Friday, December 28, 2007

Poemas traduzidos (I)

Mister Lazarus

Dying/Is an art, like everything else.
Sylvia Plath

He sits on ancestral door
from where its eyes
eat a few dreams

can’t spring
into streets of world
its weak legs

its
tired eyes
read the Job's book.

(in Literary Kicks e Pomes Penyeach)

Sentado na porta ancestral
de onde seus olhos
comem alguns sonhos

não podem saltar
nas ruas do mundo
as suas pernas fracas

seus
olhos cansados
lêem o Livro de Job.

Friday, December 21, 2007

O não ter Senhor começado uma rua



O não ter havido Senhor para ti
lugar na cidade, nas mãos
que deveriam ungir-te, até
lugar na voz que prometera
do fundo dos dias cantar-te

O não ter havido Senhor uma porta
uma casa cheia para receber-te
um espaço entre os peitos
de todas as mães, um olhar
onde morasses com ternura

O não ter Senhor começado uma rua
à espera do teu Nome
nem ainda hoje quando passas
Senhor no rosto de um homem
ou uma mulher feliz por te acolher.
Bom Natal para todos que passem por aqui!

Thursday, December 20, 2007

La poesía señores

La poesía señores
no sólo está en los libros imprimamos
en el aire

el aire és el papel más transparente

(Blas de Otero)

Tuesday, December 11, 2007

Ovelhas voam sobre Belém


Como chuva branca caem
com suavidade sobre os montes
ao redor de Belém.
As ovelhas voam sobre os pastos.
E murmuram balidos
tristes pelo efémero
da flor da erva.

10/12/2007

Monday, December 03, 2007

Do livro inédito, "Princesa Triste", de Brissos Lino

BARCO À VELA

Um pequeno barco à vela
lá muito ao longe, no mar
parece que não se move
mas percebe-se a navegar.

O vento de feição curva-lhe as velas
brancas de paz
havendo ondas ou mar chão
tanto faz.

O Sol brilha no casco, também alvo
e os dois tripulantes, de tronco nu e luzidio
concentram-se nas tarefas de marinhagem
sem calor nem frio.

Mas se uma sereia levantar a voz do canto
e os atrair ao perigo
aí vou-me lembrar que tudo isto não passa
afinal
de um simples quadro a óleo
pendurado na parede
da sala
mesmo ao lado do postigo.


Praia do Vau, Agosto de 2007

Saturday, December 01, 2007

Contrariando Theodor Adorno


A poesia pode iluminar a escuridão de Auschwitz


Auschwitz

Poema de Brissos Lino

Os gritos, o medo
a força da vida
nos barracões de Auschwitz
metralhadoras miram
corpos nús

homens e mulheres
velhos
crianças
quatro milhões de inocentes
no espanto da igualdade

russos, judeus e polacos
franceses e outros
metralha e “Zyclon B”

a besta nazi rumina
vinte mil mortes por dia
nas câmaras de Auschwitz
toneladas de cabelo
milhares de óculos
roupas
dentes postiços
brinquedos e chupetas

o stock ignominioso
da besta

satanás desmascarado
no carnaval carioca
da morte
…………………………………..
o céu é cinzento e húmido
hoje
em Auschwitz.
In “Salmo Presente”, IEC, Setúbal, 1996

Wednesday, November 21, 2007

Sem-Abrigo / Uma Nuvem em Tróia, dois poemas

SEM-ABRIGO

musching a plum on
the street a paper bag
(mascando ameixas pela
rua num saco de papel)

William Carlos Williams



Tira as rugas
ao papel
de uma das pernas
das calças, põe

o saco ao ombro
já andou
por melhores mãos,
agora
recolhe meio
comidos restos

O casaco retirou há tanto
tempo
uma das mangas, tem
menos um braço

para abraçar a solidão
a lã está a ficar leve

no décimo ano cheio
de vicissitudes e
caminhos

um sapato
vai descalçando
um pé.

(João Tomaz Parreira)

######################

Do livro “Salmo Presente”, Ed. IEC, 1996:

UMA NUVEM EM TRÓIA

Hoje há maçãs húmidas
na nossa praça

já não chove
e há caracóis resolutos
em cada pedaço de erva

a Arrábida molhada
seca agora
aberta ao sol.

Paira ainda uma nuvem solitária
sobre a península
a projectar sombra no rio

nuvem esquecida
envergonhada
no tecto limpo
de Tróia.

(Brissos Lino)

Tuesday, November 13, 2007

As "Aparições" em Vergílio Ferreira




Procurar Deus, a Fé e a religiosidade nas 22 obras de ficção, nos 12 livros de ensaio e 11 diários de Vergílio Ferreira, será obra homérica. Será contudo acto legitimado por um conjunto de razões, entre as quais temos os próprios termos definidos pelo autor no que concerne ao invisível.

Estará, de resto, na linha dos teólogos do século XX que acharam normal interrogar a literatura para nela encontrarem um testemunho sobre a fé e sobre a descrença, sobre o significado da existência do Homem e de Deus, ou sobre a ausência divina.

Vergílio Ferreira interrogou-se através do romance "Aparição". Neste existe um verdadeiro problema com a religiosidade.E com a metafísica. E as suas personagens traduzem, de facto, esse dilema, carregando-o.

Na verdade, Alberto, o protagonista-narrador, não se distancia da sua narração, como compete de resto a um narrador que estabelece a trama, a intriga da sua própria história. Diria que Alberto Soares se criou a si próprio como personagem, a partir das várias aparições que desde logo lhe conseguimos apontar, desde a primeira página numa espécie de «corrente de consciência», ou monólogo interior:

- A Aparição das coisas, a tomada de consciência dos objectos,

- A Aparição do «nous», do pensamento, das ideias,

- A Aparição ontológica do Ser,

- A Aparição de si a si próprio, a epifania do Eu,

- A Aparição do humano contra o divino,

- A Aparição do absurdo da morte. («A iluminação da vida perante a evidência da morte»).

Thursday, November 08, 2007

Paris, Inverno 1994



Paris nessa noite tinha a luz
distribuída pelas gotas da chuva.

Sartre e Beauvoir não estavam lá.

No Café de Flore, três ou quatro
colheres de açúcar afogavam
o amargo do café. Beberam-no
primeiro os meus olhos
como um ritual, os lábios
depois, na minha língua
mais tarde escreveria
um poema previsível.

