«La Bíblia en España. Los Viages, Aventuras y Prisiones de un inglés en su intento de Difundir las Escrituras por la Península Ibérica», tradução do original inglês e, salvo erro, não editado em Portugal, é mais do que um clássico da literatura de viagens com um século e meio de existência. Não obstante esta distância cronológica ainda une Portugal e Espanha no mesmo estigma de países que foram, num passado recente, reaccionários, contra-reformistas, perseguidores de homens e mulheres que professavam a confissão protestante e viajavam pelo país vendendo a Bíblia.
O escritor, livreiro, ateu convertido a Cristo, pescador de almas, George Borrow, que escreveu no prefácio da sua obra « não sou turista nem autor de novelas ou de livros de viagens», descreve todavia essas viagens de finalidade religiosa com uma linguagem empolgante e original. O livro é assim um imenso quadro de itinerários percorridos e uma autobiografia considerada como tal na História da Literatura Inglesa. É a narrativa de uma via dolorosa de tribulações, presídios, testemunhos morais, sobretudo um encontro do autor com a sociedade espanhola da época, tendo por missão levar a Bíblia dita protestante a todo o povo, ciganos, toureiros, foragidos da justiça, contrabandistas, flibusteiros, policias, camponêses.
O autor que em Madrid chegou a ser conhecido popularmente por «El Jorgito Inglés», publicou «The Bible in Spain» em Londres em 1842. Porventura sob a influência notável da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, a Inglaterra vitoriana ficou a conhecer primeiro a saga da Bíblia em Espanha. Neste país, o livro de Borrow seria traduzido e publicado muito mais tarde, no princípio da década de 20, colhendo de sectores diferenciados algumas reacções encorajadoras, sublinhando a importância do livro e que «tardou 80 anos a ser oferecido aos leitores espanhóis.» Estas palavras foram pronunciadas por aquele que iria ser o presidente da II República espanhola Manuel Azaña, em 1921, o próprio que por essa data o traduziu e prefaciou.
Muito antes destas palavras, em Outubro de 1835, a Sociedade Bíblica já referida enviara a Lisboa o escritor Borrow, com o propósito de difundir a Bíblia em Portugal. Sabe-se pouco sobre esta estadia no nosso país de George Borrow, a finalidade seria a divulgação da Bíblia, mas pouco ou nada lhe foi autorizado executar. É conhecido dos meios literários que o escritor esteve no cemitério inglês de Lisboa, à Estrela, junto do túmulo de outro escritor, Henry Fielding. Depois voltou a Londres a fim de obter autorizações da Sociedade Bíblica e do governo espanhol para imprimir e distribuir a Bíblia em castelhano. A partir da sua livraria na Rua do Príncipe, em Madrid, traduz e distribui o Evangelho de Lucas na língua caló, dialecto dos ciganos ibéricos, com os quais partilhou grande parte da sua vida em Espanha. Após quatro anos neste país ( 1836-1840), iniciados na Galiza que assume um lugar significativo nas suas memórias de autor, começaram os problemas, Bíblias e outra literatura religiosa protestante são confiscadas da sua livraria, até os seus próprios livros e vai parar ao cárcere em 1838.
A Contra-Reforma ainda fazia os seus estragos e a palavra ecumenismo não fora ainda inventada.
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