Saturday, December 30, 2006

Cayucos, pateras, botes, canoas


ARQUIPÉLAGO FLUTUANTE

Viajam com as cabeças de fora
cortam a espuma
do vento nas ondas

cortam o rosto com sal
viajam com o corpo
uns dos outros

vão no arquipélago
gulag
do mar

vêm
em direcção a ti
terra

vêm
como
ninguém

30/12/2006

Friday, December 22, 2006

O autor referenciado

Leitura & Literatura - Pesquisa de Obras por Autor
J. T. Parreira · Jacinta Passos (escritora baiana); Jacinto Benavente (* 1966 † 1954)(Espanha) (Nobel de Literatura em 1922); Jacinto Lucas Pires ...urs.bira.nom.br/autor/autor.htm - 258k -

Monday, December 18, 2006

Chamo-os

(Uma conversação sobre Hebreus 11, 4, ss )

Os ombros de Abel, de longe
voltam-se para mim
e um cordeiro emana
como nuvem de lã
E Enoque, que saía do chão, volúvel
transparente
para a alegria celeste
Estava Noé no silêncio
da sua janela, no meio de escura água
e olhava para cima, movido
pelas fontes do céu
E Abraão, quando chamado
viu ao longe, desafiou os olhos
para a luz suave das estrelas
Em algum sótão do sono
Jacob necessitava de um pouco
de sonho
E pelas pegadas do gado Moisés,
pelo deserto, regressa
até mim.
Chamo-os, enquanto
Raabe do corpo
desenlaça
um fio escarlate.

Friday, December 15, 2006

Um Salmo 121

«Elevo os meus olhos para os montes.
De onde me virá o socorro?»

Não vou deixar que os montes
me tornem pequeno
para não ver as alturas acima deles

os pássaros pousados
no ar, as estrelas
no meio de um mar obscuro,
o fogo
penetrante do sol

não vou deixar que eles
me ceguem
para não ver o sol

que se abatam sobre mim
como paredes
não deixarei que os montes
resumam os meus olhos
a duas poças da alma.

23-9-2006

Saturday, December 02, 2006

Melhor «texto» para a Paz

Sylwia Kapuscinski for The New York Times

The House That a Hope for Peace Built
Jewish and Muslim students live together at the Mid-East Coexistence House on the Douglass College campus of Rutgers University.

Friday, December 01, 2006

Antologia de Poesia Cristã em Língua Portuguesa

Antologia de Poesia Cristã em Língua Portuguesa - Clique aqui e baixe
Após dois anos de diligente pesquisa, Sammis Reachers concluiu e tornou disponível a todos gratuitamente a Antologia de Poesia Cristã em Língua Portuguesa, reunindo poemas de caráter genuinamente cristão de grandes nomes da literatura lusófona, desde Camões até os dias atuais, passando por escritores e poetas como Machado de Assis, Fernando Pessoa, Alexandre Herculano e muitos outros. Poemas de mais de 80 autores, dentre brasileiros, portugueses e africanos. Textos belíssimos, selecionados a partir de uma perspectiva evangélica. Um verdadeiro presente aos leitores, sejam eles cristãos ou não.

Wednesday, November 29, 2006

As virgens prudentes

As virgens prudentes não têm olhos
para si próprias, olham
o firmamento
o brilho das suas lâmpadas
olham o escuro e o dia
derramados -
o leite da aurora e o rosal do ocaso -
esperam o perfume
que é a suavidade
dos passos do noivo
que já se aproxima.

27-11-2006

Monday, November 20, 2006

Os Relativismos

O relativismo no jardim do Éden
O relativismo principiou no Éden com uma sucessão de atitudes de claudicação, de falta de firmeza perante uma excepção divina, que longe de introduzir mal-estar no seio da humanidade, pelo contrário a beneficiava para a Vida. A ordem de Deus foi clara: «De toda as árvores do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás».(1) O efeito da desobediência foi revestido também de clareza: -«porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás ».
A relativização iniciou-se na argumentação do Diabo, que julgou dessacralizar, ou «des-absolutizar» as palavas de Deus. Todas as formas de ordem poderiam ser ultrapassadas, desde que se pudesse condicionar tais ordens a uma contextualização. Assim, esse primeiro relativismo influenciou o comportamento da mulher e do homem, levando ambos a transgredir. Os argumentos de Satanás, que vamos procurar ver em linguagem actual (2), são extremamente sedutores. - «É verdade que Deus disse », e a relativização da verdade divina em relação a um simples gesto quotidiano - comer ou não comer, usar ou não usar - começou aqui. O aceitar essa verdade e contextualizá-la de acordo com nosso pensamento e conveniência. Também o colocar na boca de Deus palavras que Ele não disse. Esta é uma atitude moderna. - «... Que não deviam comer de nenhuma das árvores do jardim? » O chamado diálogo dos diferentes quando não se possui convicções enraízadas ou se conhece mal os conteúdos pode ser (é) prejudicial. E os relativismos de hoje e o pós-moderno propõem muito este tipo de diálogo. -«Não. Nós podemos comer a fruta de todas as árvores do jardim », disse Eva. -«Só da árvore que está no meio é que não devemos comer. Dessa é que Deus disse que não devíamos comer e nem sequer tocar-lhe, senão morreríamos.»
A verdade revelada serviu ao Diabo para rebaixar uma afirmação de fé ao nível da mera metáfora e da história, construindo uma falsa ponte entre estas e a afirmação de fé através da dúvida.
-« Isso não é verdade. Não morrem nada ! »
Estabeleceu-se deste modo o primeiro relativismo, permitindo pensar que nada é certo, nem fixo, que as palavras divinas não eram um absoluto, mas qualquer coisa que poderia ser alterada de acordo com os desejos do próprio ego humano.
Não satisfeito com o lançar a semente da dúvida, dir-se-ia que pretendeu criar um sistema filosófico em que o reducionismo da divindade aos meros sentimentos humanos era já uma pedra basilar do agnosticismo e do ateísmo. - «Deus sabe muito bem que no mesmo instante em que comerem esse fruto os vossos olhos se hão-de abrir, e serão capazes de distinguir o bem do mal.» Versões tradicionais e mais antigas da Bíblia de Almeida dizem: «Sereis como Deus », algo que o Diabo sabia ser impossível por experiência, quando o orgulho o cegou, e que veio lançá-lo no abismo.

Um exemplo de relativismo
No final dos anos 90, um pensamento teológico, oriundo da Grã-Bretanha, espalhou-se provocativamente.
Assentes na então exígua obra de uma professora argentina de ética cristã, Marcella Althaus-Reid, as suas lições na Universidade de Edimburgo reclamavam por uma «teologia sem roupas íntimas». O que a autora queria dizer com isto, é que se deve contestar por exemplo o que chama «a ideologia heterossexual» da Bíblia, procurando lançar na opinião pública um «Deus de muitas faces», para todos e todas as orientações, sejam elas quais forem, o que se nos afigura um novo panteísmo, neste caso ético-moral. É o pós-modernismo, são as interpretações modernas sobre Deus e a Sua Palavra, e de preferência tudo quanto O provoque.

Os relativismos hoje
O papa Bento XVI, com o mesmo estilo indefectível do ex- cardeal Joseph Ratzinger, tem vindo a alertar para os relativismos, chamando-lhe no contexto actual «a ditadura do relativismo» que está a dominar nas categorias do filosófico e da moralidade. Ser levado por qualquer vento de doutrina, parece ser a atitude dos tempos modernos.
Poucas horas antes de ser eleito, o cardeal Ratzinger afirmou o que nós, evangélicos, também subscrevemos, que «é necessário defender uma fé clara», o que definitivamente é o oposto do relativismo religioso.
Tais relativismos, contra os quais também os evangélicos se batem, vêm introduzindo no mercado das ideias e das atitudes éticas, que tudo pode ser alterado por circunstâncias mais favoráveis, que a moral é transitória, do aborto às díspares orientações sexuais, que tudo possui igual valor, que tudo é aceitável. Mas não é.

Monday, November 13, 2006

Regresso a casa depois da tarde

Sem projectos, nem sensibilidade
na ponta dos dedos, dos olhos já caiu
o pano sobre os sonhos perdidos

como um transporte público, como um trem
que ao longe acende o nevoeiro
com a derradeira luz vermelha

nada há
a fazer, abres a porta
e a casa ouve-te em silêncio.

Saturday, November 04, 2006

História

Publicado em Agosto de 1974 na extinta revista «A Seara», do Rio de Janeiro, dispôs que os signatários se declaravam por uma Nova Poesia Evangélica, inconformada e irreconciliável com o decadente e passadista em matéria de expressão(linguagem)e de concepção.

Os falsos profetas

Ouça dizer que ele está no deserto.
Não vá.

O engano é incomunicável.
Passe o céu e a terra
na ponta dos seus olhos.
Não durma.

Presuma que em algum ponto
abutres insistem num voo
de seda.
Não seja.