Tuesday, October 30, 2007

A Segunda Vinda (II)

À espera do Amado
como uma casa que espera
um ladrão gentil

que saltará
na casa
como um perfume

Ele verá esta
pálida
casa

Ele tomará
este bocado
de nada

Ele moverá meus pensamentos
dobrará as sombras
das coisas ignóbeis.

Saturday, October 20, 2007

"Jovem Cristão", Outubro de 1987


Artigo publicado in nº 27, revista da CPAD, Brasil



POESIA


UM OUTRO ADEUS PORTUGUÊS

"e como um adolescente tropeço de ternura
por ti"

Alexandre O'Neill


Dentro dos meus olhos uma outra
forma de olhar
suporta a tua dor,

amparo-te na escada fluvial
que te traz ao dia,
no cais onde acostam
tuas sonâmbulas palavras

mais uma puríssima manhã
que deverias tratar
com o leite corporal
róseo da perpétua aurora

não podemos ficar nesta curva
entre sonhos de uma rosa enorme
que deixa o lirismo
a contas, indeciso com o mais
lancinante espinho.

6-1-2007

Wednesday, October 10, 2007

Senhor Lázaro

Dying / Is an art, like everything else.
Sylvia Plath

Está sentado na porta ancestral
De onde seus olhos
Comem os sonhos de pobre

Não podem saltar
No mundo
As suas pernas

Os seus olhos
Cansados
Lêem o Livro de Job.

Saturday, October 06, 2007

Um Cigarro




Não fumarei contigo
o meu pulmão.

Nem deixarei que parta
dos meus lábios
para a fadiga
interior, a morte.

Não há fogo sem ti,
obscura cinza.

Não fumarei contigo
o meu fogo,
que se esvairá
em fumo.

Não somarei as cinzas
ao meu corpo.


6/10/2007

Friday, October 05, 2007

Thursday, October 04, 2007

A Construção da Dor




A preservação da memória nada tem de virtual no Museu do Holocausto, em Jerusalém.
O chamado Yad Vashem é um memorial do povo Judeu aos seus seis milhões de mortos, na Solução Final da Questão Judaica.

O monte onde foi edificado em 1953 e está instalado até hoje o museu «dos heróis e vítimas do holocausto judeu», o Yad Vachem, é uma montanha documental.

Ao designar-se como Monte da Comemoração, sublinha, toponimicamente, não apenas a lembrança do passado, como uma catarse continuada, mas também «o labor para educar os jovens no sentido de que não esqueçam o que sucedeu durante a Segunda Guerra Mundial e a solução final orquestrada por Adolfo Hitler» - afirmou recentemente a chefe da diplomacia israelense, a senhora Tzipi Livni.

Sem dúvida que recordação é o vocábulo central, cuja semântica toca, psicologicamente, o vazio deixado por seis milhões de mortos, a chama física do lume que ilumina os nomes dos 21 campos de extermínio nazis, a escrita em basalto negro, a crueldade sistematizada num programa de extermínio, os testemunhos de 62 milhões de documentos, as 267.500 fotografias, os milhares de vídeos com a palavra testemunhal de sobreviventes desse período que escureceu a identidade da Europa.

Tudo isso é o Museu do Holocausto, ao qual foi atribuído, no passado mês de Setembro, o prestigiado Prémio Princípe de Astúrias, na categoria de Concórdia.

Mesmo que não possamos visitá-lo, que façamos apenas uma visita virtual no sítio www.yadvashem.org, a verdade é que a dimensão da tragédia, a construção da dor, o trauma continuado nos valores e na cultura ocidental, desde as décadas de 30-40 do século passado, se mantêm como uma «depressão» na alma europeia contemporânea.

Livros, filmes, documentários passam transversalmente por todo o mundo, e não será hiperbólico falar de «chama eterna» da memória desses factos terríveis, que ganharam uma dimensão trágica -estudada hoje nestes termos - nos domínios da estética, da ética, da biologia e da religião.

E a notícia do Prémio Princípe de Asturias atribuído ao museu israelense sublimou tudo o que ao longo destes mais de 60 anos se tem levado ao conhecimento dos homens, a nível planetário. O director da instituição, Avner Shalev, considerou mesmo que tal galardão «é vital à existência deste museu para que as gerações futuras não olvidem o passado e a crueldade da Alemanha Nazi.»

Texto que pode ser lido na íntegra em www.portalevangelico.pt

Friday, September 21, 2007

Também no Teatro Evangélico



«O actor acende a boca»
Herberto Helder


O actor em cima
de uma peça
dos adereços

levanta uma perna
equilibra o bico
do sapato, depois a outra

mostra o caminho
acende os olhos
( entre o público

levanta-se
um ar
de espanto, uma nuvem

uma dúvida)
põe e tira os olhos
que atira à plateia

o actor
faz uma combustão
com a Palavra

que acende
nos silêncios
do público.

Tuesday, September 04, 2007

A Segunda Vinda

Ele levará os nossos medos
como um ladrão a meio da noite
como um rio que porfia
pelas suas águas entre
a rude matéria da vida
A chave é o perfume que destila
dos seus dedos
e a escuridão gota a gota
cairá dos nossos olhos
algures na areia do deserto
a forma de um meteoro
apontará para um céu remoto
e as pedras acordarão do sono
no interior das grutas
as coisas caem ao lado, o centro
já não as atrai
Este mundo já não será para nós.

Thursday, August 09, 2007

O Coração

(Para o Carlos Baptista)

Carlos, os teus olhos saíram de cena
a tua sombra, também
a tua sombra que subiu
contigo para uma das ruas
do Céu, hão-de cair agora folhas
em branco do lugar
em que estavas sentado a procurar
a espiga, o fruto, das palavras
hão-de vir pássaros trazer
sementes invisíveis à tua porta
- mas tu estás noutro Lugar
sentado com os olhos
fixos na alegre passagem
do Cordeiro.

