho.
Sem dúvida, tonar-se-ia numa comunicação de mitos, num estudo feito em 1968 afirma-se que «99,44 por cento dos filmes feitos na América e igualmente no resto do mundo -desde o Grande Assalto ao Comboio, o primeiro «western» feito em 1903- serviram para comunicar mitos.»
A América que tornou essa arte cinética em indústria, também lhe definiu as regras no passado, baseando-se e bem na sua ancestralidade assente no puritanismo religioso e evangélico. Nas primeiras décadas do século passado, um organismo estabelecia o Código de restrições morais, não se poderia abordar temas como o divórcio, o aborto e as misturas raciais.
Hoje existem razões mais fortes para pensar que não seriam despiciendas de todo algumas restrições, quando a indústria cinematográfica entra em áreas como as da religião, das confissões religiosas e do culto divino.
À excepção de uns poucos filmes de rigoroso carácter histórico-bíblico (destaco o pacífico Os Dez Mandamentos, de Cecil B.de Mille, 1956; e o controverso O Evangelho Segundo Mateus, de Pasolini, 1964, e.g.), outros foram realizados, na América e na Europa, sobretudo, que subverteram a ideia da ética, da liberdade religiosa, até do espírito dos direitos constitucionais ( liberdade de consciência) no que concerne ao nosso pensamento e maneira de sentir o sagrado.
E a década de 70 que já produzira coisas como a peça musical Jesus Cristo Superstar, abriu a partir do final as suas portas a um cinema de contra-cultura religiosa, digamos assim, que marcou os anos 80 com uma reescritura da História Cristã, do seu capítulo mais importante, a Paixão de Jesus Cristo e a superveniente Ressurreição.
Salvo melhor opinião, o mais mediático e controverso foi o filme A Última Tentação de Cristo, realizado em 1988 por Scorsese ( não coloco em paralelo o francês Je vous salue, Marie, de Godard, 1985, uma metáfora do dogma da Encarnação para o mundo moderno).
Em A Última Tentação… coloca-se em causa a perfeita humanidade de Cristo, objectivando-O sob a lente de uma comum humanização, privilegiando a instância terrena de Jesus, que «é» um carpinteiro que vive um grande dilema, pois é quem faz as cruzes com as quais os romanos crucificam seus oponentes; erradica-se também o dogma da Ressurreição, e quando se acentua o fenómeno da tentação, será mais do foro da dúvida sobre a missão redentora do que da alegada atracção física por Maria Madalena, ou do seu olhar sobre o seu possível futuro, casado e com filhos, optando pela vida sossegada dos homens.
Será também a dialética da tentação do Jesus do filme sobre a verdadeira identidade da sua natureza. Scorsese mantém, no entanto, na atmosfera do filme a possibilidade da divindade de Jesus, mas é evidente a característica redutora do argumento a um Cristo totalmente humano extraído do romance do grego Nikos Kazantzakis.
De resto, trata-se também de uma paradigmática incursão no domínio da ficção, a repetir alguns evangelhos gnósticos que hoje se mediatizaram.
Um outro filme menos mediático, da área do cinema alternativo ou de autor, é o Jesus de Montreal. Em sintese é um filme que segue a lógica da crítica social urbana do nosso tempo, menos do que a crítica religiosa. Todavia, ao colocar toda a encenação na urbanidade de uma cidade como Montreal, no Canadá, isto é, um cristo metido nos problemas quotidianos do homem moderno, da sociedade contemporânea decadente, ao mesmo tempo põe-se em causa a ética, a moral, a teologia, o dogma cristão. Designadamente, propõe-se no filme uma caricatura da ressurreição de Cristo, sob o prisma da ciência: o actor que faz a personagem de Jesus doa seus órgãos para transplantes, e isso «é» a ressurreição.
Releituras ao sabor de ventos «doutrinários» sincretistas, reescritas pós-modernas dos Evangelhos, foram muitas e várias depois dos 80.
Finalmente, faz hoje algum sentido perguntar-se o que tem feito a cinematografia pela religião, designadamente pelo Cristianismo.
Face a um filme tido por quase pregação evangélica, como o mediatizado e recomendado em algumas círculos cristãos A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, em que o sadismo ultrapassa todo o comedimento santo dos Evangelhos na exposição da paixão e morte do Amado, deve-se perguntar, sim, se é lícito usar os Evangelhos a fim de os reescrever com sensacionalismo. Um erro que se cometeu, sem dúvida, foi o de diabolizar um meio que estamos hoje a aproveitar até à exaustão, mesmo com filmes tipo gospel.
É que estamos involuntariamente a ultrapassar a excessividade da formulação do paradigma do Marshall McLuhan: «The Medium is the Message» (1967), o Meio é a Messagem, onde se vê que o simples meio ou canal se converte na própria mensagem.