Saturday, October 21, 2006

Teatro Evangélico-Um Ministério Metalinguístico


Está enganado aquele que tenta desentender o teatro evangélico como outra coisa que não uma arte apta a veicular a mensagem bíblica, através da estética das palavras e da representação.
Não se trata de exacerbação experimentalista, pelo contrário, entendemos que a arte dramática é um ministério metalinguístico com um código de comunicação variado. Pode ir e vai além mesmo da linguagem corrente, tratando dos dramas e conflitos humanos.
No Velho Testamento, a encenação, a representação e as palavras dramatizadas são tão antigas quanto a poesia hebraica.
As encenações seguintes, ambas determinadas pelo Senhor ao profeta Ezequiel, são, por assim dizer, um script de experiências onde se estrutura uma tese - o chamado miolo da acção -, como sinais de aviso a Israel sobre o cativeiro:
«Tu, pois, ò filho do homem, toma um tijolo, põe-no diante de ti, e grava nele a cidade de Jerusalém. Põe cerco contra ela, edifica contra ela fortificações, levanta contra ela trincheiras e põe contra ela arraiais, e aríetes em redor.» «Tu, pois, ó filho do homem, prepara a bagagem de exílio, e de dia sai, à vista deles, para o exílio; e do lugar onde estás parte para outro lugar à vista deles. À vista deles, pois, traze para a rua, de dia, a tua bagagem de exílio; depois, à tarde sairás, à vista deles, como quem vai para o exílio. Abre um buraco na parede, à vista deles, e sai por ali.» (Livro de Ezequiel,4 e 12)
O arco do proscénio, sob o qual na velha Europa e na terra de Shakespeare se representavam as palavras, através da voz, do corpo, da acção, não era necessariamente lugar de pecado. Para o teatro evangélico não o é seguramente, e agora mesmo, nos nossos dias, os palcos para a representação de peças cristãs são abertos, são a própria rua, muitas vezes, são a própria tribuna donde se prega a Palavra de Deus.
O nosso teatro, a nossa maneira de expressarmos com arte o Evangelho, pode abandonar - como alguém escreveu - «a escuridão dos cenários e penetrar na luz do Sol - perante palácios, nos adros das igrejas, nos largos das aldeias, nas colinas», sendo que o que é válido para o teatro dito secular, «mundano», pode e dever ser mais válido ainda para o teatro de conteúdo cristão.
As peças dramáticas cristãs, com base nos quadros bíblicos e veiculando mensagens para os dias hodiernos, não são frívolas, nem para diversão. São para fazer pensar e para ajudar a mudar vidas, seja na vertente do chamado teatro de época (bíblica, do Velho e do Novo Testamentos), seja sob a forma da representação da vida moderna. São uma das mais poderosas ferramentas de evangelização que levam a vivenciar situações, factos, personagens - é o que nos diz um dos mais recentes manuais do género, editado no Brasil pela Hagnos, «O Ministério do Teatro II ».
Claro que tal visão do uso de meios como a arte cénica, terá a ver, também, com o desenvolvimento cultural da comunidade, da sociedade e do país.
Se recorrermos à Internet sobre o tema em apreço, «teatro evangélico », verificaremos que existe uma multiplicidade de oferta neste domínio. As informações sobre companhias de teatro cristão aptas a trabalharem em liceus, igrejas e conferências, como um ministério instituído, designadamente nos Estados Unidos da América, são vastíssimas.
Mas não só. As artes de representação cristãs, a reintrodução de uma cultura cristã evangélica no meio de uma sociedade secularizada e materialista, estendem-se do Reino Unido à Australia, tocam pontos tão díspares como Tauranga, na Nova Zelandia, e Vancouver, no Canadá.
Em português também. Movimentos evangélicos do Brasil utilizam os grupos de arte dramática e musical como meio para proclamarem o Evangelho e a dimensão da vida cristã evangélica.
No âmbito da literatura com intuitos esclarecedores e pedagógicos sobre este ministério tão específico, as artes teatrais como meio de evangelizar, há contudo uma preocupação, ajudar a que não se confunda teatro evangélico com teatro religioso. E aqui as capacidades de discernimento espiritual dos utilizadores devem estar alerta, para uma triagem do que é proclamação evangelística, através da arte, e do que é mera forma de idolatria encenada.

Friday, October 13, 2006

Eppur, si mouve!



Acordamos e a Terra é redonda.

Alisamos os olhos e o mundo
no abismo pede respostas.

Já haverá sol nas árvores
nas varandas e nos telhados
o sol varre as sombras
e os homens pedem respostas
cabisbaixas que não vêm
ao encontro nas calçadas.

Arredondamos a Terra
acordamos o Céu com preces
e os anjos dispõem sobre nós
a brisa matinal das asas.


3.2004

Friday, October 06, 2006

Juventude perdida


Erik Jacobs for The New York Times

Evangelicals Fear the Loss of Teenagers
More than 3,400 teenagers attended a Christian youth extravaganza in Amherst, Mass., last month. But evangelical leaders are worried that other young people are now abandoning the faith in droves.

Créditos do link, do texto e da imagem: The New York Times de hoje.

Wednesday, October 04, 2006

Conto: Uma conversa sobre ruínas

(Conclusão)
Lá fora, as pedras, como as pessoas em multidão, ainda se apertavam umas contra as outras, na solidão. O que restava da sinagoga de Kefar Nahum era, de facto, para além dos artefactos pétreos, toda a solidão de não pertencer a este tempo. Embora também não pertencesse nem aos tempos nem a sinagoga original, narrados no Evangelho de Marcos.
- Sabe, Sheina, lembro-me agora da parte final do poema, que se adequa a este caso, cujos primeiros versos já lhe disse.
- «Há anos que as ruínas / misturam os telhados / e os pátios, as colunas / que repousam do cansaço».
-O poema aqui não conta – Sheina contrapôs com uma brusquidão mal disfarçada na voz. – Não, não é que eu não goste de poesia – emendou, ao ver uma retracção no rosto de Jorge. - A verdade é que sempre podemos colocar vozes nestas salas, no que foram estas salas, quero eu dizer, murmúrios nas paredes - concluiu.
-Murmúrios nas paredes que levantarmos na memória da história… isso é também poesia – argumentou, já recomposto, Jorge, prosseguindo o que julgava ser uma inspiração – A arqueologia tem por função também tirar véus que os séculos, os preconceitos e os mitos, se encarregaram de manter.
E Sheina achou melhor concordar e perguntou, entrando no jogo:
- Já pensou em quantas conversas e orações se encostaram nestas colunas?
- Prefiro a essas análises mais do foro da espiritualidade, a história tradicional das cidades, sejam elas bíblicas ou não - respondeu Jorge. Era apenas um profissional, a sua relação com as pedras era fria, a sua emotividade reduzia-se exclusivamente à poesia. A somar a isso, descendia de uma família que tinha um passado pouco dado a amar as coisas judaicas, embora não fosse como os seus ancestrais do século XVI, um anti-semita, desses que só viam, como o outro Jorge Temudo, os judeus num sítio, na fogueira da Inquisição. Esse seu avoengo remotíssimo fora indigitado, no reinado de D. João III, para espiar e acusar os marranos.
-Há milénios que nós, os judeus, lidamos com a frieza de uma boa parte da humanidade, embora agora se justifique o anti-semitismo com preconceitos de esquerda – disse Sheina, num tom irónico, depois de ouvir aquela pequeníssima parte da autobiografia do seu colega português.
- Há anos que as ruínas / misturam os telhados / e os pátios…- Jorge já começara a repetir os versos, quando Sheina o interrompeu:
-Bem vistas as coisas, o poema até se adequa bem ao que estamos a ver. E cá temos o trabalho arqueológico que serve para destrinçar o que está misturado.
-Claro, para dar uma identidade às ruínas -afirmou Jorge com convicção.
Tinha procurado conservar uma distância razoável de fazer arqueologia fosse em solo israelita fosse no chão palestiniano, por um imperativo de consciência. Jorge Temudo parecia, agora, ter recobrado a sua identificação com aquilo que era uma parte do berço fundador da humanidade.
-Bem vê, Sheina, com um passado anti-semita na família, de expulsões e despojamento de judeus, achava que não deveria vir aproveitar-me da história, ainda que artesanal, monumental, ou o que seja, de um povo a quem se negou a existência – admitiu, com um tom de tristeza na voz, e dirigindo o seu olhar para longe.
Sheina falou por ele, num tom interrogativo, mas a revelar compreensão:
- Porque seria um acto de hipócrisia, no mínimo…
- Pior – concluiu Jorge - seria um perfeito oportunismo.
Mas o que se passara na década de Quarenta com os judeus da Europa Central e os acontecimentos recentes mudaram-lhe as ideias.
Aquele trabalho de campo arqueológico, a céu aberto, cujo sítio os seus colegas já tinham isolado e sobre o qual recaíam agora os habituais gestos de filigrana na obtenção de pequenas provas, estava porém longe de caber no pessimismo do seu poema de estimação. Por mais que continuasse a lembrar-se desses versos.
«(…)as colunas / que repousam do cansaço. / Nossos olhos / as visitam, flutuam, / e perdem-se na poeira das ruas.»
-Estafante este trabalho, mas tem um sabor de aventura - disse Sheinfeld, o outro colega contratado pelo Departamento de Arqueologia da Universidade, que tinha estado a ouvir a conversa entre os dois.
-Aventura, muita vez, connosco mesmo – contrapôs Jorge.
-Embora nós não tenhamos tempo para acompanhar a aventura da história – disse com um ar sério Sheinfeld. Para logo acrescentar, rindo: - Por manifesta limitação de idade.
Aquele trabalho iria ser de largas horas diante de qualquer coisa que no fundo tinha sido abandonada, involuntariamente, pela curta vida dos homens. ©J.T.Parreira

Tuesday, September 26, 2006

Crítica Literária

NADA, NEM MESMO A CHUVA
Um texto de J.T.Parreira
(Análise crítica)
Maria José Limeira

Gostei muito desse texto “Nada, nem mesmo a chuva”, de J.T.Parreira, por causa das palavras simples que o autor utiliza para falar de coisas simples.
Quem poderia contestar as “pequenas gotas como as lágrimas que se movem dentro do coração”? Um mundo de coisas que este trecho exprime, de uma maneira tão singela e comovente... Todos entendem como se processa essa emoção, e é por isto que esse poema ganha o foro universal.
Vemos adiante as “mãos” das “mães” que “guardam as chaves das pequenas nuvens”. Que bonito, não?Falar em nuvens é olhar um céu nublado de onde desabam essas lágrimas-chuvas que o autor enfoca e, no final, abre-se a outras contemplações.
É um texto meditativo sobre os gestos que a Natureza esboça, com um narrador impessoal, que dá elegância ao discurso poético.Quando o domínio se fecha, as mãos se abrem. Muito bom!
(Maria José Limeira é escritora e doce jornalistademocrática de João Pessoa-PB)

NADA, NEM MESMO A CHUVA

Nada, nem mesmo a chuva
tem tão pequenas gotas
como as lágrimas que se movem
dentro do coração
E as pequenas mãos
que sobem pelo rosto
das mães? Ninguém
como elas tem a chave
para tão pequenas nuvens
Ninguém, nem mesmo o silêncio
tem tão pequenas mãos
para abrir
tão fechado domínio.