9-8-2007

Sunday, August 05, 2007

Um relato literário do Sacrifício de Isaque

Nos modernos estudos sobre estilística não se rejeitam os contributos da narrativa bíblica, não obstante ser conhecida de todos a frase secular «o estilo é o homem». O estilo dos evangelistas Lucas ou João, ou dos apóstolos Paulo e Pedro, ou do lider do povo hebreu e escritor do Génesis, é dos respectivos autores e tal circunstância de género humano não invalidou o uso das suas mãos e mentes para a escrita sob a direcção do Espírito Santo, a fim de escreverem as Sagradas Escrituras, a Palavra de Deus, sendo esta, como alguém disse, «o conhecimento acerca de Deus que procede de Deus.»
Opiniões sobre a história da literatura dizem que esta « consiste em diferenciar, valorizar, concatenar e seriar os estilos particulares.» O estilo é também arte. E a narrativa do Génesis sobre o sacrifício de Isaque, requerido por Jeová a Abraão, é particular e paradigmática. A autoria do Pentateuco é pacífica em todos os meios do Cristianismo, católicos, ortodoxos, evangélicos, e do judaísmo, estando apenas por razões óbvias em debate a passagem sobre a morte e o sepultamento do autor, Moisés.
Um dos teóricos de referência do pensamento literário do século XX, um crítico exigente e controverso, como Harold Bloom, autor do conhecido O Cânone Ocidental, diz que o maior representante da evidência da marca canónica é o primeiro autor da Bíblia hebraica, a figura chamada Javeísta ou J. pelos estudiosos bíblicos do séc. XIX, digamos como uma espécie de pseudónimo. Quando nesse século, em que se moldaram ideologias e materialismos vários, despontou a crítica mais agressiva e científica da Bíblia, no entanto esses estudiosos não desdisseram o que é tido como verdade imortal acerca da autoria individual dos autores sagrados, isto é, que também o Pentateuco foi escrito por Moisés, sendo assim este o autor Javeísta ou J. dos relatos primeiros e cardiais do Velho Testamento.

O ESTILO DA NARRATIVA DO DRAMA
O capítulo 22 do Génesis deixa evidente, quer ao leitor apenas cultural, aquele que lê apenas por intelectualismo religioso, quer ao leitor crente, o que lê a Bíblia como a Palavra de Deus para obter conhecimento de Deus, que está perante um drama de profunda decisão.
Não trata de uma crise de Fé, porém de uma total entrega à vontade divina que vai sublimar essa mesma Fé.
Expõe mais a profundidade da alma de Abraão do que as circunstâncias exteriores. Um pedido de Deus é sempre à medida de Deus, é sobrenatural, e só começa a ser entendido pela mente humana quando o próprio Deus resolve o dilema do incompreensível.
No lançamento recente de um livro cristão O Duplo Chamamento, o autor escreve em resumo sobre o que foram na realidade todos os chamamentos divinos de homens ou grupos específicos no Velho Testamento: «Atrás de todo o chamamento de Deus registrado na Bíblia há sempre uma vontade de Deus específica. Deus chama para que as pessoas participem de Sua obra. Toda e qualquer vontade de Deus específica é apenas uma fase do plano eterno de Deus para uma pessoa específica [ou um grupo específico ] num tempo e espaço específicos ».
Abraão, com certeza, só estava a entender o profundo pedido de Deus nas áreas da obediência e do agradar à Sua vontade.
A visão do velho patriarca não ia mais longe do que os montes da terra de Moriá, sendo porém certo que num desses montes se encontraria com a expectativa ansiosa, com a angústia de ceder uma parte da sua alma e do seu sangue - o filho único, a quem amava. Embora estivesse ciente de que a vontade divina ia ao ponto de alegrar o seu coração de pai, fazendo tornar à vida o sacrificado.
O estilo da narrativa mosaica ou javéista, ao contrário de obras comparativas como a Odisseia, de Homero, exterioriza quase nada o meio ambiente, o espaço e tempo embora dê ao leitor uma ideia de ambos, os lugares, o trajecto da viagem, etc. Contém antes na revelação do pensamento divino, um estilo interiorista, um estilo que sugere nas entrelinhas, escondendo algo que mais tarde é revelado em apoteose.
No que diz respeito aos elementos que compõem uma narrativa, o sujeito ou a personagem, a nosso ver existe uma ausência, justamente a do principal protagonista, que está escondido: o cordeiro, que é formalmente a intriga do texto.
Nesta passagem bíblica, o grande ausente é também a grande personagem, o cordeiro que falta ou o cordeiro que Deus proverá para si.
Isaque, profeticamente, salienta esse pormenor que faz parte do diálogo entre si e seu pai: Temos o fogo, temos a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?
O cenário apresenta-se-nos sem nenhuma descrição a não ser a da sua acidentalidade, o autor sagrado transcreve o discurso do próprio Jeová que refere «terra de Moriá» e «montes». Todos sabemos que as montanhas no Velho Testamento foram sempre o lugar intermediário para o encontro de Deus com o homem, desde Moriá ao Sinai.
A forma verbal usada pelo autor sagrado na narrativa traduz a intemporalidade do texto, ainda que esteja no presente do indicativo. É a progressão do argumento que transcorre, pelo menos, durante três dias, e da tensão do próprio último dia, o do holocausto, que lhe dá a dimensão de perpetuidade porque está sempre no domínio do simbólico, protagonizado no entanto por pessoas de carne e osso, historica e biblicamente reais, não apenas personagens.
O desenvolvimento estrutural da narrativa, que se inicia com uma proposição de Fé, e um clima de suspense em que imaginamos a luta interior, a comoção incalculável de um pai a quem se pede o filho, tudo concorre no sentido literário de um drama psicológico, por assim dizer, de tragédia intimista, do idealismo dos protagonistas, especialmente o da vítima Isaque, usando aqui os marcadores triviais da ciência literária.
A forma interior da narrativa, é literária porquanto conduz o leitor num crescendo de ansiedade, de expectativa.
Na totalidade do enredo, descobre-se uma situação epopeica, na qual vamos percebendo o nascimento de uma epopeia histórico-teológica. Não existe contudo pluralidade na acção. Esta é restritiva e confinada a uma mensagem de teor eterno, por isso absoluta.
Contrariamente à teoria do romance que identifica e exprime um mundo fechado, a narrativa do sacríficio de Isaque parte do que parece ser um mundo interdito, de uma acção da comunidade patriarcal na sua relação com o Deus pessoal de Abraão, para a universalidade da mensagem bíblica da necessidade de um substituto para a remissão dos pecados da humanidade.
A temática central da narrativa, sendo a requisição do holocausto anterior à Lei de Moisés e ao povo hebreu, só por si já possui uma força épica e fortemente literária, estando já no domínio do «surrealismo», isto é, da simbologia, e num outro patamar mais elevado, o da Transcendência, porquanto é o próprio Deus, que proíbe sacrifícios humanos, quem pede a Abraão que lhe ofereça o seu filho único Isaque. Porque, como se sabe, está aqui a prefiguração de Deus Pai ofertando o Seu Filho Unigénito, Jesus Cristo, para Salvação dos homens.
Por esta superior razão, não existe pois na epopeia deste episódio de Abraão e Isaque, nenhum sinal característico das formas romanceadas épicas da Literatura Universal, realizadas entre o sublime e a loucura, repletas de maravilhoso idealizado e de obscuridade irracional. E, no entanto, é uma história magistral, com um enredo poderoso, ideal e belamente dramático.

