Friday, October 31, 2008

É a hora!



Embora ainda não esteja no site da prestigiosa revista semanal de economia, já está em release divulgado pela publicação. "Os EUA devem se arriscar", é o título, segundo o texto de divulgação. "Apesar de todas as deficiências da campanha, tanto John McCain quanto Barack Obama oferecem esperança de redenção nacional. Agora, os EUA devem escolher entre eles. A Economist não tem direito a voto, mas, se tivesse, votaria em Obama." Mais adiante, a publicação faz ressalva: o apoio é "sincero", mas reconhece que o nome é um "risco".
"Dada a inexperiência de Obama, a falta de clareza em relação a algumas de suas crenças e a perspectiva de um Congresso predominantemente democrata, votar nele é um risco". Mas, conclui, "um risco que os EUA deveria tomar, dado o caminho difícil que se apresenta adiante."

Via Pavablog

Saturday, October 25, 2008

Lusitania

Antes da pátria já havia os rios
tão longos como os olhos do Infante.
Veio sem nome e com vestes
arrancadas aos lobos, lares amaciando
as pedras, fogos que são ouro
a subir das cinzas.
Antes da pátria já havia a terra
tão pequena
como os nossos olhos hoje.

Tuesday, October 21, 2008

Lições de tauromaquia para lidar a Crise


As vacas de Basã e o touro de Wall Street

Em Deus e o Mundo dos Negócios, Paul Stevens, autor também de A Espiritualidade na Prática, lembra uma história conhecida, especialmente do público norte-americano, que começa com a frase “você tem duas vacas”. Ele cita Richard Higginson em uma abordagem sobre investimentos, em seu livro Questions of Business Life [Questões da vida de negócios]. Qualquer semelhança não é mera coincidência.

Feudalismo: Você tem duas vacas. O seu senhor fica com parte do leite.
Fascismo: Você tem duas vacas. O governo fica com as duas, contrata você para cuidar delas e vende o leite para você.
Comunismo: Você tem duas vacas. Você tem que cuidar delas, mas o governo fica com todo o leite.
Capitalismo: Você tem duas vacas. Você vende uma e compra um touro. O seu rebanho se multiplica e a economia cresce. Você vende o rebanho e se aposenta com o lucro.

Capitalismo segundo a Enron [ou, atualizando, segundo as “Instituições Financeiras” em Wall Street]: Você tem duas vacas. Vende três para sua companhia de capital aberto usando cartas de crédito abertas pelo seu cunhado em um banco. Em seguida, faz um acordo para quitar a dívida com participação acionária, e pode, então, adquirir todas as quatro vacas de volta, com isenção de taxas para as cinco vacas. Os direitos sobre o leite das seis vacas são transferidos por meio de um intermediário para uma empresa nas Ilhas Cayman, que pertence secretamente a um dos acionistas majoritários, que vende os direitos de todas as sete vacas de volta para a sua companhia de capital aberto. O relatório anual da “Instituição” aponta que a companhia possui oito vacas, com opção de compra para uma nona.
E, por falar em vaca, lembro-me também das de Basã, gordas e satisfeitas, que nos foram apresentadas por Amós (Am 4:1). Com a palavra, o próprio: “Eu sei das muitas maldades e dos graves pecados que vocês cometem. Vocês oprimem o justo, recebem suborno e impedem que se faça justiça ao pobre nos tribunais” (5:12). “Está chegando o dia em que mandarei fome pelo país inteiro. Todos ficarão com fome, mas não por falta de comida, e com sede, mas não por falta de água. Todos terão fome e sede de ouvir a mensagem de Deus, o Senhor” (8:11).

Fonte: Ultimato.
via A Ovelha Perdida

Saturday, October 18, 2008

Andeiro (2)

(Pompeia, Setembro 1994)










À espera dos actores, em vão
chamamos dos braços da madeira
chamamos do fundo
de nós mesmos
um grito espesso, de cinza
nas gargantas.

Thursday, October 16, 2008

Sylvia Pl(de)ath


Quando meteu a cabeça no forno de gaz
como um leão caindo sobre a presa
todos os poemas estavam prontos
dirigidos
para a morte sobre a mesa
Ela fê-lo de novo, e de novo
toda a manhã escureceu
a sua pele brilhante e o cabelo
como um sol loiro.