Sunday, September 24, 2006

A ovelha perdida

Pastor, onde está a ovelha tresmalhada
ferida como um pássaro
que caiu do ninho, que se ergue
num balido apertado entre os espinhos
a confusa ovelha que segue o luar
espargido no chão
na ilusão da água

Que pode fazer uma ovelha sem rebanho
que perdeu o norte ao céu
senão errar, que pode a simples
fazer sob as nuvens
que cruzam o sol, senão baixar
os seus olhos para a tristeza
sob o infinito breu

Envia o coração com os teus ombros
prontos a romperem com firmeza
pelos vales oblíquos, que esperas, Pastor,
o fim da noite larga? Não deixes
que a próxima manhã que espelha o sol
desça e acorde sequer uma janela
e sem rebanho encontre a tua ovelha.

12-04-2003

Sunday, September 17, 2006

No meio da citação e da lamentação: Ratzinger

Foto: The New York Times
No dia do Senhor, como um cristão comum, o Papa teve necessidade de se lamentar, afirmando mais perante os homens visíveis e os Media que do Deus invisível, «profunda tristeza» não por ter ofendido os muçulmanos, mas pela reacção destes ao seu discurso de professor. A atitude de Bento XVI, respondeu assim, no Vaticano, às críticas exacerbadas do Islão acerca das suas declarações do passado dia 12 na Aula Magna da Universidade de Regensburg. Com efeito, neste domingo o Papa germânico afirmou estar «profundamente triste» pela reacção encolerizada contra as suas recentes observações sobre o Islão, as quais vieram de um texto Medieval obscuro do imperador de Bizâncio e não representam a sua opinião pessoal.
A cadeia ABC News, ao referir-se às causas e efeitos que abalaram Vaticano e o Papa, neste final de semana, publicou declarações de um analista da militância islâmica egípcio, segundo as quais «as observações do Papa são mais perigosas do que os cartoons, porque vieram da mais importante autoridade do Cristianismo no mundo, ao contrário dos desenhos que vieram de um artista.»
Por isto, a homília dominical de Ratzinger ( do ponto de vista filosófico-religioso é impossível desunir Bento XVI de Joseph Ratzinger), começou por afirmar que ao mesmo tempo que se sentia grato pela experiência espiritual, pessoal e pastoral, vivida na Baviera, desejava acrescentar que estava profundamente triste pelas reacções ocorridas em alguns países por algumas palavras que dirigiu ao auditório da Universidade de Regensburg, as quais foram consideradas ofensivas da sensibilidade dos Muçulmanos.
A verdade é que ao citar esse obscuro texto da Idade Média caracterizou alguns ensinamentos do fundador do Islão, Maomé, como « maldade e desumanos». Com certeza, referia-se à Jihad e isso levantou uma torrente de raiva e de violentos protestos, como aqueles que se seguiram à publicação das caricaturas do Profeta. Joseph Ratzinger inflamou paixões e agravou os medos de uma nova onda de reacções anti-Ocidentais por parte dos muçulmanos. Teve razão? Esqueceu-se de ser Papa e falou o filósofo da Congregação para a Doutrina da Fé? Seja o que for que se responda, não se pode fugir da realidade objectiva do que vem escrito no Corão. E só a partir daí se pode sublinhar ou não as substantivações de «mal» ou «desumanidade» de alguns pontos fundamentais do Corão.
Com feito, na Sura 9, que trata de atitudes perante os «idólatras», está explicitamente escrito: « Matai os idólatras, onde quer que os encontreis e fazei-os prisioneiros e sitiai-os e ponde-vos à espera deles em todo o lugar de emboscada» e «combatei aqueles de entre o povo do livro(os judeus e cristãos) que não creem em Alá.»( 5 e 29).
Seja como for, este Papa tem a tendência para fazer declarações que fazem estremecer alicerces dentro da sua própria Igreja. Em 28 de Maio passado, em Auschwitz, Bento XVI ou Ratzinger(?), dando a impressão de não ter respostas para o extermínio dos judeus, perguntou «Onde estava Deus naqueles dias? Porque ficou Deus silencioso? Como pode Deus permitir este infindável massacre, este triunfo do mal?»
A forma retórica mais do que o conteúdo das perguntas, o que elas visavam numa orientação vertical, do mais profundo ao mais alto do pensamento humano sobre o Holocausto, correram mundo e houve quem pensasse que o alegado representante de Cristo na Terra estava a atirar para Deus as culpas da Shoah judaica do século XX.

Friday, September 15, 2006

Poesia em PoemHunter.Com

http://www.poemhunter.com/joão-tomaz-parreira/poet-115882/?or=10130
Podem ser lidos 14 poemas, alguns traduzidos para inglês, outros na língua de origem. 6 dos quais de inspiração evangélica.

Monday, September 11, 2006

O homem que salta

O SALTO

Deve ter sentido que voava
do alto da manhã

da janela debruçada
para os sonhos

a cabeça veloz
os braços serenos

para a tranquilidade

os pés firmes
no ar
sentia que voava

11-9-2006

Sunday, September 10, 2006

José

Estou num sonho deserto
debaixo da noite e do dia
no fundo do vento
A mão suja
tenta a saída
do fundo do poço
Mas o céu é um tecto
o céu espelha
só meu grito
sem que ninguém ouça.

Saturday, September 09, 2006

Conto: Uma Conversa Sobre Ruínas

- Este lanço da escada não leva a parte alguma - Jorge Temudo, arqueólogo, lembrou-se repentinamente que já lera um poema que começava assim.
Se calhar, bem vistas as coisas, a recordação do poema não era despropositada, perante as ruínas que naquele momento visitava, como complemento dos seus afazeres, em Kefar Nahum.
Quando pisou o chão do aeroporto de Tel Aviv e olhou para o recanto mais distante da vedação, pareceu-lhe que esse espaço e as ondas do calor se configuravam com um aquário, contendo nele alguns aviões de pequena envergadura, carros de serviço à pista e pessoas apressadas. Tudo parecia dançar, serpenteando acima do solo.
Antes, quando a porta do avião se abriu e lançou os passageiros e a ele também, no ar quente que se dirigia ao Mediterrâneo, vinha a reflectir em outras coisas, a pensar no seu trabalho que o levaria a um sítio arqueológico excelente, às ruínas de uma rua que os seus colegas israelenses tinham descoberto a leste do Aeroporto de Ben Gurion, os restos de uma cidade cananeia datados de há 5 mil anos.
-É a primeira vez que venho a Israel – disse Jorge Temudo a um passageiro como ele, que viajara no mesmo voo e que ia ao seu lado no minibus da El Al.
A declaração de circunstância nada teria de anormal, se Jorge não tivesse dito a seguir, e a conversa ficara por aí, que aquela viagem não tinha sido do seu inteiro agrado. No Aeroporto Internacional havia uma vigilância que beirava a histeria e a obsessão, carros e pessoas que chegavam eram examinados por guardas armados com mini-uzis, polícias à paisana patrulhavam o edifício e as zonas limítrofes do Aeroporto. A globalização da segurança anti-terrorismo.
-Preferiria ter ido ver Persépolis ou Pasárgada a estar aqui, porque estas ruínas não levam, de facto, a parte alguma – ia dizendo depois de se ter lembrado dos versos seguintes do poema.
-« Há anos que dorme / esta pedra, nada acordará / o interior dos quartos.» – Ou então ir rever o Taj Mahal, que quase toda a gente já sabe o que é, que é completo e volumoso - e riu com a sua própria graça, motivado certamente pela companhia agradável.
Considerava-se com muito boa memória, pelo menos para decorar poesia e lembrar-se de outras viagens que fizera.
- Mas a reconstituição da vida, quero dizer do quotidiano, que aqui se passou há vinte séculos, é que dá sentido às pedras na arqueologia – respondeu-lhe a colega do Departamento de Pré-História da Universidade de Jerusalém, que fazia parte da equipe.
Sheina Stern era uma jovem mulher nascida na mistura dum colonato de Gaza, nos anos 70, os seus olhos verdes e grandes funcionavam como dois sinais de alarme para quem, de preferência do sexo masculino, se detivesse a olhar, por tempo demasiado, aquele belo rosto em que o olhar tomava lugar preponderante de mistério e beleza.
Sheina estudara também arqueologia e aplicava-a num contexto de confirmação ou de negação, conforme os casos estudados do que a história de Israel continha de bíblico, embora as suas funções destacadas para aquele sitio onde se descobriram vestígios arqueológicos de uma cidade cananéia com 5 milénios, não implicasse, de modo nenhum, a teologia.
-Confio inteiramente nas pedras, no seu silêncio, no seu discurso silencioso – precisou Sheina.
As pedras não a forçavam a posicionar-se numa religião, qualquer que fosse.
-As pedras não têm crença religiosa, tanto servem a Iavé como a Mamon, mas mostram aquilo em que os homens acreditam- costumava dizer isso e repetiu-o ali.
Quando ouviu estas palavras, Jorge sentiu-se provocado no seu cepticismo e não pode evitar um ligeiro meneio da cabeça.
Sabia que as pedras, em arqueologia, sobretudo na Palestina, têm que ser acompanhadas da palavra escrita, histórica. São quase sempre materiais de cultura pré-histórica, mas também indígena. E foi isso que lhe respondeu.
-Mas, correcto, e a oralidade histórica? Aquilo que tem passado de boca para boca? – perguntou-lhe Sheina, enquanto se preparavam para abrir a porta do «Land Cruiser» e sair.
Jorge percebeu que não seria apenas sobre pedras que iriam divergir, mas isso era bom para os consensos científicos que teriam de afirmar.
(Continua)

Wednesday, September 06, 2006

No Primeiro Dia

«Há um ar de prodígio alguns minutos antes do sol-pôr»
Mário Dionísio

Houve um ar de prodígio alguns minutos antes
do primeiro olhar que Adão lançou ao seu redor
o ar de prodígio depois continuou
exalando um azul fundo
confundindo os horizontes
Já deitava as suas sombras o ocaso
apenas numa cor, a noite
abria entre as estrelas canais de ilusão
e os olhos descobrindo-se de manhã
do seu silêncio começavam
outro dia a solidão.