Saturday, July 28, 2007

Friday, July 20, 2007

«Messiah Game», a nova provocação




Tinta e cinco anos depois do musical Jesus Christ Superstar ter chocado a moral e as consciências, vivemos um momento tão intenso no que concerne ao pós-modernismo, e às formas e conteúdos que utiliza, que pouca coisa lhe escapa dentro das áreas da vida contemporânea. Como o ballet, por exemplo, que é por princípio uma forma cultural e artística de natureza romântica.

Com efeito, em toda a Europa fala-se hoje de um espectáculo blasfemo que, após triunfar na Itália ( na Bienal de Dança de Veneza), parece que chegará à Península Ibérica, designadamente a Espanha e à capital Madrid.

Nos passados dias 27 e 28 de Junho, em Veneza, foi a estreia mundial dessa peça balética de conceito e coreografia originais que a crítica considerou ao nível do seu criador, o coreógrafo Félix Ruckert, como radical e iconoclasta.

Como se costuma dizer agora nos meios comunicacionais, esse ballet moderno teve «boa imprensa» - alguns jornais europeus de referência escreveram bem da referida dança e da sua coreografia, sublinhando sempre o seu conteúdo como «subversivo e excitante», «pura sedução dos sentidos», mas também referindo tratar-se de um produto cultural «irritante e ofensivo».

Embora a peça não pretenda questionar os mistérios da fé nem propor uma nova exegese das Sagradas Escrituras, faz uso de dogmas pertencentes ao cerne da Cultura Cristã Ocidental. A peça propõe, de facto, através de uma «mulher-messias», interpretações de cinco cenas centrais do Novo Testamento: o baptismo, a tentação, a Última Ceia, a Crucificação e a Ressurreição de Cristo.

O seu criador e encenador procurou subverter os códigos religiosos da sociedade e ainda dos seus valores, que uns chamam tabus preconceituosos e outros fundamentos do sagrado imanentes ao homem.

(Ler na íntegra no Portal Evangélico da AEP)

Tuesday, July 17, 2007

Eppur, Si Mouve

Acordamos e a Terra é redonda.

Alisamos os olhos e o mundo
no abismo pede respostas.

Já haverá sol nas árvores
nas varandas e nos telhados
o sol varre as sombras
e os homens pedem respostas
cabisbaixas que não vêm
ao encontro nas calçadas.

Arredondamos a Terra
acordamos o Céu com preces
e os anjos dispõem sobre nós
a brisa matinal das asas.


3.2004

Friday, July 13, 2007

Transcrição

In www.tatigi.com.br/labels/liturgia.html

Segunda-feira, 2 de Julho de 2007

Nosso Culto
Ano Litúrgico C
14º Domingo no tempo comum
Celebração do Dia do Diácono (9/7)
Celebração dos 498 anos de nascimento de João Calvino, Reformador. (10/7)
Cor litúrgica: Verde
Lecionário Comum Revisado (Ano C): 2Reis 5.1-14; Salmo 30; Gálatas 6.(1-6) 7-16; São Lucas 10.1-11, 16-20

Vinde adorai!
- Prelúdio
- Saudação (“Sejam bem vindos” – Rev. Giovanni C. A. de Araújo)
Sejam bem vindos. Esta casa é casa de amigo. Amigo, mais chegado que irmão. Casa de louvor e adoração. Casa de amor e gratidão. Casa onde a verdade reina. Sejam bem vindos a esta casa. Casa de Deus!

- Chamada a adoração (O oitavo Salmo – João Tomaz Parreira)
Oficiante: Como o Teu nome é grande bondade sobre a terra
Congregação: É leve a soprar os pássaros a elevar nas ondas a planície
Oficiante: das águas, a tornar os peixes como estrelas
Congregação: O que é o homem para que por dentro Tu o habites
Oficiante: No entanto os anjos vêm desfazer-se em sombras brancas
Congregação: ao redor dos seus caminhos porque é o homem
Oficiante: com a honra e a glória presas nos cabelos
Congregação: Ó Senhor como o Teu nome é garante da bondade sobre a terra.

- Chamada à confissão (“Deus pode fazer” – Rev. Giovanni C. A. de Araújo)
Problemas haveremos de ter, tentações, sim teremos. Fraquezas em nosso viver mas todas as lutas, sabemos, venceremos! Quando fraquejarmos, e desistirmos de lutar, ele vem e nos estende a mão, leva-nos em seus braços e nos mostra a solução! Muito mais do que tudo que precisamos, muito além do que possamos imaginar é o que Deus pode por nós fazer!

Sunday, July 08, 2007

The Talmud

The Talmud
by Joao Tomaz Parreira

The Talmud's readers
unroll its long arms
its tired eyes repeat words
closed doors
each silence alludes
to a mystery
The Talmud's readers
stop the Sabbath
they stop the book
its tongue sit down.

Tuesday, June 26, 2007

A Lição de Música



Mas quando David enviava os sons da harpa
para os céus, a harpa seduzida
pelos seus dedos, um sorriso
assomava aos olhos de Saul.
Os olhos baixavam ao coração sanguíneo
via dentro de si o tranquilo
rio que a música fazia, como
água que traz o cheiro dos jardins.
Ao mesmo tempo que as pombas
voavam das cordas
assim velava a harpa de David.

Monday, June 25, 2007

Mário de Andrade e Álvaro de Campos: uma identidade

Por João Tomaz Parreira

No meio do caudal que jorra da torrente sensacionista de Álvaro de Campos, no início de um pequeno verso (o 41º) do poema "A Passagem das Horas", surge a revelação e o estímulo para um entendimento de Fernando Pessoa, o seu retrato psicológico em que se consubstancia a sua heteronímia.

"Multipliquei-me para me sentir ".

Em determinada ocasião, o Poeta afirmou, a propósito do seu refúgio nos filósofos gregos e alemães, no ambiente austeramente cultural britânico e do seu consequente bilinguismo, que se "libertou para dentro". Exceptuadas outras causas psicológicas, do foro da auto-psicografia pessoana, o seu esoterismo, o seu gosto pelas ciências ocultas, esta libertação para o seu interior, também esteve na base da criação dos heterónimos.

Outros poetas de língua portuguesa e igualmente de "Eu atormentado", elaboraram um discurso poético escondido por detrás da multiplicidade de máscaras, ouvindo vozes múltiplas, afinando cores arlequinais, que se resolvem em um processo poético curioso sem que para tanto tenham feito nascer heterónimos, como "teve" que acontecer com o autor de "Mensagem".