(poema reescrito, libelo contra o suicídio)

Tuesday, October 14, 2008

Restos de Noite

Restos de sono na cara
restos de noite nas pálpebras
e de sonho por detrás delas

as olheiras são pequenas bolsas
de canguru
que carregam desgostos

os sulcos do rosto cansado
fazem velho o acordado
de olhos raiados
e hálito vicioso

há manhãs inconvenientes que
batem
com força
antes do tempo.

(Brissos Lino)
in A Ovelha Perdida

Sunday, October 12, 2008

"E o poeta se fez triste..."






Brissos Lino


Escrevia João Tomaz Parreira, em jeito de nota de pé de página, no seu blogue “Papéis na Gaveta”, a 27/7/2008:

“Nunca fui um homem de alegrias excessivas. Com algum sentido de humor, sim. Ironia quanto baste, como a do profeta Elias, na mesma linha que seguiu da ironia alimentada pelo conhecimento sobre as religiões e os rituais que caminham pelo absurdo. Mas foi preciso chegar aos 61 anos para ser triste.

Triste como Charles Dickens ante a realidade que estampou no seu livro Tempos Difíceis/Hard Times, em que as crianças e os trabalhadores explorados eram as vítimas;
triste como Ezra Pound, o poeta dos Cantos, diante da Usura;
triste como o Álvaro de Campos, heterónimo de Pessoa, ao ver o mundo com o pessimismo do grande poema A Tabacaria, como se tivesse razão e, infelizmente, teve-a.

Tudo do domínio da Literatura, dirão. Mas quem poderá ter a veleidade de se afirmar triste, com aquela tristeza que só é divina, de Jesus perante a cidade de Jerusalém?”

São palavras duras, convenhamos, que expressam alguma desilusão sobre o mundo e os homens. E contudo JTP, como cristão convicto que é, sempre soube que os homens estão habitados pelo pecado, o qual gera a morte, no dizer de S. Paulo, e que o mundo não está em boas mãos, visto que se encontra “no maligno”.

Mas talvez o desconforto e a surpresa com que se diz triste agora, aos 61 anos, depois de boa parte da vida vivida, seja mais com o que sente do que com o que sabe. A racionalidade funciona a um ritmo muito mais acelerado do que as emoções.

Por outro lado, a alegria vem e vai. Pode gerar-se quase instantaneamente, apenas desencadeada por um factor fortuito, que estimula a libertação de um fluxo mais significativo de adrenalina.

Já a tristeza anda mais devagar, precisa de tempo para se consolidar, instala-se mais discretamente mas traz consigo as malas e faz-nos companhia durante mais tempo. Requer introspecção, distanciamento e uma postura mais reflexiva, característica nos poetas, mas também no ser humano em geral, da fase da meia-idade para a frente.

Contudo, é curioso observar como JTP fala da sua tristeza. Parece fazê-lo com pouco à vontade, justificando-a cuidadosamente com as suas desilusões, como se tivesse algum acanhamento por se sentir assim. Daí talvez a marcação de distância com Jesus, ele sim, tinha todo o direito de se sentir triste perante Jerusalém. JTP, um simples mortal, não ousa estar triste como o seu Mestre. Quer que fique bem claro que não se sente nesse direito.

Já estou a ouvir algumas cabeças, porventura escandalizadas, a estranhar esta confissão honesta, que vai muito mais na linha da tradição literária (e também portuguesa, como no caso dos “vencidos da vida”) do que na postura de algum cristianismo plástico, de sorriso artificial e tontamente optimista. Como se não fossemos todos de carne e osso, e os sentimentos não fossem legítimos e uma evidência.

A chamada “geração de setenta”, no séc. XIX português, ficou conhecida como “os vencidos da vida”, cujo lema foi: “Para um homem, o ser vencido ou derrotado na vida depende, não da realidade aparente a que chegou – mas do ideal íntimo a que aspirava”. Neste sentido não somos todos “vencidos”? E não temos todos motivos para “sermos tristes”?

JTP sabe bem onde encontrar conforto pleno para o seu sentimento de tristeza. Sabe bem quem nunca o desiludirá. Mas sejamos honestos. É exactamente assim que nos sentimos todos em certos momentos, se acaso vivemos com os pés no chão.