Friday, September 01, 2006

Uma pequena luz na bruma

Uma pequena luz serena
nítida, contida
num círculo claro,
ao fundo
deste tubo que é
a nossa dor redonda,
brilha, sobre o negrume
do abismo
salvamo-nos
pela firmeza dessa luz?
Quantos olhares
ainda teremos que gastar
até nossas retinas descansarem
na luz que não vacila,
brilha e ilumina?
Um pequeno espaço ao fundo
no extremo
da nossa agitação
no final para a serenidade.
Aí, onde tudo bate
nessa pequena luz ao fundo
que segura o nosso olhar.

20-7-2006

Sunday, August 27, 2006

3 Irmãos-Antologia em ebooksbrasil.org


3 Irmãos - Antologia - Gióia Júnior - Joanyr de Oliveira - J. T. Parreira - Sammis Reachers (org)© 2006 - Sammis Reachers (org) "Antologia, reunindo poemas de três dos maiores poetas evangélicos em língua portuguesa, os brasileiros Gióia Júnior e Joanyr de Oliveira, e o lusitano J. T. Parreira. No objetivo maior de glorificar a Deus, e de divulgar de uma forma mais efetiva e franca o melhor da poesia evangélica em nossa língua, vem a lume esta breve antologia, englobando 3 de nossos mais consagrados poetas." - Sammis Reachers, organizador - Poeta, autor de Uma Abertura na Noite (Poesia Evangélica). pdf

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http://www.ebooksbrasil.org/nacionais/index.html#antologiaevangelica

Friday, August 18, 2006

Dos touros de Lascaux ao cavalo de Guernica

Dos touros rupestres de Lascaux, com a sua semiologia, ao cavalo germinal e ao touro tutelar da Guernica, de Picasso, a distância é longa, de facto, e seria de anos-luz se estivéssemos a tratar meios comunicacionais entre galáxias diferentes. A verdade é que essa comunicação apresenta-se com sinais da mesma entidade, o ser humano, que comunica entre si num mesmo lugar que é a Terra.

Com efeito, estamos diante dos sinais do homem, desde as grutas de Lascaux, onde a riqueza dos signos convoca o estudo dos mesmos pela semiótica, até ao Centro de Arte Reina Sofia, onde a Guernica continua a fazer recuperar uma história trágica da Espanha e dos seus povos, história contemporânea e viva ainda em inúmeras memórias septagenárias.

Os contemporâneos de Lascaux, como quaisquer outros habitantes de cavernas do Paleolítico, conheciam o que hoje modernamente se pretende ignorar: a distinção dos géneros, do masculino e do feminino, eles não trocavam nem promíscuiam a beleza da humanidade composta de mulher e homem. O seu conceito de família era rigoroso, os meios usados para a procriação estavam bem definidos e bem representados, com a precisão simbólica que a capacidade artística para o desenho na pedra permitia. O símbolo fálico do homem e os símbolos ovais para representar a mulher não se misturavam nas paredes das cavernas. Seria uma arte da animalidade, como se lhe chamou, mas a sua leitura semiológica - a interpretação dos sinais - nesses desenhos eram o símbolo do homem e da mulher, do pai e da mãe, eram a representação do núcleo fundamental que é a família.

Os impedimentos para a depravação entre homens e mulheres estavam até graficamente delimitados, a viagem intergaláctica de Sodoma para Roma, através de muitos séculos de maus costumes, não está documentada graficamente como um historial de sentimentos reprováveis e sórdidos. O que a chamada arte parietal, as gravuras nas paredes das cavernas, distinguia, o macho e a fêmea nos seus devidos lugares, milénios depois viria a ser normativo na Bíblia Sagrada. Designadamente nas Cartas de Paulo - a Epístola aos Romanos - onde as paixões infames, a mudança do modo natural das relações íntimas, as inflamações da sensualidade orientadas para o mesmo sexo, são identificadas pelo apóstolo já numa cultura a meio-caminho entre o clássico e a modernidade, comparativamente à época pré-histórica.

Com efeito, Paulo impreca os não-crentes, os ímpios, que supondo serem sábios, com cultura, enveredaram por descaminhos de perversão, sobretudo sexual, contra a própria natureza da intimidade humana, na relação homem-mulher. Sob a luz que ilumina o modo como o homem se perverteu e desviou da correcta adoração a Deus, submetem-se também os desvios dos instintos correctos com os quais o ser humano foi dotado. Alguém escreveu, em comentário de Bíblia de Estudo, que «O efeito da perversão da adoração instintiva a Deus é a perversão de outros instintos, que se afastam de suas funções apropriadas. As Escrituras encaram todos os actos homossexuais sob essa luz. A consequência é a degradação do corpo.» A desintegração daquilo que é verdadeiramente «natural», parecendo ser um produto da cultura e das sociedades urbanas, altamente desinibidas na contemporaneidade, é, portanto, fruto do desvio do homem em relação a Deus.

Thursday, August 17, 2006

Um rio chamado tristeza



Na margem sentado, molho os pés
na tristeza

as águas turvam
o meu reflexo

-eu estampado
na seda das águas? recolho,
com o copo
das mãos,

a espuma
do meu rosto.

Tuesday, August 15, 2006

A Última Ceia sem Código da Vinci

"Sophie estava a olhar para o mais famoso fresco de todos os tempos, A Última Ceia, a lendária pintura que da Vinci executara na parede de Santa Marie delle Grazie".
Assim, com um facto conceptual e uma verdade histórica, a narração de Dan Brown, em O Código da Vinci, todavia conduz o leitor para uma deturpação a-histórica da pintura mais reproduzida e cuja temática obtém a maior consensualidade na História da Arte.
Sophie, "que examina ansiosamente a ilustração", pergunta: -"Este fresco diz-nos o que o Graal realmente é?"
-"Não o que é - sussurrou Teabing-, mas antes quem é. O Santo Graal não é uma coisa. É, na realidade... uma pessoa." (Págs. 284/5)
Deste modo, Dan Brown, já na segunda metade do livro, continua a conduzir através da recuperação de uma proposta gnóstica, esotérica e ocultista, o leitor do seu romance dito histórico.
O objectivo é a conclusão que define "historicamente" ser essa pessoa uma mulher, a Maria Madalena e não o apóstolo João, como séculos de hermenêutico olhar e de estudos sobre a Estética têm ensinado à arte e à cultura, corroborando assim a própria historiografia do Cristianismo.
Depois de tentar falsificar a história do Concílio de Niceia, fazendo a extrapolação de textos fidedignos como o Vetus Synodicon que narra todos os passos das discussões dos primeiros Concílios da Igreja até ao ano 887 a.D; de "banir" os Quatro Evangelhos, por alegados preconceitos machistas e deixar entrever que a sua objectividade está apenas na manutenção do poder masculino da Igreja e não na Boa Nova; e depois de desejar, como contrapartida, que oitenta evangelhos designadamente os gnósticos mais conhecidos fossem mesmo canonizados, Dan Brown decidiu, de um mesmo passo no seu romance, falsificar literariamente a pintura mural A Última Ceia.
A metodologia para falsificar a pintura parte do próprio núcleo da mesma e conduz ao sagrado feminino, ao engenhar uma hermenêutica espúria sobre as duas figuras do centro, como elementos da composição: Jesus Cristo e o apóstolo João ("Maria Madalena", para o prof.Teabing).
Ao pretender desmitologizar o que no grande retrato da Última Ceia é um conteúdo evangélico – o anúncio da traição feito por Jesus à mesa do Cenáculo -, Dan Brown exerce a contradição em O Código da Vinci, através de uma mitologização maior e blasfema da vida histórica de Jesus, ao pretender fazê-lO simples homem mortal que "pôde" casar e ter descendentes, criando assim um mito.
Do ponto de vista da crítica de arte mundial, que tem sido exercida com erudição sobre esse quadro do maior pintor da Renascença, a unanimidade em torno das figuras da Última Ceia assenta em exclusivo nas de Cristo e Judas, consideradas bíblica e conceptualmente as figuras centrais.
E foi assim que o Leonardo da Vinci as interpretou, tornando-as elementos-chave da grande composição.
Perante o quadro a nossa reacção sincera, com honestidade intelectual e algum conhecimento religioso, só pode pautar-se pela verdade histórica, que da Vinci representou como o drama sagrado do Cenáculo, a resposta dos Doze à profecia de Jesus: "Um de vós me trairá".
Com efeito, a Última Ceia é um documento onde se pode apreciar o estado moral de uma pequena comunidade, a qual tomada de um plano geral valorizado pelo sfumato ( sombreado) quase atmosférico, nos revela os desfalecimentos, as resignações, os espantos, acima de tudo o recuo evidente da figura de rosto sombrio de Judas Iscariotes, que se esconde na sombra.
Impressionante em múltiplos aspectos, este fresco pintado nas paredes de um refeitório de padres dominicanos, em Milão, entre 1495 e 1497, identifica Judas Iscariotes por três pormenores; dois estão ligados à sua personalidade: o não estar na luz, afastado que está do centro estabilizador de todo o tumulto emocional ( a figura de Cristo), e a forma adunca da sua mão esquerda, como se fora uma ave de rapina; o outro pormenor, é da ordem da estética e da referência cultural. A figura de Judas terá tomado por modelo o controverso padre reformador Savonarola.
Seja como for que se aprecie a pintura que está no Convento delle Grazie, segundo as perspectivas do Renascimento sobre a luz, a anatomia, a psicologia do gesto e da expressão, não podemos deixar de a analisar também pelo mistério, pela intensidade dramática, pelo momento bíblico e histórico que a motivou, nunca porém atribuindo-lhe "valores" ocultistas ou uma qualquer codificação secreta absurda.