Mas a identificação com o Poeta brasileiro Mário de Andrade consiste na leitura de alguns versos do autor de "Pauliceia Desvairada", que decalcam um vocabulário e um estilo sensacionista.

Por exemplo, MA em "Louvação da Tarde", cujo processo poético liga um sentimento do Eu integrado na paisagem, escreve:

"O doce respirar do forde se une / Aos gritos ponteagudos das graúnas".

Por seu lado, da outra banda do Atlântico, acima do Cruzeiro do Sul, Álvaro de Campos ao descrever também uma viagem (hipotética, fingida) a Sintra, com o mesmo sentimento de evasão integrador na paisagem, escreveu:

"Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra / Ao luar e ao sonho, na estrada deserta "

Mas à parte estes poemas modernistas de glorificação da maquinaria emergente na primeira década do Século XX, é, sobretudo, um poema escrito em 1929 por Mário de Andrade que nos confere a ideia da sua personalidade desdobrada. Trata-se do poema "Eu sou trezentos…".

Versos de desdobramento, considerados autobiográficos, em que MA se torna muitos, eles aludem à multiplicação das sensações, relacionam sentimentos perante a paisagem com estados afectivos, marcam pela referência uma época de sensacionismo modernista.

O poema que citamos de Mário de Andrade terá obviamente outras leituras, não deixando de ser porém um paradigma da multiplicação do Eu.

Esses versos expõem, com efeito, o autor do romance "Macunaíma" através de uma linguagem muito pessoal, de uma dicção folclórica, o qual vai falando da dispersão do Eu, utilizando a nosso ver o caminho dos segundos sentidos de que a etnografia pode dispor.

Vulgarizado em antologias do autor como poema pertencente à classe da poesia biográfica, "Eu sou trezentos…" traduz a variedade e a multiplicação, e remata uma análise psicológica que foi bem sublinhada pela releitura que fez essa enorme poeta Cecília Meireles, que classificou o poema como a imagem da abundância.

Mas a chave do poema de Mário de Andrade, reside na expressão da promessa do poeta, que apesar da sua dispersão em "trezentos ou trezentos e cinquenta", não obstante este número aleatório que vale pela declaração de variedade, garante que um dia se encontrará consigo mesmo.

"Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta… Mas um dia, afinal, eu toparei comigo".

in http://www.cronopios.com.br/site/ensaios.asp

Monday, June 18, 2007

Terra Sem Vida

Here is no water but only rock.
T.S.Eliot (n.26-9-1888, m. 1965)


Neste lugar de biliões de habitantes

doentes à beira do espaço

neste lugar o salto

é para dentro da morte

Enquanto metade dorme

na outra há a hora de ponta

para levantar das nuvens

o corpo levado nos sonhos

Neste lugar de biliões de habitantes

no princípio talvez não fosse

preciso ter sono azul

para ninar sofrimentos sujos

Houve tempo em que os habitantes

quase de nada sabiam

e era solução ser puro

como o retrato dos anjos.

Sunday, June 10, 2007

Wednesday, May 30, 2007

Um Clássico

Um dos grandes sonetos (de métrica alexandrina) da Literatura Evangélica,
de Mário Barreto França



SER CRENTE

Ser crente é descansar, num Deus que é caridade,
A esperança que alenta e a fé que nos redime;
É sentir dentro d'alma essa doce vontade
De semear o bem, de combater o crime...

Ser crente é refletir de Jesus a humildade
Para os outros vivendo em renúncia sublime;
É ter sempre um consolo à dor que ao peito invade,
É ter sempre um conforto à tristeza que oprime...

Ser crente é conquistar para Deus que perdoa,
De uma existência má para uma vida boa,
O coração que sofre ao peso de um labéu.

Ser crente é possuir como prêmio fecundo
O encanto de viver e ser feliz no mundo,
A glória de morrer e ser feliz no céu.

Wednesday, May 23, 2007

Passagem para o Céu



O Pr.Carlos Baptista, Director da revista «Novas de Alegria», amigo pessoal há três décadas, morreu. Morreu jovem. Foi chamado por Deus, a Quem serviu, sobretudo, nas áreas da comunicação social, teatro evangélico, poesia, etc. Desde o dia 18 de Maio que as pessoas, os lugares, as coisas literárias, onde colocava os seus olhos, estão hoje vazias.
A minha homenagem radica no espírito deste blog: papéis na gaveta. Com efeito, há 30 anos que guardava nos meus arquivos 17 folhas-autógrafo com poemas manuscritos do Carlos Baptista, enviados por ele. Provavelmente com a possibilidade de datação ecdótica de 1975(?). É uma dessas folhas que deixamos acima, como saudade!

Thursday, May 10, 2007

O Factor Bezerro de Ouro


O FACTOR BEZERRO DE OURO

BlockquoteO episódio do Bezerro de Ouro poderia ter representado, dramaticamente, o fim da história dos hebreus, salvaguardadas as devidas proporções quanto ao uso daquela designação dos finais do século XX.
No que diz respeito àquela expressão-o Fim da História-, que representa o fim dos processos históricos caracterizados como processos de mudança, é óbvio que não se pode aplicar ao incidente do Bezerro de Ouro. Nem as ideologias socialista e comunista, nem Fukuyama, nem o capitalismo, existiam ainda.
Não se daria, portanto, a queda de nenhuma ideologia, aconteceria, sim, uma aniquilação pura e simples de todo um povo, com a sua religião, a sua economia, a sua sociedade, a sua cultura próprias.
Provenientes de um sincretismo pagão, por assim dizer, estavam agora de posse da Ideia do Deus Único, e deveriam pautar sua cultura, sua conduta social, sua economia e, acima de tudo, a sua religião, subordinando-as à Revelação do Deus Único.
Esse momento de ruptura com a Revelação, esse episódio dramático de idolatria, acabou por dar lugar a outra coisa, ao tremendo paradigma do Perdão.
(Artigo em preparação para Portal Evangélico e revista Novas de Alegria)

Sunday, April 29, 2007

Prémio Cervantes 2007

UN ÁNGEL GÓTICO

Inmóvil, claramente
inhumano en la
pura catedral
vive un ángel.
Un ángel no tiene ojos.
Un ángel no tiene sangre.
Él no vive en la vida, él no vive
en la muerte, él está
vivo en la belleza.