A vantagem do que confia em Deus é que, sem tirar os pés do chão, pode manter a cabeça no céu. E isso permite que a nossa tristeza não seja um livro fechado.

Outubro 2008

Monday, October 06, 2008

Biografia de Bolso

A veces se le oye cantar cosas de niño
Gabriel Celaya



Respira numa pequena cidade o mesmo ar
por onde passam os sinos
e os pássaros que chamam os olhos
para cima das árvores da rua principal
na pequena cidade onde vive e que teima
em ser provinciana, toda a gente
se conhece pelo modo como diz o nome
e o rosto de hoje foi o que se viu ontem
Vive numa pequena cidade
cuja gente se preocupa com o buraco
do ozono e o da rua em que reside
Passa algum tempo em casa devagar
as janelas raramente o vêem
sempre que cruza os olhos por um livro
é para paralisar a eternidade
também cruza os braços para se defender
do coração inconfidente
Alguns anos escreveu poesia
com o alheamento das estrelas
não conseguiu entrar ainda na fórmula
azul que é o céu
mas conseguiu deixar aos filhos
como herança dois ou três editores
e espera viver alguns anos ainda
para levantar a cabeça.

Sunday, October 05, 2008

A Religiosidade em Vergílio Ferreira

Notas tiradas de um Conferência
Procurar Deus, a Fé e a religiosidade nas 22 obras de ficção, nos 12 livros de ensaio e 11 diários de Vergílio Ferreira, será obra homérica. Será contudo acto legitimado por um conjunto de razões, entre as quais temos os próprios termos definidos pelo autor no que concerne ao invisível.
Estará, de resto, na linha dos teólogos do século XX que acharam normal interrogar a literatura para nela encontrarem um testemunho sobre a fé e sobre a descrença, sobre o significado da existência do Homem e de Deus, ou sobre a ausência divina.

Parte da vastíssima bibliografia de Vergílio Ferreira continua, também por isso, a ser impar, na procura da luz e da beleza, obra de epifanias sem obsessões ideológicas (do ponto de vista das ideias políticas ) como primeiro neo-realista, e a seguir pelo rigor e originalidade com que na história da literatura portuguesa da segunda metade do Século XX, inscreveu a metafísica.
Assim, é sempre com alguma frequência que se liga a palavra romance à palavra problema, «romance de problema», disseram alguns críticos, quando se trata de caracterizar a obra romanesca do nosso escritor.

A natureza dos circunstancialismos em que se encaixam as suas personagens, a natureza do conteúdo, do carácter, do temperamento, do comprometimento, das necessidades e das grandes motivações das mesmas, leva-as a um permanente questionar.
A verdade é que, quando se procura respostas exclusivamente humanas sem Deus no plano para a vida diária, a vida com preocupações existenciais, o acto de perguntar no ser humano começa por uma escala de valores com grandes esperanças que desemboca na frustração, uma das personagens-chave do romance vergiliano afirma que Deus lhe interessou como ponto de partida e não como meta.
No narrador-autor do romance APARIÇÃO será aí que indagaremos da religiosidade vergiliana, embora por entreposta entidade ficcional como seja a personagem-sujeito na primeira pessoa.
Na verdade, Alberto, o protagonista-narrador, não se distancia da sua narração, como compete de resto a um narrador que estabelece a trama, a intriga da sua própria história. Diria que Alberto Soares se criou a si próprio como personagem, a partir das várias aparições que desde logo lhe conseguimos apontar, desde a primeira página numa espécie de «corrente de consciência», ou monólogo interior:
- A Aparição das coisas, a tomada de consciência dos objectos,
- A Aparição do «nous», do pensamento, das ideias,
- A Aparição ontológica do Ser,
- A Aparição de si a si próprio, a epifania do Eu,
- A Aparição do humano contra o divino,
- A Aparição do absurdo da morte. («A iluminação da vida perante a evidência da morte»)
E no culminar de todas estas "aparições" acabou por afirmar que «Deus se me gastou». Ora nós sabemos que ao colocar Deus como problema e não como solução, essencial, é o Homem que se gasta a si próprio.

Wednesday, October 01, 2008