Monday, August 07, 2006

Poema: Mulher com Cântaro

Para onde vai essa mulher com o sol
dentro do cântaro
sobre os cabelos, o silêncio

vão devagar
as sandálias, devagar
os pensamentos

em cinza a cor rósea
dos pés, o poço
espera desde o fundo

das águas ancestrais
Para onde
vai essa mulher?

Com amor avança
abrindo no ar
os raios solares.

Saturday, August 05, 2006

Joanyr de Oliveira e um jovem poeta, em 1974

No Mensageiro da Paz, do Rio, Joanyr de Oliveira
dava nota crítica favorável ao primeiro livro, Este Rosto do Exílio,
de um jovem poeta evangélico português, foi há 32 anos.
No final do texto dizia: «trata-se do ponto culminante da poesia
evangélica em língua portuguesa.»

Wednesday, August 02, 2006

Poema: As redes tristes

Chamaram dos ramos do mar
os pássaros marítimos
chamaram do fundo
do volumoso silêncio
os peixes, como se fossem
os olhos da noite
Chamou uma sereia de vento e sal
E dos dedos dos pescadores
as redes tristes
saltaram com setas.

Thursday, July 27, 2006

Filmes numa sociedade cristã (e livre)

Há apenas cinco décadas atrás pensava-se que o cinema, dada a sua índole cultural, não se impunha a si próprio a obrigação de comunicar factos nem verdades. Como é exigido aos mass media em geral. O cinema era Arte, a designação comum em que se estruturava a ideia sobre esse meio de comunicação.
Com efeito, estudado como tal esse veículo da comunicação de massas é um instrumento para apoiar o imaginário, de um nível mais correcto ao mais torpe, seja através das stars (actrizes), dos astros ( os actores mediáticos), das temáticas diversas do entretenimento ao educacional, da ficção ao documentário, das obras literárias transpostas para os ecrans, até do endeusamento das políticas e das obras dos grandes ditadores do século 20, na Alemanha Nazi ou no regime de Estaline.
Nos primórdios do cinema, as pessoas sentiam-se fascinadas pela magia de verem imagens a moverem-se de um lado para o outro. O primeiro conjunto de imagens em movimento, universalmente conhecida, data de 1895 e tinha o título Sortie des ouvriers de l'usine Lumière.
Poderia ter marcado o cinema como meio de expor a realidade social, no século 19. Mas não, o que iria advir do cinema seria o sonho.
Sem dúvida, tonar-se-ia numa comunicação de mitos, num estudo feito em 1968 afirma-se que «99,44 por cento dos filmes feitos na América e igualmente no resto do mundo -desde o Grande Assalto ao Comboio, o primeiro «western» feito em 1903- serviram para comunicar mitos.»
A América que tornou essa arte cinética em indústria, também lhe definiu as regras no passado, baseando-se e bem na sua ancestralidade assente no puritanismo religioso e evangélico. Nas primeiras décadas do século passado, um organismo estabelecia o Código de restrições morais, não se poderia abordar temas como o divórcio, o aborto e as misturas raciais.
Hoje existem razões mais fortes para pensar que não seriam despiciendas de todo algumas restrições, quando a indústria cinematográfica entra em áreas como as da religião, das confissões religiosas e do culto divino.
À excepção de uns poucos filmes de rigoroso carácter histórico-bíblico (destaco o pacífico Os Dez Mandamentos, de Cecil B.de Mille, 1956; e o controverso O Evangelho Segundo Mateus, de Pasolini, 1964, e.g.), outros foram realizados, na América e na Europa, sobretudo, que subverteram a ideia da ética, da liberdade religiosa, até do espírito dos direitos constitucionais ( liberdade de consciência) no que concerne ao nosso pensamento e maneira de sentir o sagrado.
E a década de 70 que já produzira coisas como a peça musical Jesus Cristo Superstar, abriu a partir do final as suas portas a um cinema de contra-cultura religiosa, digamos assim, que marcou os anos 80 com uma reescritura da História Cristã, do seu capítulo mais importante, a Paixão de Jesus Cristo e a superveniente Ressurreição.
Salvo melhor opinião, o mais mediático e controverso foi o filme A Última Tentação de Cristo, realizado em 1988 por Scorsese ( não coloco em paralelo o francês Je vous salue, Marie, de Godard, 1985, uma metáfora do dogma da Encarnação para o mundo moderno).
Em A Última Tentação… coloca-se em causa a perfeita humanidade de Cristo, objectivando-O sob a lente de uma comum humanização, privilegiando a instância terrena de Jesus, que «é» um carpinteiro que vive um grande dilema, pois é quem faz as cruzes com as quais os romanos crucificam seus oponentes; erradica-se também o dogma da Ressurreição, e quando se acentua o fenómeno da tentação, será mais do foro da dúvida sobre a missão redentora do que da alegada atracção física por Maria Madalena, ou do seu olhar sobre o seu possível futuro, casado e com filhos, optando pela vida sossegada dos homens.
Será também a dialética da tentação do Jesus do filme sobre a verdadeira identidade da sua natureza. Scorsese mantém, no entanto, na atmosfera do filme a possibilidade da divindade de Jesus, mas é evidente a característica redutora do argumento a um Cristo totalmente humano extraído do romance do grego Nikos Kazantzakis.
De resto, trata-se também de uma paradigmática incursão no domínio da ficção, a repetir alguns evangelhos gnósticos que hoje se mediatizaram.
Um outro filme menos mediático, da área do cinema alternativo ou de autor, é o Jesus de Montreal. Em sintese é um filme que segue a lógica da crítica social urbana do nosso tempo, menos do que a crítica religiosa. Todavia, ao colocar toda a encenação na urbanidade de uma cidade como Montreal, no Canadá, isto é, um cristo metido nos problemas quotidianos do homem moderno, da sociedade contemporânea decadente, ao mesmo tempo põe-se em causa a ética, a moral, a teologia, o dogma cristão. Designadamente, propõe-se no filme uma caricatura da ressurreição de Cristo, sob o prisma da ciência: o actor que faz a personagem de Jesus doa seus órgãos para transplantes, e isso «é» a ressurreição.
Releituras ao sabor de ventos «doutrinários» sincretistas, reescritas pós-modernas dos Evangelhos, foram muitas e várias depois dos 80.
Finalmente, faz hoje algum sentido perguntar-se o que tem feito a cinematografia pela religião, designadamente pelo Cristianismo.
Face a um filme tido por quase pregação evangélica, como o mediatizado e recomendado em algumas círculos cristãos A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, em que o sadismo ultrapassa todo o comedimento santo dos Evangelhos na exposição da paixão e morte do Amado, deve-se perguntar, sim, se é lícito usar os Evangelhos a fim de os reescrever com sensacionalismo. Um erro que se cometeu, sem dúvida, foi o de diabolizar um meio que estamos hoje a aproveitar até à exaustão, mesmo com filmes tipo gospel.
É que estamos involuntariamente a ultrapassar a excessividade da formulação do paradigma do Marshall McLuhan: «The Medium is the Message» (1967), o Meio é a Messagem, onde se vê que o simples meio ou canal se converte na própria mensagem.

Monday, July 24, 2006

O Irmão

O Irmão

disseram-lhe do pai
quando já estava morto
ele na cidade grande
e o pai penando, não se fazia isso a um
irmão, não se deixava de fora uma pessoa
só porque ela precisou deixar a própria casa
perder-se numa cidade de cão sem ninguém
não se fazia essa maldade a um filho que nunca
mais ia poder dizer pai cheguei voltei pai

In A Máquina do Mundo

(Vera Lúcia de Oliveira. Ensina Literatura Portuguesa e Brasileira na “Università degli Studi di Lecce” (Itália) )

Friday, July 14, 2006

Há 40 anos, na Figueira da Foz

Há 40 anos. Hoje, alguns são sexagenários, outros estão quase lá...
Todos têm nomes
e funções, uns são mais públicos do que outros...
...mas vão todos ainda pelo mesmo Caminho.

Tuesday, July 11, 2006

"Millennium" em Poets.org (Academy of American Poets)

The lion will not be quicker than the ox
in pasture search.
The lamb and the bird
will be a poetical form,
the wolf will have the kiss in its mouth.
The dove and the eagle,
sailing
in waters of white silt.
Then an angel will make
of the Earth a lyric state.

(J.T.Parreira)

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This is riveting, reminiscent of Blake. I, too, am baffled by lines 3 and 4. ("Bird" seems too generic a term in a poem where all the other creatures are specifically identified.) Lines 7 through 9 also stick out a bit, being a sentence fragment in a work otherwise composed of complete statements.

(Archy)

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Surreal, which I like, but abstract, which I do not. The metaphors could be fleshed out: The lamb and the bird will be a poetical form, How?

(G.Wilkens)

Monday, July 03, 2006

Poeta e Médico: Amigo

Queda

"Quanto a mim, com justiça verei a tua face;
ao despertar, eu me saciarei com a tua imagem
." (Sl 17,15)


assombro
sombras erodindo a face trágica
ofélia e julieta jazem
ávidas
e as cotovias sujam as manhãs
(quase como arribaçãs)
teu peso
é como água morta sobre a página
é um escorpião picando
a alma
o despertar da fome (solidão)
eu homem
meu nome foi espelho e ave tácita
hoje é sol ardendo o rosto
inválido
onde a cruz de uma saudade cai
(signo torto contra o
Pai)

(Celso Boaventura Jr, Rio de Janeiro, 1971-)

Saturday, June 24, 2006

Memórias aos 59

When I look back, I see a collapsing
accordion of my receding houses
Robert Lowell


Quando olho para trás, vejo o colapso
da minha infância, a derrocada
dos meus calções de golfe
e camisas aos quadrados,
ao mesmo tempo que o das casas
e dos quartos e das janelas
em que debrucei os meus
primeiros, inocentes olhos
e assim a sucessão
das ruas em lisboa
quando olho para trás
vejo meus pais
a quererem talvez mover-se
para o futuro.