(Antonio Gamoneda)

Thursday, April 26, 2007

A pressa do Cântico Negro

José Régio escreveu versos nos quais é evidente o tempo poético.
Vagaroso, no deslizar de alguns dos seus poemas mais conhecidos, triturou o tempo com repetições - «Toada de Portalegre»-, ou foi demasiadamente rápido, como nos primeiros versos de um dos poemas maiores da nossa língua - «Cântico Negro».
Situado entre o presencismo intimista e uma espécie de neo-realismo com preocupações de ordem social, é, do meu ponto de vista, um poema estruturado entre a psicologia e a religião.
Os poemas de Régio distinguem-se por isso mesmo, ficam entre a categoria telúrica e a religiosa.
Com efeito, o poema «Cântico Negro», que marcou a recusa à imposição, ao assédio, pelos vistos insistente, do «Vem por aqui», é, sem dúvida, um desses em que o intimismo e a dúvida do poeta cede psicologicamente à pressão do telúrico, das raízes da terra, deslizando pelo religioso, mas com uma força e violência tais, que nos parece ter afastado Régio de toda a sua religiosidade.
Assim o entendemos na indiferença da apoteose dos versos finais do célebre poema:Não sei por onde vou. / Não sei para onde vou. /Sei que não vou por aí.
Contudo, é no desenvolvimento contextual dos primeiros versos do poema em causa, que se acentua a pressa do poeta de Vila do Conde. Pressa em se afastar do ponto de viragem, no qual o assediam a entrar e em cujo caminho quase o obrigam a seguir, usando olhares doces, segundo a crítica do Poeta:
Quando me dizem «vem por aqui!»Eu olho-os com olhos lassos,(...)E cruzo os braços, E nunca vou por ali.
Não há elipses na linguagem, nem tautologias, regressos ao princípio, nestes seus versos, repetições tais como em «Portalegre cidade do Alto Alentejo».
Eles fogem às pressões que rodeavam o poeta, resistem ao chamamento de quantos pareciam ter moralidade e ciência bastantes para o aconselhar.
Este poema é, sobretudo, um poema de fuga, e fuga em frente. E o rasto que deixa é um claro desafio aos homens e uma espécie de pugna com o Divino, como a luta de Jacob com o Anjo no Vau de Jaboque.
A pressa da fuga, detectamô-la no oitavo verso, por uma categoria gramatical tão simples quanto o comum advérbio de lugar.
Veja-se a distinção e o tempo a fluir, o tempo que não se compadece com indecisões, no momento preciso em que o chamam: Vem por aqui ( por este lado); mas Régio continua a afastar-se da proposta, seguindo o seu próprio caminho, não reconhecendo autoridade àqueles que o assediam, e afirma, já distante: E nunca vou por ali.
Entre o «aqui» e o «ali» existem um universo e um tempo de coisas indizíveis. Ou apenas um minuto de permanente rebeldia poética. (c) J.T.Parreira

Monday, April 23, 2007

O Bom Samaritano

Tive fome de pão e puseste a minha mesa
numa toalha em linho derramada
a sede, tive-a como um dia quente
a ondular entre os lábios e a água
e ungiste meu corpo com um óleo
quando a noite oxidou as minhas chagas
estive ao frio e teus vestidos coloriram
a palidez da minha carne nua
e na tua cama inclinei os meus ouvidos
os teus móveis abriram gavetas
para os meus cristais de chuva.

Sunday, April 22, 2007

Artigo a sair em «Novas de Alegria» e no...

Portal da Aliança Evangélica.


Blockquote OU ISTO...OU AQUILO

Absortas com os desafios da contemporaneidade, tais como o individualismo, o excesso do consumo e o da tecnologia, a ética hedonista e o relativismo religioso, que são poderes no mundo contemporâneo, as pessoas esquecem-se que o sincretismo actual não privilegia a escolha(…)A hiper-modernidade – a expressão do agrado do filósofo judeu-francês Giles Lipovetzy - admite e ensina que com tudo se pode conviver, tudo se pode aceitar, desde que tudo se coloque sob os olhos do relativismo.

Wednesday, April 11, 2007

Ciclo: Desafios da Contemporaneidade às Religiões

BlockquoteDentro de um grupo vasto de actividades na área de Ciência das Religiões promovidas pela Universidade Lusófona, vimos anunciar a realização do Ciclo: Desafios da Contemporaneidade às Religiões.
Este ciclo decorrerá ao longo dos meses de Abril a Dezembro de 2007, e no próximo dia 13 terá lugar, como abertura, a conferencia dedicada ao Mundo Evangélico:
- Desafios ao Mundo Evangélico - 13 de Abril: Arq. Samuel Pinheiro, Aliança Evangélica Dr. Timóteo Cavaco, Sec.-Geral da Sociedade Bíblica Portuguesa Moderação: Ptor. Paulo Branco, Assembleias de Deus, Assessor da Direcção da Lic. em Ciência das Religiões (Un. Lusófona)

Friday, April 06, 2007

Poesia

Jesus, Nazareno, três dias morto
Entre lençóis com os aromas
Do seu corpo reúne o ar
A mirra e o aloés

Sua alma desceu ao fundo
Dos velhos mortos, esqueceu
O grito da multidão
E milhares de olhos judeus
Esqueceu as mãos inúteis de Pilatos
Cobrindo-se de água inútil

Três dias morto
Até ao romper da pedra da manhã
Apenas o silêncio
Dentro do seu coração
Um corpo apenas fechado em sossego

Wednesday, April 04, 2007

Semana Santa

Gregorio Marrero/Associated Press
New Chávez Decree: Less Elbow-Bending
President Hugo Chávez of Venezuela has caused a public outcry by limiting alcohol sales for much of Holy Week.

Créditos: The New York Times, de hoje.

Thursday, March 29, 2007

Conto: Os Olhos de Judas I.