Monday, July 24, 2006

O Irmão

O Irmão

disseram-lhe do pai
quando já estava morto
ele na cidade grande
e o pai penando, não se fazia isso a um
irmão, não se deixava de fora uma pessoa
só porque ela precisou deixar a própria casa
perder-se numa cidade de cão sem ninguém
não se fazia essa maldade a um filho que nunca
mais ia poder dizer pai cheguei voltei pai

In A Máquina do Mundo

(Vera Lúcia de Oliveira. Ensina Literatura Portuguesa e Brasileira na “Università degli Studi di Lecce” (Itália) )

Friday, July 14, 2006

Há 40 anos, na Figueira da Foz

Há 40 anos. Hoje, alguns são sexagenários, outros estão quase lá...
Todos têm nomes
e funções, uns são mais públicos do que outros...
...mas vão todos ainda pelo mesmo Caminho.

Tuesday, July 11, 2006

"Millennium" em Poets.org (Academy of American Poets)

The lion will not be quicker than the ox
in pasture search.
The lamb and the bird
will be a poetical form,
the wolf will have the kiss in its mouth.
The dove and the eagle,
sailing
in waters of white silt.
Then an angel will make
of the Earth a lyric state.

(J.T.Parreira)

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This is riveting, reminiscent of Blake. I, too, am baffled by lines 3 and 4. ("Bird" seems too generic a term in a poem where all the other creatures are specifically identified.) Lines 7 through 9 also stick out a bit, being a sentence fragment in a work otherwise composed of complete statements.

(Archy)

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Surreal, which I like, but abstract, which I do not. The metaphors could be fleshed out: The lamb and the bird will be a poetical form, How?

(G.Wilkens)

Monday, July 03, 2006

Poeta e Médico: Amigo

Queda

"Quanto a mim, com justiça verei a tua face;
ao despertar, eu me saciarei com a tua imagem
." (Sl 17,15)


assombro
sombras erodindo a face trágica
ofélia e julieta jazem
ávidas
e as cotovias sujam as manhãs
(quase como arribaçãs)
teu peso
é como água morta sobre a página
é um escorpião picando
a alma
o despertar da fome (solidão)
eu homem
meu nome foi espelho e ave tácita
hoje é sol ardendo o rosto
inválido
onde a cruz de uma saudade cai
(signo torto contra o
Pai)

(Celso Boaventura Jr, Rio de Janeiro, 1971-)

Saturday, June 24, 2006

Memórias aos 59

When I look back, I see a collapsing
accordion of my receding houses
Robert Lowell


Quando olho para trás, vejo o colapso
da minha infância, a derrocada
dos meus calções de golfe
e camisas aos quadrados,
ao mesmo tempo que o das casas
e dos quartos e das janelas
em que debrucei os meus
primeiros, inocentes olhos
e assim a sucessão
das ruas em lisboa
quando olho para trás
vejo meus pais
a quererem talvez mover-se
para o futuro.