Tuesday, June 13, 2006

Sófocles ou o Equívoco do Destino

Mergulhar na problemática das origens do homem, se por um lado é rebuscar o inocente, que a Bíblia revela antes da Queda, é, por outro, o confronto com a realidade do livre arbítrio, a liberdade da criatura humana poder escolher entre o Bem e o Mal.
Já o mergulho na mesma problemática nas obras trágicas de Sófocles- sobretudo no triângulo Sófocles-Édipo-Antígona - é, sem dúvida, o mergulho nas origens mitológicas do destino, que, segundo o autor grego, traça a vida do homem dominado pelos deuses, sem esperança.
O herói trágico grego tem que enfrentar um poder mítico sediado nos deuses, numa ideia de ética elevada sem redenção, o que é contrário à Graça de Deus revelada na Bíblia Sagrada e na Teologia Cristã.
Sófocles traça esse roteiro da desesperança, embora repleto de moralidade natural e lições de vida e de justiça, em quase todas as suas peças que chegaram até aos nossos dias.
As tragédias mais conhecidas e que continuam a impressionar a cultura ocidental, a arte e a estética dramáticas, a filosofia e, sobretudo, a ciência psicanalítica, são indubitavelmente Édipo Rei, Antígona e Electra.
Qualquer um destes monumentos da Literatura do Mundo, milenar e intemporal, da Antiguidade Clássica, traduzem aquela que era a visão de Sófocles, isto é, que o homem era um joguete nas mãos dos deuses, que o destino traçado lançava os homens, amarga e demolidoramente, na vida, sem possibilidades de perdão.
Por exemplo, o conceito ateniense, sófocliano, de destino personificado, fortuna , sina , num vocábulo grego moira, são disposições fatídicas, são alguma coisa assim como o determinismo, que somente poderiam ter lugar no mundo helénico.
Como sabemos, a Palavra de Deus não usa, conceptual e religiosamente, o termo Destino. Todavia quando utiliza, nas nossas versões, os termos Destino e, até, Fortuna ( Isaías,65,11), carrega os mesmos com a tonalidade das cores negra e cinzenta dos ídolos (os deuses Gade e Meni, sírios ), com os quais não pode haver comunhão, a tal ponto que a versão do Velho Testamento para a língua grega, a Septuaginta, lhes chama daímoni (demónio ou espírito do mal).
No entanto utiliza o verbo destinar ( fazer algo em favor de ), que tem a ver com a soberana vontade divina e, no mesmo plano, com a misericórdia e amor de Deus. O Apóstolo fundador da cultura cristã ocidental, escreveu aos tessalonicenses que Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante Jesus Cristo (I, 5,9),apesar da culpa. Esta asserção é universal, embora esteja aplicada em primeira mão aos crentes.
Em caso nenhum classicamente conhecido, nas tragédias de Édipo Rei ou de Antígona , para apenas citar estas duas obras-primas, a culpa tem redenção.
O modelo deveria ser assim, o próprio Aristóteles vê na primeira peça o seu ideal, isto é, o trânsito da felicidade para a infelicidade, o terminar no infortúnio, jamais o contrário, pelo menos conforme as suas regras estabelecidas em Poética .
O erro humano nos trágicos gregos, chamado hamartia, ( como também mais tarde no Novo Testamento) pagava-se caro e não tinha possibilidades nem de remissão nem de deixar de ser cometido nas acções iníquas, à luz da moral e das leis da Cidade. Édipo declara «os deuses detestam-me » e este é o tom do seu infortúnio, a razão de ser dos seus males predestinados.
«Que tempestade de terríveis desgraças derrubou o Édipo », declama o Coro, ao contrário do que se passa noutra tragédia, Antígona, do mesmo dramaturgo grego.
Nesta, a heroína Antígona sem vatícinio fatídico traçado à priori , quando se vê confrontada com a fatalidade, com o destino, revolta-se contra os desígnios, mais dos homens que dos deuses. Seja como for, Antígona enfrenta o destino; Édipo é apanhado no meio do turbilhão dos seus equívocos. Antígona arrisca revoltar-se - «Queres ficar do meu lado? Queres arriscar comigo? »- pergunta à sua irmã Isménia. Arriscar contra o quê? O destino escrito de que se desse sepultura condigna - dir-se-ia pré-cristã - ao seu irmão Polinices, estaria a desobedecer às leis do tirano Creonte e seria condenada à morte por tal acção de amor.
Seja como for, os dramas gregos retratavam o ser humano a meio caminho entre os fios que moviam como que uma marioneta, manobrada pelos deuses no seu presente, e o destino traçado pelos oráculos no passado. O protagonista humano, ou mesmo semi-deus, nas tragédias gregas, não tinham genericamente meio de se libertar.
Deuses, semi-deuses, humanos, não resolviam na tragédia grega nenhuma pendência entre si, que não fosse estruturada nas palavras e na vontade do oráculo, fosse numa realidade histórica remota - Édipo já vinha da ficção homérica-, que por sua vez já derivava da mitologia, fosse na metaforização do religioso.
Os seres humanos da maior parte das tragédias dos autores atenienses do Século V a.C, não poderiam renunciar a nada que estivesse lavrado nos autos do predeterminismo. A sua relação com o divino, era a relação com um deus-ex machina, com os numes de quem todos os acontecimentos dependiam. O equívoco e a desesperança faziam parte desta relação. Não obstante o valor do homem aos «olhos » das divindades ser evidente, o ser humano sofria, segundo o pensamento trágico dos gregos, de uma impossibildade congénita de encontrar a salvação, de vencer o mal, retratado na figura do Hades.

Friday, June 02, 2006

A Lei da Gravidade

Nascemos aqui
é esta
a nossa casa

somos a prova
que contraria Newton
a lei

da gravidade,voamos
dentro das cores
dos nossos olhos

pequenos, pomos
no coração
grandes coisas

gravitando no sangue
um amor, um peso
as lágrimas

caímos com a noite.

13-05-2006

Thursday, June 01, 2006

O percurso histórico da Bíblia Sagrada

A Bíblia na Cultura Portuguesa

Em Outubro de 1835 a Sociedade Bíblica de Londres envia a Lisboa George Borrow com o propósito de difundir a Bíblia em Portugal. Sabe-se pouco sobre esta estadia, conhece-se no entanto a finalidade da mesma, a divulgação da Bíblia desde a perspectiva cristã evangélica. Infelizmente muito pouco as autoridades de então deixaram fazer, razão pela qual o enviado da Sociedade Bíblica Britânica e autor da obra The Bible in Spain, de 1842, rumou para a dita Espanha a fim de distribuir as Sagradas Escrituras.
Assim, a primeira ideia que nos ocorre é a de que a relevância da Bíblia na história e na cultura portuguesas, se prima por alguma coisa é pela ausência. Apesar de um século e meio pelo menos de esforços evangélicos e de Sociedades Bíblicas. Tomando mesmo em linha de conta iniciativas extraordinárias, de grandíssimo alcance social e religioso, como a Bíblia Manuscrita que transversalmente passou em 2004 por todo o país e que o Ministério da Cultura considerou de «superior interesse cultural».
Contudo, a investigação das Escrituras Sagradas, de uma forma definitiva designadas por Bíblia Sagrada, Velho e Novo Testamento, foi, é e continuará a ser a melhor influência para tradições artísticas, filosóficas, históricas e da própria narrativa literária de qualquer nação.
Neste campo, os próprios estudos de dialogia de Mikhail Bakthin, por exemplo, são matéria de referência, sobretudo quando aquele teórico linguista e filósofo da linguagem russo escreve sobre a polifonia das falas das personagens, autonómas mas relacionadas umas com as outras, no mesmo texto, ou sobre a polifonia de um texto em diálogo com outros textos. Digamos que existe polifonia há séculos em inúmeros relatos bíblicos do VT (vd. o que poderemos considerar um paradigma nos textos II Samuel 12 e Salmo 51) e dos próprios Evangelhos em que há, por assim dizer, uma verdadeira sinfonia polifónica, na qual o seu Autor, o Espírito Santo, respeitando as personalidades de cada autor sagrado, a sua cultura, a sua geografia local, até as suas contextualizações sociais e políticas, inspira, revela e age em tudo o que concerne ao Homem, porque este é o único alvo e receptor da Palavra Divina.
É usual afirmar-se que as duas grandes fontes do conhecimento moderno do mundo e da humanidade se encontram nos velhos campos da Grécia e de Roma, apesar de Fernando Pessoa afirmar sempre que a transição cultural da Grécia para Roma se tenha exercido por meio da decadência. Seja como for, acrescenta-se normalmente que o mundo judaico-cristão, que as desafiou e absorveu, também bebeu dessas fontes.
E a provar esse entendimento, é costume falar-se em figuras fundadoras e com obra fundacional como Homero, Sófocles, S.Paulo ou Dante, entre outras.
Há, porém, um Livro que contém Civilização, que aborda as Ciências Naturais, as Geografias, a Zoologia, a Biologia, que fala do Ritual religioso, do Heroísmo, das Epicidades, da Poética, que aborda até a Filologia, que esclarece sobre Humanidades e que revela a Divindade, afinal as origens da fundação de tudo. É incontestável o nome desse Livro, Bíblia Sagrada, que na diversidade unívoca dos seus 66 livros é a Palavra de Deus, traduzida para as nossas línguas modernas e vivas por Lutero na Alemanha ou por Wycliffe e William Tyndale e autorizada pelo Rei Jaime, na Inglaterra, ou traduzida por J.N.Darby ou Louis Segond, na França, Casiodoro de Reina e Cipriano de Valera, em Espanha, ou por João Ferreira de Almeida em Portugal.
Um exemplo como simples indicador, embora a sua importância seja incontornável, está no facto da Bíblia constar no currículo do Departamento de Literatura do conceituado MIT (Massachusets Institute of Technology). Há também notícias científicas de que constou como cátedra importante na nossa Universidade de Coimbra.
Este texto pode ser lido na íntegra em: www.portalevangelico.pt

Saturday, May 27, 2006

Petição em favor das Línguas Clássicas em Portugal

No seguimento da recente reorganização da rede escolar e dos agrupamentos de disciplinas, o ensino das línguas clássicas passou a residual nas escolas secundárias, e em muito poucas, e corre o risco de desaparecer em breve do ensino superior. (...)
Os signatários, cujos nomes se seguem, fazem, pois, um apelo aos nossos governantes e à opinião pública: - pedimos que não reneguem as próprias raízes greco-latinas de uma concepção nobre da política e da sociedade, ética e à escala humana; - reivindicamos o restabelecimento de condições que facultem a todos os jovens a possibilidade de estudarem as línguas e as culturas clássicas em todos os níveis de ensino, das escolas básicas e secundárias às politécnicas e universitárias.
Promotores: APEC — Associação Portuguesa de Estudos Clássicos, Instituto de Estudos Clássicos da Universidade de Coimbra, Departamento de Estudos Clássicos da Universidade de Lisboa.