Judas I. tinha um olhar sempre enviesado e isso fazia com que os seus olhos, que esgueirava e fechava levemente ao dirigi-los para pessoas e coisas, ficassem muito escuros.
Somente vários séculos depois se deu por essa particularidade e foi um pintor renascentista que descobriu no seu olhar uma tendência para as sombras.
Ninguém se apercebera da profundidade dessa escuridão, durante aquele jantar, o ponto central onde recaiam os olhares de todos era sem dúvida o prato.
Um prato único, onde o cordeiro e o molho se tornavam pertença de todos, e onde as diferenças, tantas como os feitios dos doze que rodeavam a mesa, seriam as mãos dos comensais, retirando do mesmo prato o que era a comida da páscoa de todos, no seu significado límpido. O mistério daquela que iria ser a última ceia, estava, porém, na frase de Jesus.
-O que mete comigo a mão no prato, esse me há-de trair. - dissera Ele, sem tremor na voz, sem azedume, mas sublinhando cada palavra com uma tristeza que tinia como os cristais nos ouvidos dos díscipulos, como uma inevitabilidade.
Nesse momento, os olhos de Judas I. enviesaram-se, tomaram uma posição de defesa e, de soslaio, ficaram como duas rapozinhas entre arbustos.
Sabia mais do que todos os companheiros, já possuia o peso da traição, nessa última semana a sua vida já vivia de sombras.
A sua vida tinha sido até àquele dia um somatório de hipocrisias, que agora se desnudavam na fronteira entre o amor ao dinheiro e o desamor à missão do Mestre.
Pouco habituado com Jesus, como de resto os demais condíscipulos, a situações limite, o Mestre sempre lhes resolvera qualquer problema, estava agora no fio da navalha. E era a hipocrisia que aflorava no limite, pois conhecendo-se, também perguntara - «Porventura, sou eu, Senhor? -, fazendo coro com a inocência e a estupefacção dos companheiros, que estavam sentados naquela mesa.
Estava ali como no derradeiro acto da sua encenação hipócrita. Já traíra ao receber as trinta moedas de prata e continuaria a trair ao responder ao gesto de amizade e de deferência do Mestre, respeitador dos usos e costumes da Palestina, quando distribuia pedaços de pão ensopados de molho aos seus convidados.
Por isso não pode deixar de receber a frase «o que mete comigo a mão no prato, esse me há-de trair », escondendo os seus olhos no soslaio da sombra, fazendo apenas avançar a sua mão na ponta de um braço que mais parecia uma lança, arremessada ao peito de Jesus, para receber o pedaço do pão da harmonia, que para ele poderia ter sido, mas não foi, que foi o pedaço final da composição do seu carácter de traidor.
A claridade do aviso de Jesus, não o arrancaria do seu refúgio na sombra, apenas lhe fez semi-fechar ainda mais os olhos, gelando-os.
-Ai do homem por quem eu sou traído! Bom seria para esse homem se não houvera nascido.
O hebraismo da frase continha toda a inevitabilidade da profecia e os olhos de Judas I. já não tiveram tempo de recusar fosse o que fosse, nem o seu coração.

Praia de Mira, 8-2003

Wednesday, March 21, 2007

Dia Mundial da Poesia

No dia 21/4/1956, na Alameda, aos 9 anos

ESPELHO ÀS 9:30 DA MANHÃ

para Charles Bukowski

Isto parece um rosto
de 60 anos? Rusgas
dos olhos pelos ângulos
escondidos na face
do espelho.
Procuram vestígios
do menino com meias altas
e braços caídos, um
terminando numa Bíblia,
na fotografia à la minute.
Um desalento. A respiração
no espelho
espalha o nevoeiro
e esconde
as minhas formas interiores.

15-3-2007

Monday, March 19, 2007

Poeti Italiani

lunedì, marzo 19, 2007

Joào Tomas Parreira
Pubblicate su Poeti italiani, toscani e pisani le nuove belle, intense e profonde poesie di Tomas Parreira, poeta portoghese, nato a Lisbona, 1947.
e www.papeisnagaveta.blogspot.com
# posted by Alberto @ lunedì, marzo 19, 2007

À espera da Morte


La imagen de ese buitre acechando a una niña moribunda en África le persiguió en vida. Con ella atrapó el Pulitzer, pero también la maldición de una pregunta: “¿Qué hiciste para ayudarla?”. A Kevin Carter, cronista gráfico de la Suráfrica del 'apartheid', la presión le empujó al suicidio. Un periodista testigo de aquellos años rememora su figura.
Créditos: El Pais, de hoje, Dia do Pai

Monday, March 12, 2007

As Prisões dos Judeus


Existem hoje cerca de 15 milhões de judeus em todo o mundo. O mesmo censo demográfico indica que apenas cinco milhões vivem em Israel.
Fora ou dentro do seu espaço, os judeus estão condenados a sê-lo. E também o seu Estado de Israel.
O judaismo impôs sempre aos hebreus um comportamento sacro e moral. Certo sábio rabino no chamado Sínodo de Yabneh ou Jamnia, no século I, disse que “a Torah foi dada no Monte Sinai e nos foram dados métodos de exegese, por isso a Torah não está mais no Céu, ela está aqui em Israel.”
Por isso, não se trata apenas de um conceito novo do pós-modernismo, segundo o qual os judeus estão prisioneiros, na sua mente, por causa das suas raízes e origens bíblicas, realmente os muros dessa prisão são «a essência, a eternidade e o absoluto», estão cativos do próprio Deus.
Em Fevereiro último, o fundador da Le Nouvel Observateur, o jornalista Jean Daniel, oriundo de judeus sefarditas, escreveu sobre essa alegada prisão judia, assegurando que «pode-se sair da religião, mas nunca se sai do povo judeu e de seu destino único, mesmo que a gente se declare não crente.»
A identidade dos judeus é alvo de objecções e fala-se unicamente da sua cidadania política e da sua posse territorial. Tomando a base bíblica, incontornável, os israelitas, mesmo hoje, são oriundos de uma identidade e não podem ser desapossados do seu espaço físico, a Palestina. São simultaneamnte o povo do Velho Testamento, a nação à qual Jesus Cristo veio ofertar primeiramente a Salvação, e território peculiar. A religião judaica, mais tarde chamada Talmúdica, essa, é outra categoria. A questão judaica hoje já não inclui exclusivamente o judaísmo. Por isso existem judeus-ateus, judeus-não crentes, e o que seria uma contradição nos termos, é actualmente uma realidade. Mas ainda assim, o judaísmo -o seu credo judaico, ou talvez melhor, talmúdico, resumido à profundidade dos seus Treze Princípios formulados por Maimónides no século XII- prende os judeus a uma forma, não de culto ou ritual mosaico, mas mental.

Sunday, March 04, 2007

NYT: O Medo dos ataques terroristas

In The New York Times de hoje:
Design Strikes a Defensive Posture

New urban architecture applies its art to self-defense, in the face of fears of attack. Call it modern medievalism.

Monday, February 26, 2007

O Condutor

Tosse
como o último ruído
da ligação ao mundo
fixa o olhar no silêncio, como se esperasse
de uma fonte a cristalina música da água
Não vemos, mas pensa
em cada um dos instrumentos
e estende os braços
Depois os olhos e ouvidos
seguem as mãos
do tamanho da Infinita mão.