Tuesday, June 13, 2006

Sófocles ou o Equívoco do Destino

Mergulhar na problemática das origens do homem, se por um lado é rebuscar o inocente, que a Bíblia revela antes da Queda, é, por outro, o confronto com a realidade do livre arbítrio, a liberdade da criatura humana poder escolher entre o Bem e o Mal.
Já o mergulho na mesma problemática nas obras trágicas de Sófocles- sobretudo no triângulo Sófocles-Édipo-Antígona - é, sem dúvida, o mergulho nas origens mitológicas do destino, que, segundo o autor grego, traça a vida do homem dominado pelos deuses, sem esperança.
O herói trágico grego tem que enfrentar um poder mítico sediado nos deuses, numa ideia de ética elevada sem redenção, o que é contrário à Graça de Deus revelada na Bíblia Sagrada e na Teologia Cristã.
Sófocles traça esse roteiro da desesperança, embora repleto de moralidade natural e lições de vida e de justiça, em quase todas as suas peças que chegaram até aos nossos dias.
As tragédias mais conhecidas e que continuam a impressionar a cultura ocidental, a arte e a estética dramáticas, a filosofia e, sobretudo, a ciência psicanalítica, são indubitavelmente Édipo Rei, Antígona e Electra.
Qualquer um destes monumentos da Literatura do Mundo, milenar e intemporal, da Antiguidade Clássica, traduzem aquela que era a visão de Sófocles, isto é, que o homem era um joguete nas mãos dos deuses, que o destino traçado lançava os homens, amarga e demolidoramente, na vida, sem possibilidades de perdão.
Por exemplo, o conceito ateniense, sófocliano, de destino personificado, fortuna , sina , num vocábulo grego moira, são disposições fatídicas, são alguma coisa assim como o determinismo, que somente poderiam ter lugar no mundo helénico.
Como sabemos, a Palavra de Deus não usa, conceptual e religiosamente, o termo Destino. Todavia quando utiliza, nas nossas versões, os termos Destino e, até, Fortuna ( Isaías,65,11), carrega os mesmos com a tonalidade das cores negra e cinzenta dos ídolos (os deuses Gade e Meni, sírios ), com os quais não pode haver comunhão, a tal ponto que a versão do Velho Testamento para a língua grega, a Septuaginta, lhes chama daímoni (demónio ou espírito do mal).
No entanto utiliza o verbo destinar ( fazer algo em favor de ), que tem a ver com a soberana vontade divina e, no mesmo plano, com a misericórdia e amor de Deus. O Apóstolo fundador da cultura cristã ocidental, escreveu aos tessalonicenses que Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante Jesus Cristo (I, 5,9),apesar da culpa. Esta asserção é universal, embora esteja aplicada em primeira mão aos crentes.
Em caso nenhum classicamente conhecido, nas tragédias de Édipo Rei ou de Antígona , para apenas citar estas duas obras-primas, a culpa tem redenção.
O modelo deveria ser assim, o próprio Aristóteles vê na primeira peça o seu ideal, isto é, o trânsito da felicidade para a infelicidade, o terminar no infortúnio, jamais o contrário, pelo menos conforme as suas regras estabelecidas em Poética .
O erro humano nos trágicos gregos, chamado hamartia, ( como também mais tarde no Novo Testamento) pagava-se caro e não tinha possibilidades nem de remissão nem de deixar de ser cometido nas acções iníquas, à luz da moral e das leis da Cidade. Édipo declara «os deuses detestam-me » e este é o tom do seu infortúnio, a razão de ser dos seus males predestinados.
«Que tempestade de terríveis desgraças derrubou o Édipo », declama o Coro, ao contrário do que se passa noutra tragédia, Antígona, do mesmo dramaturgo grego.
Nesta, a heroína Antígona sem vatícinio fatídico traçado à priori , quando se vê confrontada com a fatalidade, com o destino, revolta-se contra os desígnios, mais dos homens que dos deuses. Seja como for, Antígona enfrenta o destino; Édipo é apanhado no meio do turbilhão dos seus equívocos. Antígona arrisca revoltar-se - «Queres ficar do meu lado? Queres arriscar comigo? »- pergunta à sua irmã Isménia. Arriscar contra o quê? O destino escrito de que se desse sepultura condigna - dir-se-ia pré-cristã - ao seu irmão Polinices, estaria a desobedecer às leis do tirano Creonte e seria condenada à morte por tal acção de amor.
Seja como for, os dramas gregos retratavam o ser humano a meio caminho entre os fios que moviam como que uma marioneta, manobrada pelos deuses no seu presente, e o destino traçado pelos oráculos no passado. O protagonista humano, ou mesmo semi-deus, nas tragédias gregas, não tinham genericamente meio de se libertar.
Deuses, semi-deuses, humanos, não resolviam na tragédia grega nenhuma pendência entre si, que não fosse estruturada nas palavras e na vontade do oráculo, fosse numa realidade histórica remota - Édipo já vinha da ficção homérica-, que por sua vez já derivava da mitologia, fosse na metaforização do religioso.
Os seres humanos da maior parte das tragédias dos autores atenienses do Século V a.C, não poderiam renunciar a nada que estivesse lavrado nos autos do predeterminismo. A sua relação com o divino, era a relação com um deus-ex machina, com os numes de quem todos os acontecimentos dependiam. O equívoco e a desesperança faziam parte desta relação. Não obstante o valor do homem aos «olhos » das divindades ser evidente, o ser humano sofria, segundo o pensamento trágico dos gregos, de uma impossibildade congénita de encontrar a salvação, de vencer o mal, retratado na figura do Hades.