Wednesday, May 17, 2006

A Mulher de Lot


They say I Looked back from curiosity
Wislawa Szymborska

Dizem que olhou para trás pela única esperança
que Deus pudesse ter mudado a sua mão
talvez se dissipasse o fogo
na órbita do sol, talvez o enxofre
fosse levado até à orla marítima
do vento
Dizem que olhou para trás por admiração
para ver um fogo a competir com outro fogo
Dizem que olhou por um equívoco
que estava a ver o princípio do mundo
Dizem que foi por teimosia
que a flor azul relutava
contra o fio dos seus cabelos
Dizem que por inexperiência olhou para trás
Dizem que olhou por curiosidade
a certa altura do primeiro relâmpago
a riscar a noite e a dissipar a dúvida
Dizem que olhou para trás por um vestido
que ficara sobre a cama de um modo leviano
Dizem
dizem que foi o coração que olhou para trás
porque este é um órgão imprevisto
cego que anda em busca de si mesmo.

Monday, May 08, 2006

A sarça que não cessa

Entre urzes e pedras as rotinas
pastoreio, minha vara e meu cajado
o chão levantam, ruminam
como se tivessem as ovelhas
na boca palavras intangíveis


Agora olharei a sarça que se abre
numa visão esculpida no arbusto
que se abre ao lume
que treme ao vento
a sarça onde só o fogo arde


Lanço de longe o olhar
para o crepitar do silêncio
Está Deus a tecer a sarça
no seu lume rendilhado
como nas mãos invisíveis?


Está a sarça a tecer o divino
sinal que o Senhor envia
ao vegetal indigno


Doem-me os olhos
nas cicatrizes da sarça
mas olho e a minha alma
se alumia, olho e tanto milagre
acende nos meus olhos
os cristais da alegria.

4-2004

Monday, May 01, 2006

O Esfarelado Evangelho de Judas


No Portal Evangélico da Aliança Evangélica Portuguesa publiquei, no dia 29 do passado mês de Abril, um artigo sobre o momento de «reescrita» de um aspecto crucial da Paixão e Morte redentora de Nosso Senhor Jesus Cristo - a publicação do «Evangelho de Judas». Um excerto desse mesmo artigo, é o que abaixo editamos.
Bloco de textoO documento de 26 folhas denominado Evangelho de Judas, um estranho papiro que sofreu as dores de parto de uma história rocambolesca para aparecer, «escrito» por membros da seita gnóstica e herética no século II, não «existe» enquanto Teologia.
Que Judas agiu sob consentimento divino, mas com plena liberdade ética, é, de facto, um debate teológico, porquanto o Pai consentiu no sofrimento do Filho, de acordo com as Escrituras.
Mas que a crucificação foi «uma reencenação da profecia bíblica» - segundo um teólogo britânico, a propósito do caso – já é apenas uma observação do criticismo moderno sobre a teologia da Bíblia.
A verdade é que o VT não propôs encenações, mas adiantou tipos, figuras, sombras, que se concretizaram no Novo Testamento, sendo a Expiação dos pecados da humanidade pelo Filho de Deus a centralidade dessa tipologia e a sua realização.
Mesmo a existência física desse alegado Evangelho de Judas foi controversa, apesar de ter sido atestada pelo primeiro bispo de Lyon, Irineu, que no mesmo século II não deixou de denunciar o texto como herético.

Thursday, April 27, 2006

O Pobre

O Cristo Solitário, de Kramskoy
Um Cristo hamletiano



As aves têm o céu
no seu ninho,

as raposas onde esconder
seu olhar.

Eu estou sozinho, sem pedra
onde pousar o meu sono,

e onde meu corpo passa
vai minha casa.

(J.T.Parreira, in «Pássaros Aprendendo Para Sempre e Outros Poemas»)

Tuesday, April 25, 2006

Gilberto Freyre, um Evangélico

Influenciado pelos mestres do colégio, tanto quanto pela leitura do Peregrino de Bunyan e de uma biografia do Dr.Livingstone, toma parte em actividades evangélicas e visita a gente miserável dos mocambos recifenses.
Interessa-se pelo socialismo cristão, mas lê como uma espécie de antídoto a seu misticismo, autores como Spencer e Comte.
Em 1917, conclui o curso de Bacharel em Ciências e Letras do Colégio Americano Gilreath. Eleito orador da turma, cujo paraninfo é o historiador Oliveira Lima, desde então seu amigo, faz-se notar pelo discurso que profere. Começa a estudar grego. Torna-se membro da Igreja Evangélica, desagradando a mãe e a família católica.

Saturday, April 22, 2006

A metáfora do «Deserto»

Joseph Ratzinger deu início com uma metáfora ao chamado exercício espiritual da Quaresma na última Páscoa.
O referente que usou para incorporar essa metáfora, foi o lexema «deserto». E afirmou que «il deserto è un percorso interiore di liberazione».
O diário L'Osservatore Romano do passado 6 de Março, ilustrava o período dos 40 dias com um título em que o «deserto» se assumia como palavra recorrente. No corpo do artigo, observava-se ainda que as palavras do Papa exortavam todos os católicos, em princípio, a uma «semana de silencioso e suplicante recolhimento», convidando-os a transformarem sua oração em silêncio, e cada dia a dirigirem seus passos para esse longo «deserto».
Compreendemos o sentido da figura, porque o deserto foi, desde o Velho Testamento, o lugar de passagem da provação e das privações para a alegria e a abundância, foi também o lugar do reassumir forças físicas e espirituais para desenvolver um ministério de renovação de carácter nacional, no caso de Elias refugiado numa caverna, no deserto, lugar onde também Jesus Cristo fez a passagem ritual da tentação para o ministério, para prosseguir a Sua Obra redentora.
Embora no deserto não existam atalhos nem obstáculos, como bem referiu Ratzinger, nem rumores de fundo que impeçam escutar uma voz límpida e que preencha todas as amplidões, sabemos da miragem que os ecos podem ser e que tais ecos não são a Voz de Deus. Esta, no plaino rural ou na efeverscência artificial da urbanidade, só pode ser ouvida através da própria Palavra de Deus, da Bíblia Sagrada, onde o Espírito Santo fala connosco.
O crente deve estar precavido para saber distinguir «las vozes de los ecos», como ensinava o poeta espanhol Antonio Machado. O silêncio, certos silêncios, são por vezes tão confusos e enganadores como os ecos.
Na verdade, na Quaresma procura-se eliminar os ecos e ficar-se pelo silêncio, trata-se segundo o conceito romanista de «uma ocasião de conversão e do mais corajoso impulso para a santidade» pelo silencioso e suplicante recolhimento.
A conversão, segundo esse conceito quaresmal do catolicismo romano, já não vem assim através da confissão dos pecados, o que implica falar, expor-se, abrir a boca e o coração para Cristo, como o apóstolo Paulo ensina aos Romanos, pelo contrário, vem antes pelo silêncio.

Monday, April 17, 2006

Bíblia de 1891, achada numa rua de Londres

Verão de 1977, sábado, hora do fim de mercado de rua, talvez por se chamar Church Street, ali para os lados da Edgwere Road difusamente na memória, encontrei no lixo esta preciosidade.
Era de 1891. E não há nada como a Verdade que o tempo não abala. Nos Evangelhos, Judas Iscariotes é tratado canonicamente, sem as ficções do seu agora divulgado pseudo-evangelho.

Thursday, April 13, 2006

Edital para os Judeus

(c) Fotografia extraída do «New York Times» on line, publicada ontem, dia 12.



Não devem ir para Leste, os vossos olhos
escuros são recantos de penumbra
pelas ruas, o ódio não desarmou
ainda a morte

Nem para Ocidente, não é bem-vinda
a vossa estrela, o Norte
e o Sul são polos divididos

Ninguém se lembrará das nuvens
de cinza sobre as cidades nocturnas
que vos devolvia ao chão

Sois um arquétipo e o mundo
teme ainda o estranho amor
do vosso início
entre Jeová e Abraão.

