Monday, March 16, 2009

Pré-Publicação: Salmo 121 Uma Superabundância (II)


No Salmo 121 há vários diálogos, do autor(viajante/peregrino) consigo próprio, do autor com Deus e, depois, de uma terceira Pessoa que entra no discurso do Salmo, quando deixamos de ler o pronome pessoal eu e passamos para um ele.

Nos versos 1 e 2: Elevo...me...o meu ; depois o verso 3, onde uma segunda pessoa fala da terceira: Não deixará vacilar o teu pé: aquele que te guarda não tosquenejará.
O diálogo, por assim dizer, estabelecer-se-ia assim: o Eu(a 1ª pessoa): -Elevo os meus olhos... De onde me virá o socorro?; o Tu(a 2ª pessoa):- Ele (o Senhor, a 3ª pessoa) não deixará vacilar o teu pé.
Esta voz que o salmo introduz, do ponto de vista da inspiração bíblica, só pode ser a voz do conforto do Espírito Santo a revelar o cuidado do Deus de Israel; testemunhando a verdade de que «O Senhor é quem te guarda».

Uma abordagem psicológica
A história de uma alma, do tipo psicológico da personagem do Salmo, o modo como cruza os olhos físicos pelas problemas e provações e os olhos espirituais, dirigidos a Quem pode ajudá-lo.

Olhar para os montes, donde se pode inferir o olhar para as dificuldades emergentes, em síntese, o olhar para dentro de si próprio, e o olhar para o Senhor. Um dia, lemos que o salmo 121 é o dos olhares. Joseph Ratzinger, já Papa, disse-o doutra forma, paralelamente acerca do 123: «O Salmo, que acabamos de proclamar, encerra -se numa troca de olhares: o fiel eleva seus olhos ao Senhor e aguarda uma reação divina, para colher o gesto de amor, um olhar de benevolência».
Compreendemos que o olhar do salmista(peregrino) seja lançado para as dificuldades, os montes que o esperam, e que terá de passar, caminhos estreitos, precipícios engolidores embora de beleza atraente, até chegar ao Templo em Jerusalém, às festas sagradas.
Ora é aqui perante a história de uma alma que nos colocamos.
Quando olha para os montes, que estavam colocados entre a sua tenda e o Templo, parece titubear, as estradas eram penosas, corria-se o risco de uma quebra da vontade e, até, da solidariedade com os outros irmãos quando juntos subiam a Jerusaém, esse olhar era para fora.

O olhar para dentro da própria alma, o tornar a si na linguagem de Jesus sobre o Filho Pródigo, era o olhar galvanizador. O olhar para dentro de nós próprios vai buscar alento à alma, ao que a alma sabe sobre o nosso Deus e Pai, que o salmista conhece ser o: Senhor que fez o céu e a terra.

1 comment:

rui miguel duarte said...

Caro João Tomás,

Cumprimento-te e saúdo-te pela análise enriquecedora e múltipla (literária, psicológica, histórica e cultural, um pouco retórica também) do Salmo.
Lembro-me de ter lido, embora me não lembre onde, que os montes aos quais o Eu declara erguer os seus olhos poderiam ser alusão a ídolos pagãos erigidos nos altos pelos vizinhos dos Israelitas e Judeus e também por estes (ver livros de Reis e Crónicas), e que de quando em vez um rei temente a Deus mandava destruir.
Esse erguer de olhar seria o primeiro clamor por socorro, embora rápido e vão. O Eu estaria a pôr em contraste esses ídolos, com os quais os ouvintes dos salmos seus contemporâneos estariam familiarizados, e o Deus criador do céu e da terra, o único que merecia a confiança.

Que dizes?