Friday, June 02, 2006

A Lei da Gravidade

Nascemos aqui
é esta
a nossa casa

somos a prova
que contraria Newton
a lei

da gravidade,voamos
dentro das cores
dos nossos olhos

pequenos, pomos
no coração
grandes coisas

gravitando no sangue
um amor, um peso
as lágrimas

caímos com a noite.

13-05-2006

Thursday, June 01, 2006

O percurso histórico da Bíblia Sagrada

A Bíblia na Cultura Portuguesa

Em Outubro de 1835 a Sociedade Bíblica de Londres envia a Lisboa George Borrow com o propósito de difundir a Bíblia em Portugal. Sabe-se pouco sobre esta estadia, conhece-se no entanto a finalidade da mesma, a divulgação da Bíblia desde a perspectiva cristã evangélica. Infelizmente muito pouco as autoridades de então deixaram fazer, razão pela qual o enviado da Sociedade Bíblica Britânica e autor da obra The Bible in Spain, de 1842, rumou para a dita Espanha a fim de distribuir as Sagradas Escrituras.
Assim, a primeira ideia que nos ocorre é a de que a relevância da Bíblia na história e na cultura portuguesas, se prima por alguma coisa é pela ausência. Apesar de um século e meio pelo menos de esforços evangélicos e de Sociedades Bíblicas. Tomando mesmo em linha de conta iniciativas extraordinárias, de grandíssimo alcance social e religioso, como a Bíblia Manuscrita que transversalmente passou em 2004 por todo o país e que o Ministério da Cultura considerou de «superior interesse cultural».
Contudo, a investigação das Escrituras Sagradas, de uma forma definitiva designadas por Bíblia Sagrada, Velho e Novo Testamento, foi, é e continuará a ser a melhor influência para tradições artísticas, filosóficas, históricas e da própria narrativa literária de qualquer nação.
Neste campo, os próprios estudos de dialogia de Mikhail Bakthin, por exemplo, são matéria de referência, sobretudo quando aquele teórico linguista e filósofo da linguagem russo escreve sobre a polifonia das falas das personagens, autonómas mas relacionadas umas com as outras, no mesmo texto, ou sobre a polifonia de um texto em diálogo com outros textos. Digamos que existe polifonia há séculos em inúmeros relatos bíblicos do VT (vd. o que poderemos considerar um paradigma nos textos II Samuel 12 e Salmo 51) e dos próprios Evangelhos em que há, por assim dizer, uma verdadeira sinfonia polifónica, na qual o seu Autor, o Espírito Santo, respeitando as personalidades de cada autor sagrado, a sua cultura, a sua geografia local, até as suas contextualizações sociais e políticas, inspira, revela e age em tudo o que concerne ao Homem, porque este é o único alvo e receptor da Palavra Divina.
É usual afirmar-se que as duas grandes fontes do conhecimento moderno do mundo e da humanidade se encontram nos velhos campos da Grécia e de Roma, apesar de Fernando Pessoa afirmar sempre que a transição cultural da Grécia para Roma se tenha exercido por meio da decadência. Seja como for, acrescenta-se normalmente que o mundo judaico-cristão, que as desafiou e absorveu, também bebeu dessas fontes.
E a provar esse entendimento, é costume falar-se em figuras fundadoras e com obra fundacional como Homero, Sófocles, S.Paulo ou Dante, entre outras.
Há, porém, um Livro que contém Civilização, que aborda as Ciências Naturais, as Geografias, a Zoologia, a Biologia, que fala do Ritual religioso, do Heroísmo, das Epicidades, da Poética, que aborda até a Filologia, que esclarece sobre Humanidades e que revela a Divindade, afinal as origens da fundação de tudo. É incontestável o nome desse Livro, Bíblia Sagrada, que na diversidade unívoca dos seus 66 livros é a Palavra de Deus, traduzida para as nossas línguas modernas e vivas por Lutero na Alemanha ou por Wycliffe e William Tyndale e autorizada pelo Rei Jaime, na Inglaterra, ou traduzida por J.N.Darby ou Louis Segond, na França, Casiodoro de Reina e Cipriano de Valera, em Espanha, ou por João Ferreira de Almeida em Portugal.
Um exemplo como simples indicador, embora a sua importância seja incontornável, está no facto da Bíblia constar no currículo do Departamento de Literatura do conceituado MIT (Massachusets Institute of Technology). Há também notícias científicas de que constou como cátedra importante na nossa Universidade de Coimbra.
Este texto pode ser lido na íntegra em: www.portalevangelico.pt