Tuesday, February 13, 2007

O anjo exterminador

Ninguém o viu. O anjo das dez
pragas do Egipto. Era um raio
que passava a noite a limpo
as asas como gládios que cortavam
os corpos, o ar, onde passavam
nem um sorriso para o solo
árido, nem um aceno de olhos
voando rumo aos astros.
Era um anjo que ainda irrompe
nos sonhos da Terra, solitário.

Thursday, February 08, 2007

Influências

Celso Albuquerque, 1931- poeta, médico, evangélico brasileiro, em entrevista à Algaravária:
BlockquoteQuais livros fizeram parte de sua formação?

No começo, seletas de Augusto dos Anjos, Cruz e Souza e Vinicius de Moraes. Depois encontrei García Lorca, essencial para mim, junto com Jorge Luís Borges, John Keats, Murilo Mendes e, em prosa, Albert Camus, Cervantes, o próprio Borges, entre outros. Tudo o que eu leio faz parte do escritor sempre em formação, incluindo textos contemporâneos, como Virna Teixeira, Rodrigo Garcia Lopes, J. T. Parreira, entre outros.

Wednesday, January 31, 2007

Os genes de Deus

O referendo do dia 11 de Fevereiro é fundamentalmente para introduzir uma alteração no Código Penal, dizem eminentes juristas.
Diz-se, na campanha que agora abriu para o Não e para o Sim, que se trata de despenalizar, ou diz-se que se trata, dada a formulação da pergunta, de liberalizar, de tornar o aborto livre até às 10 semanas. Esta é, do nosso ponto de vista, a grande verdade que ultrapassa o próprio Não e desmascara o Sim.
Por isso, o referendo do dia 11 é também para alterar os nossos valores judaico-cristãos e a nossa postura ética perante a Vida.
Uns chamam ao embrião Vida Humana, o bébé que a ecografia já mostra naquele «referendável» número de semanas. Outros, como a inefável e desinspirada escritora Lidia Jorge, chamam-lhe essa coisa humana. Podemos, perante tantas palavras, chamar-lhe os Genes de Deus. É irrefutavelmente contra estes que está quem queira liberalizar o aborto sem quaisquer causas in limite, que a legislação em vigor já consagra desde 1983.

Do ponto de vista teológico o homem foi criado à imagem e conforme a semelhança de Deus e cada concepção terá sempre essa marca divina.
O homem possui vida proveniente de Deus e nisto está a sua indiscutível dignidade.
Por esta razão, no plano biológico e filosófico, não se estranha que a bioética se tenha vindo a dedicar a investigações segundo as quais se propõe a relação entre o ADN e a espiritualidade no ser humano. Ou seja, que a propensão para a religião de cada pessoa depende da sua constituição genética. É este o conteúdo que uma obra saída em Espanha este mês vem colocar como sendo do maior interesse, o livro é El gene de Dios e o seu autor o microbiólogo de prestígio Dean Hamer.
Como criacionistas bíblicos temos que admitir que em cada ser humano existem os genes de Deus.
A revista Time de 25\10\04 publicou um dossier sobre a matéria, intitulando-a como The God Genes. Este assunto de capa que a revista editou, vinha do seguimento ao livro do biólogo molecular Hamer, que saira nesse mesmo ano nos Estados Unidos.
A questão resumia-se em saber se os seres humanos estão geneticamente preparados para crêr em Deus. Ou como o autor perguntava na capa do seu livro: «Como é que a Fé está programada nos nossos genes?» Apontava assim uma base genética para a espiritualidade humana.
No livro bíblico do Eclesiastes, 3, 11, lemos:«Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem». Os cientistas da genética não discordam no século XXI em substituir a frase de Eclesiastes «coração do homem» por «genes do homem». Parece que a pesquisa está agora em descobrir-se esses genes.De qualquer modo, o aborto (ou interrupção voluntária da gravidez) (legalizado ou clandestino, liberalizado ou com os limites plausíveis consignados na legislação) está contra os genes de Deus.

Monday, January 29, 2007

O Livro da Fundação de Tudo


A Bíblia Sagrada enquanto Obra do Verbo divino é colocada, não poucas vezes no estricto senso cultural, ao lado de obras fundadoras como as de Homero ou Sófocles, Dante ou Shakespeare. Pelo menos na opinião de Harold Bloom no «Cânone Ocidental»
Tratar-se-á de uma mera aproximação, porque o que é paradigmático e paradigma sagrado não é comparável.
Sem dúvida que é uma das fontes do conhecimento antigo e moderno da Humanidade. Mas a sua superioridade e carácter único sobrelevam a tudo o que literariamente se conhece nas áreas da historiografia, antropologia, ciências socias, legislação, poesia, prosa epistolar, etc.
O problema da percepção espiritual do texto bíblico, mesmo do narrativo-histórico como o dos Actos, por exemplo, está colocado na leitura ao mesmo nível da percepção histórica ou da contextualização dos factos do mesmo texto sagrado, e como exemplo temos, sem dúvida, a célebre pergunta de Filipe ao Eunuco: «Entendes tu o que lês?»
Não temos que ter a veleidade de exigir que as variadas literaturas universais estejam em perfeita e total consonância com a Bíblia Sagrada no seu conteúdo doutrinário sobre Deus e Homem. A Palavra Divina aponta o caminho para a humanidade e para a sua relação com o divino, circunscreve os problemas do ser humano, apresenta a Solução espiritual para a alma humana. As literaturas universais a seu modo, colocam problemas, de um ponto de vista universal, e não soluções no seu campo de acção ficcional e discursivo. No entanto, ocorre-nos a justeza do pensamento de Jean Guitton, escritor e filósofo católico francês, «Deus não teme os opositores, teme os indiferentes.»
Um cristão evangélico consciente da sua Fé e da forma da mesma, preferirá sem dúvida Jean-Paul Sartre a Paulo Coelho, para usar seguramente dois pesos e duas medidas do ponto de vista literário.
A investigação das Escrituras Sagradas foi e continua a ser uma influência para tradições artísticas, filosóficas, estéticas e da própria narrativa literária mais tardia.

Thursday, January 18, 2007

O Grito, de Edvard Munch

O GRITO

Um grito escondido
deforma os nossos ouvidos


THE SCREAM OF MUNCH

A hidden scream
deformed our ears

in Poets.org e Literary Kicks (publicado nesta revista com destaque, foi posteriormente retirado(?)pelos editores)

Tuesday, January 02, 2007