(Extraído de www.poetasalutor.blogspot.com)

Wednesday, April 05, 2006

A Peste

Cidades felizes hoje já não existem, porque cada nova manhã pode trazer em si o pesadelo. Nova Iorque, a 11 de Setembro acordou radiosa, mas a luminosidade do céu sobre a Downtown escondia os pássaros prateados da morte.
O homem, individual ou colectivo, não pode cometer a temeridade de afirmar o absoluto de uma manhã feliz. Há uma atmosfera de ameaça no ar.
La Peste anda no ar, nas notícias, nas mentes dos cidadãos, nas peripécias do mundo. A Peste, quer dizer o terror do sofrimento e da morte, a enfermidade, o exílio numa cidade que pode fechar-se de quarentena, a separação das famílias.
O escritor Albert Camus quando escreveu o romance «La Peste», insistiu no livro inteiro com esta mesma ideia da separação da família, na prática «não há outra coisa senão homens sozinhos no romance».
O escritor baseou a sua obra sobre um facto moderno, real que ocorreu durante os anos 1941 e 1942, quando uma grande epidemia de tifo fez enorme devastação na Argélia, fornecendo o local exacto para o romance - a cidade de Orão-. Pensa-se que o número dos contaminados tenha atingido os 255.000.
Na Idade Média, a Peste teve sempre uma relação com os aspectos escatológicos da religião, a humanidade ornava-se com gravuras, pinturas, palavras quase sempre baseadas no conceito de castigo dos Céus. No ano de 1348 « no mês de Agosto, viu-se sobre Paris uma estrela, na direcção do Oeste, muito grande e muito luminosa» - escreveu alguém, dando a esta visão um sentido premonitório. E foi a chamada Grande Peste de 1348.
A Morte, depois do século XIII, deixaria de ter uma imagem ideal, quase de parábola de Lázaro levado ao seio de Abraão pelos anjos, morte serena, e passou a mostrar-se através de cadáveres decompostos, descarnados, pestilentos. De tal forma este tipo de morte pestífera impressionava a Europa, que nas paredes dos próprios templos figuravam danças macabras. O homem dessa época estava dominado pela angústia.
O mundo está hoje dominado por essa mesma angústia. Calígula, na peça de Camus, «descobriu» que os homens morriam e não eram felizes. As pestes mortíferas não estão assim tão adormecidas no ventre do Mal, nas possessões do deus deste Século - o Diabo-, não podemos esquecer-nos que La Peste tem hoje outros nomes: Sars, Ébola, Sida, Gripe Aviária...
E que faz o homem religioso, que tem maiores responsabilidades do que qualquer outro? Contenta-se, como diria o padre Rieux de «La Peste», com o visitar Deus ao domingo.

Saturday, April 01, 2006

O Tempo que passou

Edição da Pró-Luz, em 1975


IGREJA

Aqui cantámos e quisemos
Senhor que a noite despertasse
Aqui subimos aos Teus olhos
Na voz em que bebeu a nossa face

Não científicos mas nus
Trajados de lírio e som
Sofremos na limpidez da chama
Nossas veias sob a Cruz

E eis o Teu corpo nupcial
Intacta messe
Como este amor pedia

Vigilante apenas
E os lábios
Construídos de alegria.

(1972)

Friday, March 24, 2006

Anotações na margem do Salmo XXIII

Contra os lobos defenderei a casa
de meu Pai, as minhas ovelhas
contra o raio que se esconde
entre as nuvens, por detrás das árvores,
e quando o frio ranger os ossos
não lhes faltará o lume,
defenderei os pastos e as raízes
das torrentes que partem depois,
um rio profundo,
defenderei a casa de meu Pai
contra o vento
que no céu arrasta o trovão.
Não lhe faltará nunca
o apaziguamento
e as paredes serão tranquilas.

Tuesday, March 21, 2006

Conferência "Aqui e Agora-Séc.XXI"

«Do ponto de vista cristão, designadamente do cristão evangélico, quanto mais livre o homem pretende ser de Deus, menos humano é.»
«Na Literatura Clássica existem excessivos paradigmas, sobretudo no teatro grego (Antígona, de Sófocles, ou Orestes, de Eurípides), e na Contemporânea, desde Jean Anouilh a Sartre, em dramas como As Moscas ou a moderna Antígona francesa, em que a liberdade é sem valores e o seu conceito é totalmente ateu. Na realização dessa Liberdade como único valor, o homem desumaniza-se, porque ao querer provar que é absolutamente livre, acaba por dizer sim onde Deus diz o não. E o acto do empenho de contestar Deus está fora de todo o imperativo moral.»

Um excerto da Conferência.

Friday, March 10, 2006

Poema de «Contagem de Estrelas»

Contagem de Estrelas, poesia evangélica, 1996 , 5,00€
Pedidos através de jtparreira@hotmail.com




Poesia de Jacob depois do sonho

«Mas depois deste sonho sou obrigado a cantar»
Ruy Belo

Mas depois deste sonho sou obrigado a cantar.
Tanto trabalho para erguer riquezas
gados inúmeros à espera das tardes
ovelhas agitando o chão.
Depois deste sonho sou obrigado a mudar
o coração. Caminhar sozinho
pelo terrível chão,
o Senhor brande sem vento este lugar.
E depois deste sonho, as planícies
em Canaã, e um pássaro em cada
ramo das minhas árvores.

Friday, March 03, 2006

Estante

DA LIBERDADE CRISTÃ, de Martinho Lutero

«Para conhecermos a fundo o que seja um cristão e sabermos em que consiste a liberdade que Cristo para ele adquiriu e ofertou, de que São Paulo tanto escreve, quero frisar estas duas frases:
Um cristão é senhor livre sobre todas as coisas e não está sujeito a ninguém.
Um cristão é servidor de todas as coisas e sujeito a todos.»

Editora Sinodal, Brasil, 1968

UM PSICÓLOGO NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO, de Viktor Frankl

«Só quem viveu num KZ pode compreender até que ponto um prisioneiro chega a convencer-se da radical carência de valor da vida humana individual.
Vejamos, por exemplo, como se passavam as coisas quando se tratava de organizar um transporte de doentes. Estes eram atirados com a maior sem-cerimónia para um carro de duas rodas que, depois, era arrastado quilómetros e quilómetros pelos próprios prisioneiros. Ora se acontecia que alguns morriam antes de serem carregados, punham na mesma os seus cadáveres nas carroças. Era preciso que a lista estivesse completa. A lista era o principal. O homem era reduzido a um valor numérico e nada mais; pouco importava que estivesse vivo ou morto. A «vida» de um «número» é coisa que não conta.»

Editorial Aster, Lisboa, 196...



Wednesday, February 22, 2006

Ausência de diálogo na família


Desconversável

a partir da peça «Paisagem», de Harold Pinter

Gostava de estar ao pé do mar.
É ali, diz ela-
O cão foi-se. Não te disse, disse ele.-
Areia nos braços dele, disse ela-
Voavam por ali, numa agitação, disse ele-
Na cozinha
da casa de campo, sentados
ambos, afastam-se
o mais possível
até ao fim
da tarde, as
frases.

Thursday, February 16, 2006

Poesia:

Gideão

Livro de Juízes, cap.7


As tochas, o ar
a arder, a rosa
laranja

do lume,

o silêncio, soprado
nas trombetas
o ruído,

trezentos homens
derramando
cântaros, os

pedaços no chão.

Conferência

Das Actividades Sócio-Profissionais da ASPEC(Associação de Profissionais e Empresários Cristãos), entre Janeiro e Abril 2006, extraímos, da 2ª Semana, o seguinte evento:

Conferência «Referentes do Cristianismo nos Ateísmos de Alberto Camus», com o Poeta João Tomaz Parreira, 27 de Março, 21:00 h, Auditório da Aliança Evangélica Portuguesa, Lisboa.

Tuesday, February 14, 2006

Os «cartoons» banidos









A Cartoon Network nunca endossou o uso de «cartoons» como ofensa racial. Aqueles que criou, representaram apenas uma perspectiva histórica. Facilmente o «cartoon» infantil, à esquerda, poderia ser interpretado como uma ofensa aos africanos, aos indígenas.
Os doze «cartoons» que o jornal dinamarquês Jyllands-Posten publicou «contra» o profeta Maomé, vieram colocar-se na primeira linha do confronto entre o Islão e o Cristianismo - pretendem alguns-, entendem -outros- que se trata de um aproveitamento político e estratégico para relançar, institucionalmente, um confronto civilizacional.
As coisas nesta agenda, que se tornou já global, das ofensas ao profeta, tendem a tornar-se muito complicadas. De facto, o Islão defende bem o que são os seus valores sagrados. Pena é que, embora com outros métodos, os cristãos não defendam, com o rigor da palavra e da repulsa, «cartoons» e anedotas que ofendem os mesmos valores do sagrado cristão.
Um diário francês, numa atitude provocatória, afirmava mesmo que, sim, Deus podia ser satirizado, em nome da liberdade de expressão.
Existem valores que não devem ser ultrapassados, que estão num território do Absoluto, para além do qual não se deve passar calçado, isto é, com desrespeito.

Monday, February 13, 2006

Às portas do Santuário

As portas do santuário de Fátima não apelam nem podem apelar nunca aos Evangélicos.
Não pela sua monumental arquitectura de lugar corporativo, em relação à simplicidade de outros templos e casas de culto protestantes, mas pelo que ele representa em termos de um dogma que não é teológico.
Há hoje na agenda religiosa do nosso país, ainda os efeitos da polémica abertura do santuário a outras confissões religiosas à qual os Evangélicos portugueses têm que ser alheios, pela História e pela própria Doutrina dos Apóstolos.
A verdade é que o santuário de Fátima está assente sobre um algo que está errado, dogmática e evangelicamente, até nos seus próprios fundamentos, causando aos seus próprios criadores estranheza. Há aproximadamente dois anos, um editorial do órgão oficial do santuário escrevia que «ainda hoje é difícil de explicar como é que a mensagem de Fátima irradiou para o mundo inteiro, tão longe e tão cedo.(...) Tão cedo, ainda antes de se dispor destes meios actuais de comunicação, praticamente instantânea, que está a trazer problemas muito sérios à pobre capacidade do nosso cérebro.»

Carta de Lucius Mota


S.Paulo,2/2/2004

«Caríssimo Irmão,
envio finalmente «nosso» Kaddish. As fortes palavras do poema me levaram a escrever uma obra dramática, torturada. Para mim é um grande prazer trabalhar com seus textos.
Cordial e sinceramente,
Lucius Mota »

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XVI Bienal de Música Brasileira Contemporânea
11 de Novembro, sexta-feira, às 19h
Sala Cecília Meireles,
Rio de Janeiro:

Lúcius Mota
***Três canções, em estreia mundial, sendo uma delas, Kaddish por meu filho Absalão,
Marcelo Coutinho, tenor; Maria Spoladore, piano.