Saturday, May 27, 2006

Petição em favor das Línguas Clássicas em Portugal

No seguimento da recente reorganização da rede escolar e dos agrupamentos de disciplinas, o ensino das línguas clássicas passou a residual nas escolas secundárias, e em muito poucas, e corre o risco de desaparecer em breve do ensino superior. (...)
Os signatários, cujos nomes se seguem, fazem, pois, um apelo aos nossos governantes e à opinião pública: - pedimos que não reneguem as próprias raízes greco-latinas de uma concepção nobre da política e da sociedade, ética e à escala humana; - reivindicamos o restabelecimento de condições que facultem a todos os jovens a possibilidade de estudarem as línguas e as culturas clássicas em todos os níveis de ensino, das escolas básicas e secundárias às politécnicas e universitárias.
Promotores: APEC — Associação Portuguesa de Estudos Clássicos, Instituto de Estudos Clássicos da Universidade de Coimbra, Departamento de Estudos Clássicos da Universidade de Lisboa.

Wednesday, May 17, 2006

A Mulher de Lot


They say I Looked back from curiosity
Wislawa Szymborska

Dizem que olhou para trás pela única esperança
que Deus pudesse ter mudado a sua mão
talvez se dissipasse o fogo
na órbita do sol, talvez o enxofre
fosse levado até à orla marítima
do vento
Dizem que olhou para trás por admiração
para ver um fogo a competir com outro fogo
Dizem que olhou por um equívoco
que estava a ver o princípio do mundo
Dizem que foi por teimosia
que a flor azul relutava
contra o fio dos seus cabelos
Dizem que por inexperiência olhou para trás
Dizem que olhou por curiosidade
a certa altura do primeiro relâmpago
a riscar a noite e a dissipar a dúvida
Dizem que olhou para trás por um vestido
que ficara sobre a cama de um modo leviano
Dizem
dizem que foi o coração que olhou para trás
porque este é um órgão imprevisto
cego que anda em busca de si mesmo.